quinta-feira, 30 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (29/03) feito por Santo Agostinho



Comentário do dia 
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja 
O Génesis em sentido literal, 4, 11-13 [21-24]

«Meu Pai trabalha incessantemente e Eu também trabalho em todo o tempo».

Gostaríamos de explicar como é possível compatibilizar o texto do Génesis onde está escrito que Deus repousou ao sétimo dia de todas as suas obras com o texto do evangelho onde o Senhor, por quem todas as coisas foram feitas, diz: «Meu Pai trabalha incessantemente e Eu também trabalho em todo o tempo». [...] A observância do sábado foi prescrita aos judeus para prefigurar o repouso espiritual que Deus prometeu aos fiéis que fizessem boas obras, repouso cujo mistério o Senhor Jesus Cristo confirmou com a sua sepultura, porque foi num dia de sábado que Ele repousou no túmulo, [...] depois de ter consumado todas as suas obras. 

Podemos pensar que Deus repousou de ter criado os diversos géneros de criaturas, porque não voltou a criar novos géneros; mas [...] nem neste sétimo dia deixou de governar o céu, a terra e todos os outros seres que tinha criado, pois de outra maneira eles ter-se-iam diluído no nada. Porque o poder do Criador, a força do Omnipotente, é a causa pela qual subsistem todas as criaturas. [...] Com efeito, não se passa com Deus o mesmo que com um arquiteto, que, concluída a casa, se afasta e [...] a obra subsiste. Pelo contrário, o mundo não poderia subsistir, um instante que fosse, se Deus lhe retirasse o seu apoio. [...] 

É isto que afirma o apóstolo Paulo quando pretende anunciar Deus aos atenienses: «Nele vivemos, nos movemos e somos» (At 17,28). [...] Com efeito, não somos em Deus como a sua própria substância, no sentido em que é dito que Ele «tem a vida em Si mesmo»; mas, sendo algo diferente dele, só podemos ser nele porque Ele age desta maneira: «A sua sabedoria estende-se de um extremo ao outro do mundo e governa o universo» (Sb 8,1). [...] Nós vemos as obras boas que Deus fez (Gn 1,31). e veremos o seu repouso depois de termos realizado as nossas próprias obras boas.

Fonte: Evangelho Quotidiano

quarta-feira, 29 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (30/03) feito por Santo Efrém


Comentário do dia 
Santo Efrém (c. 306-373), diácono da Síria, doutor da Igreja 
Comentário ao evangelho concordante, 1,18-19; SC 121

«Examinais as Escrituras [...]; são elas que dão testemunho de Mim»

A palavra de Deus é uma árvore de vida que estende para ti os seus ramos benéficos; ela é como a rocha aberta no deserto, que se torna para todo o homem, de todos os pontos da Terra, bebida espiritual: «comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da mesma bebida espiritual» (1Cor 10.3-4; Ex 17,1s.). 

Aquele a quem é concedida alguma destas riquezas não deve pensar que a palavra de Deus se limita ao que ele nela encontra; pelo contrário, deve perceber que foi ele que só soube descobrir nela uma coisa, entre muitas outras. Enriquecido pela palavra, não deve pensar que foi ela que empobreceu; incapaz de esgotar as suas riquezas, deve dar graças pela sua magnitude. Alegra-te porque foste saciado, mas não te entristeças porque a riqueza da palavra te ultrapassa. 

Aquele que tem sede alegra-se em beber, mas não se entristece com a sua incapacidade de esgotar a fonte. Mais vale que a fonte te esgote a sede, do que a tua sede esgote a fonte. Se a tua sede ficar saciada sem que a fonte seque, poderás voltar a beber sempre que tiveres sede. Pelo contrário, se esgotasses a fonte para te saciares, a tua vitória transformar-se-ia em tristeza. Dá graças por aquilo que recebeste e não murmures contra aquilo que não foi utilizado. Aquilo que tomaste e levaste é a tua parte; mas aquilo que resta também é uma herança tua.

Fonte: Evangelho Quotidiano

terça-feira, 28 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (29/03) feito por Santo Ambrósio



Comentário do dia 
Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, doutor da Igreja 
Sobre os mistérios, 24s (trad. breviário rev.)

«Queres ser curado?»

O paralítico da piscina de Betsatá esperava um homem [para o ajudar a descer à piscina]. Quem era esse homem, a não ser o Senhor Jesus, nascido da Virgem? Com a sua vinda, Ele não prefigurou apenas a cura de algumas pessoas; Ele era a própria verdade que cura todos os homens. Por conseguinte, era Ele que se esperava que descesse, Ele de quem Deus Pai disse a João Batista: «Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é que batiza no Espírito Santo» (Jo 1,33). [...] Então, porque desceu o Espírito como uma pomba, se não para que tu a visses e reconhecesses que a pomba enviada da arca por Noé, o justo, era uma imagem desta outra pomba, de modo que nela reconhecesses a prefiguração do sacramento do batismo? [...]

Podes estar ainda na dúvida, quando o Pai proclama para ti de maneira indubitável no evangelho: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado» (Mt 3, 17); quando o Filho o proclama, Ele sobre quem o Espírito Santo se manifestou sob forma de pomba; quando o Espírito Santo também o proclama, Ele que desceu sob forma de pomba; quando David o proclama: «A voz do Senhor ressoa sobre as águas, o Deus glorioso faz ecoar o seu trovão, o Senhor está sobre a vastidão das águas» (Sl 28,3)? A Escritura atesta também que, às preces de Gedeão, o fogo desceu do céu; e que, à prece de Elias, o fogo foi enviado para consagrar o sacrifício (Jz 6,21; 1Rs 18,38).

Não consideres o mérito pessoal dos sacerdotes, mas a sua função [...]. Por conseguinte, acredita que o Senhor Jesus está lá, invocado pela oração dos sacerdotes, Ele que disse: «Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18,20). Por maioria de razão, onde está a Igreja, onde estão os mistérios, é lá que Ele Se digna conceder-nos a sua presença. Desceste ao batistério. Recorda o que disseste: que crês no Pai, que crês no Filho, que crês no Espírito Santo. [...] Pelo mesmo compromisso da tua palavra, quiseste crer no Filho tal como crês no Pai, acreditar no Espírito Santo como crês no Filho, apenas com a diferença de que professas que é necessário crer na cruz do único Senhor Jesus.

Fonte: Evangelho Quotidiano

A oração de um carmelita para a Quaresma


Precisamos “mergulhar”, “descer sempre mais”, “fazer uma viagem” ao interior de nossa alma, porque, se estamos em estado de graça, é aí que mora o Senhor.

É uma especialidade da Ordem do Carmo fazer-nos entrar em contato com Deus no mais íntimo de nosso ser — experiência que é, na verdade, fundamental para a fé cristã, e que foi condensada por Santo Agostinho na famosa frase de suas Confissões: "Eis que estavas dentro, e eu fora" (X, 27, 38). Santa Teresa d'Ávila comparava a alma do justo, por exemplo, a um jardim onde Deus encontra as suas delícias; Santa Teresinha do Menino Jesus, por sua vez, cantava a alegria de ter encontrado "o Céu na terra" — nada menos que Deus morando em seu coração; e Santa Elisabete da Trindadenão tomou este nome senão para honrar a inabitação trinitária em si.

A Quaresma, tempo de profunda interiorização, nada mais é que um resgate sempre necessário, portanto, do que precisamos fazer por toda a nossa vida: "mergulhar", "descer sempre mais", "fazer uma viagem" para dentro de nossa alma, até encontrarmos Aquele que é mais íntimo que o que há de mais íntimo de nós, para usar outra expressão agostiniana (cf. Confissões, III, 6, 11).

Um outro carmelita que compreendeu, viveu e transmitiu essa verdade foi o Beato Francisco Palau, sacerdote espanhol do século XIX e beatificado em 1988. São de sua pena, a propósito, as expressões "mergulhar" e "descer sempre mais", colhidas da seguinte oração para a Quaresma, a qual compartilhamos com todos os nossos visitantes:
Senhor, 
nesta Quaresma, 
tempo de mergulhar no meu interior, 
de revisão e de conversão, 
ensina-me a descer sempre mais 
até onde Tu te encontras: o meu coração. 

Como "descer" até aí? 
Pelo silêncio, encontrando tempo para rezar, 
pela leitura da Tua Palavra que tanto me quer dizer, 
pelos Sacramentos, 
especialmente a Confissão e a Santa Missa. 

Também pela aceitação das contrariedades, 
o peso das circunstâncias e da monotonia da vida… 
com os olhos postos em Ti. 

Senhor, Tu que estás no meu íntimo, 
ajuda-me nesta Quaresma, 
a fazer uma viagem ao meu interior, 
para aí me encontrar conTigo!

Que possamos, pela intercessão do bem-aventurado Francisco Palau, transformar essa brevíssima prece em um verdadeiro "projeto de vida": procurando a Deus, de fato, pelo silêncio, pela leitura da Palavra de Deus, pelos Sacramentos e pela aceitação das contrariedades, seguramente estaremos no caminho da perfeição.

Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Fonte: padrepauloricardo.org

segunda-feira, 27 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (27/03) feito por São Gregório de Narek



Comentário do dia 
São Gregório de Narek (c. 944-c. 1010), monge, poeta arménio 
O Livro das Orações, 12, 1; SC 78, 102

«Se não virdes sinais e prodígios, não acreditareis».

«Todo aquele que invocar o nome do Senhor 
será salvo» (Jl 3,5; Rom 10,13). 
Quanto a mim, não só O invoco 
mas, acima de tudo, creio na sua grandeza. 

Não é pelos seus dons 
que persevero nas minhas súplicas: 
é porque Ele é a vida verdadeira 
e é nele que respiro; 
sem Ele não há movimento nem progresso. 

Não são tanto os laços de esperança, 
mas os laços do amor que me atraem. 
Não é dos dons, 
é do Doador que tenho perpétua nostalgia. 
Não é à glória que aspiro, 
é ao Senhor glorificado que quero abraçar. 
Não é de sede da vida que constantemente me consumo, 
é da lembrança daquele que dá a vida. 

Não é pelo desejo de felicidade que suspiro, 
que do mais profundo do meu coração rompo em soluços; 
é porque anelo por Aquele que a prepara. 
Não é o repouso que procuro, 
é a face daquele que aquietará o meu coração suplicante. 
Não é por causa do festim nupcial que feneço, 
é pelo anseio do Esposo. 

Na expetativa segura do seu poder 
apesar do fardo dos meus pecados, 
creio, com esperança inabalável, 
que, confiando-me na mão do Todo-Poderoso, 
não somente obterei o perdão 
mas O verei em pessoa, 
pela sua misericórdia e a sua piedade 
e que, conquanto mereça ser proscrito, 
herdarei o Céu.

Fonte: Evangelho Quotidiano

domingo, 26 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (26/03, Domingo Laetare) feito por Santo Irineu de Lyon


Comentário do dia 
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo, mártir 
Contra as Heresias

«Ele é a imagem do Deus invisível [...]; nele tudo foi criado [...]; tudo foi criado por Ele e para Ele» (Col 1,15-16)

Quando se tratou do cego de nascença, não foi só por uma palavra, mas por uma ação, que o Senhor lhe concedeu a vista. Ele não agiu assim sem razão nem por acaso, mas para que conhecêssemos a mão de Deus que, no princípio tinha modelado o homem. Por isso, quando os discípulos Lhe perguntaram de quem era a culpa de aquele homem ser cego, dele mesmo ou de seus pais, o Senhor declarou: «Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou dos pais; mas aconteceu assim para se manifestarem nele as obras de Deus». Estas «obras de Deus» são, primeiro que tudo, a criação do homem, que a Escritura descreve como uma ação: «E Deus tomou um pouco de argila e modelou o homem» (Gn 2,7). Foi por isso que o Senhor cuspiu no chão, fez lama e ungiu os olhos do cego: para mostrar de que modo se tinha realizado a moldagem inicial e, para aqueles que eram capazes de compreender, manifestar a mão de Deus, que tinha esculpido o homem a partir da argila. [...] 

E porque, nesta carne modelada em Adão, o homem tinha caído na transgressão e precisava do banho do novo nascimento (Tt 3,5), o Senhor disse ao cego, após ter-lhe untado os olhos com a lama: «Vai lavar-te à piscina de Siloé». Concedia-lhe assim, ao mesmo tempo, a remodelagem e a regeneração operada pelo banho. Desta forma, depois de se ter lavado, «ele ficou a ver», a fim de reconhecer Aquele que o tinha remodelado e de aprender quem era o Senhor que lhe tinha dado a vida. [...] 

Assim, Aquele que, no princípio, tinha modelado Adão, e a quem o Pai tinha dito: «Façamos o homem à nossa imagem e semelhança» (Gn 1,26), esse mesmo manifestou-Se aos homens no fim dos tempos e remodelou os olhos deste descendente de Adão. 

Fonte: Evangelho Quotidiano

sábado, 25 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (25/03, Anunciação do Senhor) por Santa Clara de Assis


Anunciação do senhor, solenidade

Comentário do dia 
Santa Clara (1193-1252), monja franciscana 
3.ª carta a Inês de Praga, 18-26

Morada de Deus

Agarra-te a esta doce Mãe que trouxe ao mundo o Filho que os céus não tinham capacidade para conter; mas Ela conteve-O no pequeno claustro do seu ventre, e trouxe-O no seu seio virginal. 

Quem deixaria de se afastar com horror do inimigo do género humano e de todas as suas ciladas? Ele agita diante dos nossos olhos o prestígio de glórias efémeras e enganosas, esforçando-se por reduzir a nada aquilo que é maior que o céu. Porque a alma de um fiel, que é a mais digna de todas as criaturas, torna-se evidentemente, pela graça de Deus, maior que o céu: pois só ela se torna morada desse Criador que os céus imensos e todas as outras criaturas não são capazes de conter. Para tal, basta que possua aquilo que os ímpios recusam: a caridade. Dá testemunho disso mesmo Aquele que é a própria verdade: «Quem Me tiver amor será amado por meu Pai, e Eu o amarei [...], e Nós viremos a ele e nele faremos morada» (Jo 14,21.23). 

Assim, pois, como a gloriosa Virgem das virgens O trouxe materialmente no seu seio, assim também tu O podes trazer sempre, de forma espiritual no teu corpo casto e virginal, se seguires as suas pegadas, em especial a sua humildade e a sua pobreza; poderás conter em ti o céu que te contém, a ti e a todo o universo; possuí-Lo-ás de forma bem mais real e mais concreta do que poderias possuir os bens perecíveis deste mundo.

Fonte: Evangelho Quotidiano

sexta-feira, 24 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (24/03) pro São Cesário de Arles, monge e bispo


Comentário do dia 
São Cesário de Arles (470-543), monge, bispo 
Sermão 22; SC 243

Amor de Deus, amor do próximo

Escreve o apóstolo Paulo: «O objetivo desta recomendação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera» (1Tim 1,5). [...] De facto, irmãos caríssimos, não há coisa mais doce que o amor, que a caridade. Aqueles que não o conhecem provem e vejam. E o que têm eles de provar para saborearem a doçura da caridade? «Provai e vede como o Senhor é bom» (Sl 33,9), porque «Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele» (1Jo 4,16). [...] 

Se tiveres amor, possuirás Deus e, se possuíres Deus, que te faltará? Que possui o rico, se não tiver amor? Que falta ao pobre, se tiver amor? Pensas talvez que é rico aquele que tem o cofre cheio de ouro? [...] Não tens razão, porque verdadeiramente rico é aquele em quem Deus Se digna habitar. Que poderás tu ignorar acerca das Escrituras a partir do momento em que o amor, quer dizer, Deus, começou a possuir-te? Que boa ação estarás impedido de fazer se fores digno de guardar no teu coração a fonte de todos os benefícios? Que adversário temerás, se mereceres ter Deus em ti como rei? [...] 

Mantende, pois, irmãos bem-amados, o elo suave e salutar da caridade (cf Col 3,14). Antes de mais, contudo, mantende o verdadeiro amor, que não é aquele que se promete com palavras sem se observar no coração (1Jo 3,18), mas aquele que se exprime em palavras porque permanece sempre no nosso coração. [...] Pois a raiz de todos os bens é a caridade, assim como «a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro» (1Tim 6,10).

Fonte: Evangelho Quotidiano

quinta-feira, 23 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (23/03) retirado do Catecismo da Igreja Católica


Comentário do dia 
Catecismo da Igreja Católica 
§§ 547-550

«O Reino de Deus chegou até vós»

Jesus acompanha as suas palavras com numerosos «milagres, prodígios e sinais» (At 2,22), os quais manifestam que o Reino está presente nele e comprovam que Ele é o Messias anunciado. Os sinais realizados por Jesus testemunham que o Pai O enviou e convidam a crer nele. Aos que se Lhe dirigem com fé, concede-lhes o que pedem. Assim, os milagres fortificam a fé naquele que faz as obras de seu Pai: testemunham que Ele é o Filho de Deus. Mas também podem ser «ocasião de queda» (Mt 11,6). Eles não pretendem satisfazer a curiosidade nem desejos mágicos. Apesar de os seus milagres serem tão evidentes, Jesus é rejeitado por alguns; chega mesmo a ser acusado de agir pelo poder dos demónios. 

Ao libertar certos homens dos seus males terrenos – da fome, da injustiça, da doença e da morte –, Jesus realizou sinais messiânicos; no entanto, Ele não veio para abolir todos os males deste mundo, mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os impede de realizar a sua vocação de filhos de Deus e é causa de todas as servidões humanas. 

A vinda do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: «Se é pelo Espírito de Deus que Eu expulso os demónios, então é porque o Reino de Deus chegou até vós» (Mt 12,28). Os exorcismos de Jesus libertam os homens do poder dos demónios, e antecipam a grande vitória de Jesus sobre «o príncipe deste mundo» (Jo 12,31). É pela cruz de Cristo que o Reino de Deus vai ser definitivamente estabelecido: «Regnavit a ligno Deus – Deus reinou desde o madeiro» (V. Fortunato).

Fonte: Evangelho Quotidiano


quarta-feira, 22 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (22/03) retirado do Catecismo da Igreja Católica


Comentário do dia
Catecismo da Igreja Católica
§§ 1961-1967

«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar.»

Deus, nosso Criador e nosso Redentor, escolheu Israel como seu povo e revelou-lhe a sua Lei, preparando assim a vinda de Cristo. [...] A Lei antiga é o primeiro estádio da lei revelada. As suas prescrições morais estão compendiadas nos dez mandamentos. Os preceitos do Decálogo assentam os alicerces da vocação do homem, feito à imagem de Deus: proíbem o que é contrário ao amor de Deus e do próximo e prescrevem o que lhe é essencial. O Decálogo é uma luz oferecida à consciência de todo o homem, para lhe manifestar o apelo e os caminhos de Deus e o proteger contra o mal: Deus «escreveu nas tábuas da Lei o que os homens não liam nos seus corações» (Santo Agostinho).

Segundo a tradição cristã, a Lei santa, espiritual e boa, é ainda imperfeita (Rom 7,12s). Como um pedagogo (Gal 3,24), mostra o que se deve fazer; mas, por si, não dá a força, a graça do Espírito para ser cumprida. Por causa do pecado, que não pode anular, não deixa de ser uma lei de escravidão. [...] A Lei antiga é uma preparação para o Evangelho.

A lei nova ou lei evangélica é a perfeição, na Terra, da Lei divina, natural e revelada. É obra de Cristo e tem a sua expressão, de modo particular, no sermão da montanha. É também obra do Espírito Santo e, por Ele, torna-se a lei interior da caridade: «Estabelecerei com a casa de Israel uma aliança nova [...]. Hei-de imprimir as minhas leis no seu espírito e gravá-las no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo» (Heb 8,8-10).

A lei nova é a graça do Espírito Santo, dada aos fiéis pela fé em Cristo. «Cumpre», apura, ultrapassa e leva à perfeição a Lei antiga. Nas bem-aventuranças (Mt 5,3s), cumpre as promessas divinas, elevando-as e ordenando-as ao «Reino dos céus». Esta lei dirige-se àqueles que estão dispostos a acolher com fé esta esperança nova: os pobres, os humildes, os aflitos, os corações puros, os perseguidos por causa de Cristo, traçando assim os surpreendentes caminhos do Reino.

Evangelho Quotidiano

terça-feira, 21 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (21/08) por Isaac, o Sírio

Comentário do dia 
Isaac o Sírio (século VII), monge perto de Mossul 
Discursos espirituais, 1.ª série, n.º 58

«Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?»

A compaixão, por um lado, e o juízo de simples equidade, por outro, se coexistem na mesma alma, são como um homem que adora Deus e os ídolos na mesma casa. A compaixão é o contrário do juízo de simples justiça. O juízo estritamente equitativo implica a igual repartição por todos de uma medida semelhante: dá a cada um o que ele merece, não mais; não se inclina nem para um lado nem para o outro, não discerne na retribuição. Mas a compaixão é suscitada pela graça, inclina-se sobre todos com a mesma afeição, evita a simples retribuição àqueles que são dignos de castigo e cumula para lá de qualquer medida os que são dignos do bem. 

A compaixão está, pois, do lado da justiça, enquanto o juízo apenas equitativo está do lado do mal. […] Assim como um grão de areia não pesa tanto como muito ouro, assim também a justiça equitativa de Deus não pesa tanto como a sua compaixão. Qual punhado de areia caindo no grande oceano, assim são as faltas de todas as criaturas em comparação com a providência e a piedade de Deus. E da mesma forma que uma nascente que corre com abundância não pode ser bloqueada por um punhado de pó, também a compaixão do Criador não pode ser vencida pela malícia das criaturas. Aquele que guarda ressentimento quando reza é como um homem que semeia no mar e espera colher.   
Fonte: Evangelho Quotidiano

segunda-feira, 20 de março de 2017

São José - Segundo Santos e Papas


São José, 
Segundo os Santos e Papas

Santo Afonso de Ligório (†1787) Doutor da Igreja, garantia que todo dom ou privilégio que Deus concedeu a outro Santo também o concedeu a São José.

São Francisco de Sales (†1655) Doutor da Igreja, diz que “São José ultrapassou, na pureza, os Anjos da mais alta hierarquia”.

São Francisco de Sales disse ainda: “Oh! que divina união entre Nossa Senhora e o glorioso São José; união que tornava José participante de todos os bens de sua cara Esposa e o fazia crescer maravilhosamente na perfeição, pela contínua comunicação com Ela, que possuía todas as virtudes em grau tão alto, que nenhuma criatura o pode atingir”.

São Jerônimo (†420) Doutor da Igreja, diz que: “José mereceu o nome de “Justo”, porque possuía de modo perfeito todas as virtudes”.

São Bernardo (†1153) Doutor da Igreja: “De sua vocação, considerai a multiplicidade, a excelência, a sublimidade dos dons sobrenaturais com que foi enriquecido por Deus”. Se S. José foi escolhido para Esposo de Maria, a mais santa de todas as mulheres, é porque ele era o mais santo de todos os homens. Se houvesse alguém mais santo que José, certamente seria este escolhido por Jesus para Esposo de Sua Mãe Maria. Nós não pudemos escolher nosso pai e nossa mãe, mas Jesus pôde, então, escolheu os melhores que existiam.

Testemunho de Santa Teresa de Ávila (†1582), doutora da Igreja, devotíssima de São José. No “Livro da Vida”, sua autobiografia, ela escreveu:
“Tomei por advogado e senhor ao glorioso São José e muito me encomendei a ele. Claramente vi que dessa necessidade, como de outras maiores referentes à honra e à perda da alma, esse pai e senhor meu salvou-me com maior lucro do que eu lhe sabia pedir. Não me recordo de lhe haver, até agora, suplicado graça que tenha deixado de obter. Coisa admirável são os grandes favores que Deus me tem feito por intermédio desse bem-aventurado santo, e os perigos de que me tem livrado, tanto do corpo como da alma. A outros santos parece o Senhor ter dado graça para socorrer numa determinada necessidade.” “Ao glorioso São José tenho experiência de que socorre em todas. O Senhor quer dar a entender com isso como lhe foi submisso na terra, onde São José, como pai adotivo, o podia mandar, assim no céu atende a todos os seus pedidos. Por experiência, o mesmo viram outras pessoas a quem eu aconselhava encomendar-se a ele. A todos quisera persuadir que fossem devotos desse glorioso santo, pela experiência que tenho de quantos bens alcança de Deus…De alguns anos para cá, no dia de sua festa, sempre lhe peço algum favor especial. Nunca deixei de ser atendida”.

São Basílio Magno (330-369) Doutor da Igreja, diz: “Ainda que José tratasse sua mulher com todo afeto e amor e com todo o cuidado próprio dos cônjuges, entretanto se abstiveram dos atos conjugais” (Tratado da Virgem Santíssima, BAC, Madri, 1952, p. 36).

São José é o patrono da boa morte: Santa Teresa, narrando a morte de suas filhas, devotas do Santo, dizia: “Tenho observado que, no momento de exalar o último suspiro, gozavam inefável paz e tranqüilidade; sua morte assemelhava-se ao doce repouso da oração. Nada indicava que estivessem interiormente agitadas por tentações. Essas divinas luzes me libertaram o coração do temor da morte. Morrer parece-me agora o que há de mais fácil para uma alma fiel”.

Em uma aparição a Santa Margarida de Cortona, disse Jesus: “Filha, se desejas fazer-me algo agradável, rogo-te não deixeis passar um dia sem render algum tributo de louvor e de bênção ao meu Pai adotivo São José, porque me é caríssimo”.

São Bernardo, doutor a Igreja confirma esse ensinamento dizendo: “Lembra-te do grande Patriarca vendido para o Egito, e sabe que ele não só lhe herdou o nome, mas imitou-lhe também a castidade, mereceu-lhe a inocência e a graça. E se aquele José, vendido por inveja dos irmãos e conduzido ao Egito, prefigurou a venda de Cristo, o nosso José, fugindo da inveja de Herodes, levou Cristo para o Egito”.

Papa Pio IX disse em 08 de Dezembro de 1870 na ocasião que proclamou São José Patrono universal da Igreja: “Entre São José e Deus não vemos e não devemos ver senão Maria, por sua divina Maternidade”. “São José, depois de Maria, é o maior de todos os Santos”. (Papa Pio IX) ou seja, São José é o santo escolhido por Deus para interceder pela Igreja do mundo inteiro.

O Papa Leão XIII disse na Encíclica Quamquam pluries: “Muitos Padres da Igreja, de acordo com a Sagrada Liturgia, acreditam que o antigo José, filho do Patriarca Jacó, tenha figurado a pessoa e o ministério do nosso São José, e simbolizado, com o seu esplendor, a grandeza e a glória do futuro Custódio da Sagrada Família.”

Papa Pio XII, em 1956, instituiu a festa de São José Operário, a ser celebrada em rito duplo de primeira classe no dia 1º de maio, Dia Universal do Trabalho. Proclamando este dia como sendo um dia de preceito, ou seja um dia santo que todos os Católicos devem ir a missa.

São João Paulo II em sua Exort. Apost. Redemptoris custos também nos fala sobre São José: “Precisamente em vista da sua contribuição para o mistério da Encarnação do Verbo, José e Maria receberam a graça de viverem juntos o carisma da virgindade e o dom do matrimônio. A comunhão de amor virginal de Maria e José, embora constitua um caso muito especial, ligado à realização concreta do mistério da Encarnação, foi todavia um verdadeiro matrimônio” .

VALEI-ME SÃO JOSÉ.
Rogai por nós, amém!

Créditos: José Henrique Naegele

Comentário ao Evangelho (20/03, Solenidade de São José, Esposo de Maria) por São João Paulo II


S. JOSÉ, esposo da Virgem Santa Maria, padroeiro da Igreja universal - Solenidade

Comentário do dia 
São João Paulo II (1920-2005), papa 
Redemptoris Custos, n.º 4

«Quando despertou do sono, José fez como lhe ordenara o Anjo do Senhor»

Ao iniciar a sua peregrinação, a fé de Maria encontra-se com a fé de José. Se Isabel disse da Mãe do Redentor: «Feliz daquela que acreditou», esta bem-aventurança pode, em certo sentido, ser referida também a José, porque, de modo análogo, ele respondeu afirmativamente à Palavra de Deus, quando esta lhe foi transmitida naquele momento decisivo. A bem da verdade, José não respondeu ao «anúncio» do anjo como Maria; mas «fez como lhe ordenara o Anjo do Senhor» e recebeu a sua esposa. Isto que ele fez é puríssima «obediência da fé» (cf Rom 1,5; 16,26; 2Cor 10,5-6). 

Pode dizer-se que aquilo que José fez o uniu, de uma maneira absolutamente especial, à fé de Maria: ele aceitou como verdade proveniente de Deus o que ela já tinha aceitado na anunciação. O Concílio ensina: «A Deus que revela é devida a "obediência da fé" [...]; pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus, prestando-Lhe "o obséquio pleno da inteligência e da vontade" e dando voluntário assentimento à sua revelação.» A frase acabada de citar, que diz respeito à própria essência da fé, aplica-se perfeitamente a José de Nazaré. 

Ele tornou-se, portanto, um depositário singular do mistério «escondido desde todos os séculos em Deus» (cf Ef 3,9), como se tornara Maria, naquele momento decisivo que é chamado pelo Apóstolo «plenitude dos tempos», quando «Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher [...] para resgatar os que se encontravam sob o jugo da lei e para que recebêssemos a adoção de filhos» (Gal 4,4-5). 

Deste mistério divino, juntamente com Maria, José é o primeiro depositário. [...] Tendo diante dos olhos os textos de ambos os evangelistas, S. Mateus e S. Lucas, pode também dizer-se que José foi o primeiro a participar na mesma fé da Mãe de Deus e que, procedendo deste modo, dá apoio à sua esposa na fé na anunciação divina. Ele foi o primeiro a ser posto por Deus no caminho da «peregrinação da fé» de Maria. [...] A caminhada própria de José, a sua peregrinação da fé terminaria antes. [...] E contudo, a caminhada da fé de José seguiu a mesma direção.

Fonte: Evangelho Quotidiano

domingo, 19 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (19/03, terceiro domingo da Quaresma) por Santo Agostinho


Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja 
Sermões sobre o evangelho de S. João, n.º 15, 6-7

Ele deu tudo por ti

Jesus, cansado do caminho, sentou-Se à beira do poço. Era cerca da hora sexta. Aí começam os mistérios. Não é sem razão que Jesus está cansado, Ele que é a força de Deus. [...] Foi por ti que Jesus Se cansou no caminho. Encontramos um Jesus que é a própria força; encontramos um Jesus que é fraco; um Jesus forte e fraco. Forte, porque «no princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus». [...] Queres ver a força de Deus? «Tudo foi feito por Ele e sem Ele nada foi feito» (Jo 1,1-2), e tudo fez sem esforço. Quem há mais forte do que Aquele que fez todo o universo sem esforço? Queres conhecer a sua fraqueza? «O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós» (Jo 1,14). 

A força de Cristo criou-te; a fraqueza de Cristo recriou-te. A força de Cristo deu existência ao que não era; a fraqueza de Cristo fez com que aquilo que era não perecesse. Ele criou-nos pela sua força e recuperou-nos pela sua fraqueza. É através da sua fraqueza que alimenta os que estão fracos, como a galinha alimenta os pintainhos: «Quantas vezes», diz Ele a Jerusalém, «quis reunir os teus filhos como a galinha recolhe os pintainhos debaixo das asas, e tu não o quiseste?» (Lc 13,34) 

Esta é a imagem da fraqueza de Jesus cansado do caminho. O seu caminho é a carne que tomou para nós. Que outro caminho havia de tomar Aquele que está presente em toda a parte? Aonde vai e de onde vem, senão a habitar entre nós, pois para isso encarnou? Com efeito, Ele dignou-Se vir até nós para Se manifestar na forma de servo, e o caminho que escolheu foi o de tomar a nossa carne. Daí que a «fadiga do caminho» mais não seja do que a fraqueza da carne. Jesus é fraco na sua carne, mas tu não deves deixar-te enfraquecer. Permanece forte na sua fraqueza, pois «o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens» ( 1Cor 1,25). A fraqueza de Cristo é a nossa força.

Fonte: Evangelho Quotidiano

sábado, 18 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (19/03) por Santo André de Creta


Comentário do dia 
Santo André de Creta (660-740), monge, bispo 
Grande cânone da liturgia ortodoxa para a quaresma, 1.ª ode

«E eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora»

Por onde começar a chorar o que fiz ao longo da vida? 
Quais serão os primeiros acordes desse canto de luto? 
Concede-me, ó Cristo, o perdão dos meus pecados. [...] 

Tal como o oleiro amassando a argila, 
Tu me deste, ó meu Criador, carne e ossos, espírito e vida. 
Senhor que me criaste, meu juiz e meu Salvador, 
Leva-me hoje de volta para Ti. 

Ó meu Salvador, diante de Ti confesso as minhas faltas: 
Caí sob os golpes do Inimigo. 
Eis as chagas com que os meus pensamentos assassinos, 
Quais salteadores, mutilaram a minha alma e o meu corpo (Lc 10,20s). 

Pequei, ó Salvador, mas sei que amas o homem. 
É a tua ternura que nos castiga 
E a tua misericórdia é como o fogo. 
Vês-me chorar e vens a mim 
Tal como o pai acolhe o filho pródigo. 

Desde a juventude, ó meu Salvador, desprezei os teus mandamentos. 
Passei a vida em paixões e inconsciências. 
Grito por ti: antes que chegue a morte, 
Salva-me. [...] 

Em coisas vãs dissipei o património da minha alma. 
Não colhi os frutos do fervor e tenho fome. 
E grito: Pai de ternura, vem a mim, 
Guarda-me na tua misericórdia. 

Aquele que os ladrões assaltaram (Lc 10,30s), 
Sou eu, no desvario dos meus pensamentos. 
Eles atacam-me e ferem-me. 
Inclina-Te Tu sobre mim, ó Cristo Salvador, e cura-me. 

O sacerdote viu-me e afastou-se. 
O levita viu-me, nu e a sofrer, e passou adiante. 
Mas Tu, Jesus nascido de Maria, 
Tu paras e socorres-me. [...] 

Lanço-me a teus pés, Jesus, 
Pequei contra o teu amor. 
Liberta-me deste fardo pesado demais 
E, na tua misericórdia, acolhe-me. 

Não entres em juízo contra mim, 
Não reveles as minhas ações, 
Não perscrutes motivos e desejos. 
Mas, na tua compaixão, ó Todo-Poderoso, 
Fecha os olhos às minhas faltas e salva-me. 

Eis o tempo do arrependimento. Venho a Ti. 
Liberta-me do pesado fardo dos meus pecados 
E, na tua ternura, dá-me lágrimas de arrependimento.

Fonte: Evangelho Quotidiano

Comentário ao Evangelho (17/03) por São Bernardo


Comentário do dia 
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja 
Sermão 30 sobre o Cântico dos Cânticos

O mistério da vinha de Deus

Irmãos, se na vinha do Senhor vemos a Igreja, não é pequena prerrogativa ter a Igreja alargado os seus limites a toda a Terra. [...] 

Refiro-me à multidão dos primeiros crentes, de quem foi dito que tinham «um só coração e uma só alma» (At 4,32). [...] Porque a perseguição não a arrancou tão brutalmente do solo, que ela não tenha podido voltar a ser plantada noutros locais e alugada a outros vinhateiros que, chegada a estação própria, a fizeram dar frutos. Ela não pereceu, mudou de solo. Melhor, ganhou em força e em difusão, como vinha bendita pelo Senhor. Levantai, portanto, irmãos, os vossos olhos e vereis que «as montanhas cobriram-se com a sua sombra, e os seus ramos ultrapassaram os altos cedros. As suas ramagens estenderam-se até ao mar e os seus rebentos até ao rio» (Sl 79,11-12). 

Isto não surpreende: ela é o edifício de Deus, o seu terreno de cultivo (1Cor 3,9). É Ele que a torna fecunda, que a faz propagar-se, que a poda e a limpa, de modo a que ela produza mais fruto. Ele não deixará ao abandono a cepa que a sua mão direita plantou (Sl 79,15); não abandonará a vinha cujos ramos são os Apóstolos, cuja cepa é Jesus Cristo e de que Ele, o Pai, é o agricultor (Jo 15,1-5). Plantada na fé, ela mergulha as suas raízes na caridade; lavrada pela obediência, fertilizada pelas lágrimas do arrependimento, irrigada pela palavra dos pregadores, dela transborda um vinho que inspira a alegria e não a má conduta, um vinho cheio de doçura, que alegra verdadeiramente o coração do homem (Sl 103,15). [...] Filha de Sião, consola-te a contemplar este grande mistério: não chores! Abre o teu coração para acolheres todas as nações da terra!

Fonte: Evangelho Quotidiano

quinta-feira, 16 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (16/03) feito por Santo Agostinho



Comentário do dia 
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja 
Discursos sobre os salmos, 85,3; CCL 39, 1178

A verdadeira riqueza e a verdadeira pobreza

Meus irmãos, quando digo que Deus não inclina os seus ouvidos para o rico, não deduzais que Deus não atende os que possuem ouro e prata, criados e patrimónios. Se eles nasceram nessas condições e ocupam esse lugar na sociedade, que se lembrem desta palavra do apóstolo Paulo: «Recomendo aos ricos deste mundo que não sejam orgulhosos» (1Tim 6,17). Aqueles que não são orgulhosos são pobres diante de Deus, que inclina os seus ouvidos para os pobres e os necessitados (Sl 85,1). Com efeito, eles sabem que a sua esperança não está no ouro nem na prata, nem nas coisas de que gozam durante algum tempo. Basta que as riquezas não os levem à perdição e que, se elas nada podem para os salvar, ao menos não lhes sirvam de obstáculo. Quando um homem despreza tudo quanto alimenta o seu orgulho, é um pobre de Deus; e Deus inclina-Se para ele, porque conhece os tormentos do seu coração. 

Não há dúvida, irmãos, de que o pobre Lázaro, que permanecia, coberto de chagas, à porta do rico, foi levado pelos anjos ao seio de Abraão; é isto que lemos e nisto que acreditamos. Quanto ao rico, que se vestia de púrpura e de linho fino e festejava esplendidamente todos os dias, foi precipitado nos tormentos do inferno. Terá sido, realmente, o mérito da sua indigência que valeu ao pobre ter sido levado pelos anjos? E o rico terá sido entregue aos tormentos do inferno por causa da sua opulência? Não, mas ao pobre foi a humildade que o dignificou, e ao rico foi o orgulho que o condenou.

Fonte: Evangelho Quotidiano

quarta-feira, 15 de março de 2017

Beato Tito Brandsma - Oração feita diante da imagem de Cristo na prisão


Oração feita diante da imagem de Cristo na prisão

“Ó Jesus, quando te contemplo,
Eu redescubro, a sós contigo,
Que te amo e que teu coração
Me ama como a um dileto amigo.

Ainda que a descoberta exija
Coragem, faz-me bem a dor:
Por ela me assemelho a ti
Que ela é o caminho redentor.

Na minha dor me rejubilo:
Já não a julgo sofrimento,
Mas sim predestinada escolha
Que me une a ti neste momento.

Deixa-me, pois, nessa quietude,
Malgrado o frio que me alcança.
Presença humana não permitas,
Que a solidão já não me cansa,

Pois de mim sinto-te tão próximo
Como jamais antes senti.
Doce Jesus, fica comigo,
Que tudo é bom junto de ti”.

Esta oração foi escrita por Frei Tito, na passagem do dia 12 para 13 de fevereiro de 1942, na prisão de Scheveningen. Tradução de
Lacyr Schettino, terceira carmelita.

Beato Frei Tito Brandsma,
Carmelita e Mártir

Fonte: A Voz do Silêncio

Comentário ao evangelho (15/03) pelo Beato Tito Brandsma


Comentário do dia 
Beato Tito Brandsma (1881-1942), carmelita holandês, mártir 
A Mística do sofrimento

«Vamos subir a Jerusalém»

Jesus declarou-Se cabeça do corpo místico, de que nós somos os membros. A vinha é Ele; os sarmentos somos nós (Jo 15,5). Ele estendeu-Se no lagar e começou a pisar as uvas; deu-nos assim o vinho para que, ao bebê-lo, pudéssemos viver a partir da sua vida e partilhar dos seus sofrimentos. «Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-Me. Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida. Eu sou o Caminho. Dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também» (Lc 9,23; Jo 8,12; 14,6; 13,15). E, como os próprios discípulos não compreendiam que o seu caminho deveria ser de sofrimento, Ele explicou-lho, dizendo: «Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?» (Lc 24,26) 

Então, o coração dos discípulos ardeu (v. 32). A Palavra de Deus inflamou-os. E, quando o Espírito Santo desceu sobre eles como chama divina para os abrasar (At 2), ficaram cheios de alegria por terem sofrido desprezos e perseguições (At 5,41), pois assim assemelhavam-se Àquele que os tinha precedido no caminho do sofrimento. Os profetas já tinham anunciado este caminho de sofrimento de Cristo e os discípulos compreenderam, por fim, que Ele não o tinha evitado: da manjedoura ao suplício da cruz, a pobreza e a falta de compreensão tinham sido o seu quinhão. Ele tinha passado a sua vida a ensinar aos homens que o olhar de Deus sobre o sofrimento, a pobreza e a falta de compreensão dos homens é diferente da vã sabedoria deste mundo (cf 1Cor 1,20). [...] Na cruz está a salvação. Na cruz está a vitória. Deus assim quis.

Fonte; Evangelho Quotidiano

São João Eudes: “O maior sinal da ira de Deus é quando permite que, como punição por seus crimes, o povo caia nas mãos de pastores que o são mais de nome do que de fato”.

As qualidades e as excelências
de um bom pastor e de um sacerdote santo.


O maior sinal da ira de Deus sobre o seu povo, e o pior castigo que ele pode infligir sobre ele, neste mundo, é quando permite que, como punição por seus crimes, o povo caia nas mãos de pastores que o são mais de nome do que de fato, que mais exercem contra o povo a crueldade dos lobos famintos, do que a caridade dos pastores carinhosos, e que, em vez de cuidadosamente lhes oferecerem um repasto, despedaçam-no e o devoram cruelmente; em vez de levar o povo para Deus, vende-o para Satanás; em vez de dirigi-lo para o céu, arrasta-o consigo para o inferno; e, em vez de ser o sal da terra e luz do mundo, são o veneno e escuridão.


Porque nós, pastores e sacerdotes, diz São Gregório Magno, seremos condenados diante de Deus como assassinos de todas as almas que todos os dias são entregues à morte eterna pelo nosso silêncio e pela nossa negligência: Tot occidimus, quot ad mortem ire tepidi et tacentes videmus[1]. Como também, diz o mesmo santo[2], não há nada que mais ofenda a Deus (e, portanto, que mais provoque a sua ira, e atraia mais maldições, seja sobre os pastores e sobre o rebanho, sobre os sacerdotes e sobre o povo), que quando Deus vê aqueles que ele estabeleceu para a correção dos outros, darem exemplo de uma vida depravada, e em vez de evitar que ele seja ofendido, somos os primeiros a persegui-lo, já que não temos o mínimo cuidado pela salvação das almas; que sonhamos senão apenas em satisfazer nossas inclinações; que todos os nossos afetos terminam nas coisas da terra; que estamos alimentando vorazmente a vã estima dos homens, fazendo com que o mistérios da bênção sirvam à nossa ambição; que abandonamos os negócios de Deus para atender aos do mundo; e que, ocupando um lugar de santidade, tratamos apenas dos trabalhos terrestres e profanos. Quando Deus permite que as coisas sejam assim, temos com certeza uma prova de que está extremamente irado contra o seu povo, e este é o rigor mais terrível que possa exercer sobre ele, ainda neste mundo. É por isso que ele grita incessantemente a todos os cristãos: Convertimini ad me, et dabo vobis pastores juxta cor meum [3]: “Convertei-vos a mim, e eu vos darei pastores segundo o meu coração”. Isso mostra claramente que o desregramento da vida dos pastores é um castigo pelos pecados do povo; e que, por outro lado, o maior resultado da misericórdia de Deus para com o povo, e a graça mais preciosa que ele possa conceder, é quando ele dá pastores e sacerdotes segundo o seu coração, que só buscam sua glória e a salvação das almas. Este é o dom mais precioso e o favor mais insigne que a bondade de Deus pode conceder à Igreja, a dádiva de um bom pastor, seja bispo ou padre. Pois é a graça das graças e o dom dos dons, que carrega consigo todos os outros dons e todas as outras graças.


Jean Eudes, Mémorial de la vie ecclésiastique. In Œuvres complètes, Tome III, p. 22-23.


1 - Homil. 12 super Ezech.

2 - Nullum, puto, fratres charissimi, majus praejudicium ab aliis quam a Sacerdotibus tolerat Deus: quando eos quos ad aliorum correctionem posuit, dare de se exempla pravitatis cernit; quando ipsi peccamus qui compescere peccata debuimus: officium quidem sacerdotale suscipimus, sed opus officii non implemus.» Homil. 27 in Evang.

3 - Jer 3, 5.

Fonte: Fratres in Unum

"Como eu amo a minha Mamãe!" - por Santa Gema Galgani


 "Como eu amo a minha Mamãe! Ela bem o sabe, foi Jesus quem ma deu, e Ele me ordena que A ame muito: como esta Mãe celeste se tem mostrado sempre boa para mim! Que seria de mim sem Ela? Seu auxílio sempre me valeu em todas as minhas necessidades espirituais, preservou-me de tantos perigos; livrou-me das mãos do demônio, que vinha sempre afligir-me; desculpava-me com Jesus quando eu O ofendia; acalmava-O quando eu O irritava com minha má vida, ensinava-me a conhecê-Lo e a amá-Lo, a ser boa e a agradar-Lhe. Ah! Minha querida Mamãe, eu Vos amarei sempre, sempre."

Santa Gema Galgani, de Padre Germano de Santo Estanislau, C.P. 

terça-feira, 14 de março de 2017

Comentário ao Evangelho do dia (14/03) por São Pascácio Radbert


São Pascácio Radbert (?-c. 849), monge beneditino 
Comentário sobre o evangelho de Mateus, 10, 23

«Um só é o vosso doutor, o Messias».

Se alguém desejar um alto cargo na Igreja (cf 1Tim 3,1), deseje a obra que ele permite realizar e não a honra que lhe está associada: deseje ajudar e servir todos os homens, mais do que ser ajudado e servido por todos. Porque o desejo de ser servido provém do orgulho, como o dos fariseus, e o desejo de servir nasce da sabedoria e dos ensinamentos de Cristo. Aqueles que procuram as honras por si mesmas são os que se elevam, e aqueles que alegram por levar a sua ajuda e servir são os que se abaixam para que o Senhor os eleve. 

Cristo não refere aqui aquele que o Senhor eleva, mas diz: «Quem se exalta será humilhado», e sê-lo-á naturalmente pelo Senhor. Também não refere aquele que o Senhor humilha, mas diz: «Quem se humilha será exaltado», uma vez mais pelo Senhor. [...] É por isso que Cristo, logo após ter reservado para Si, de modo particular, o título de doutor, imediatamente invoca a regra de sabedoria em virtude da qual «quem quiser ser grande deve ser o servo de todos» (Mc 10,43). [...] Regra que já tinha exprimido noutros termos: «Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração» (Mt 11,29). 

Deste modo, quem quiser ser seu discípulo não deve tardar em aprender esta sabedoria de Cristo porque «todo o discípulo perfeito será como o seu mestre» (Lc 6,40). Pelo contrário, quem se tiver recusado a aprender a sabedoria ensinada pelo Mestre, longe de se tornar mestre, não será sequer discípulo.

Fonte: Evangelho Quotidiano

segunda-feira, 13 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (13/03) por São João Crisóstomo

Comentário ao Evangelho feito por São João Crisóstomo

E dificilmente se encontrará alguém, nem pai de família, nem religioso que não incorre neste erro (julgar o próximo), São também estas insídias de tentação diabólica, porque o que se ocupa em julgar os defeitos alheiros com severidade, nunca ganhará o perdão de seus próprios pecados. Por isso diz: "E não sereis julgados". Assim como o piedoso e manso diminui o medo dos pecados, assim o severo e cruel o aumenta com seus próprios Crimes.

Créditos; Luis Felipe Nanini

domingo, 12 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (12/03, segundo domingo da Quaresma) feito por Santo Efrém



2º Domingo da Quaresma

Comentário do dia 
Santo Efrém (c. 306-373), diácono da Síria, doutor da Igreja 
Sermão sobre a Transfiguração (atribuído) 1, 3-4

«Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado»

Ele levou-os para a montanha para lhes mostrar a glória da sua divindade e lhes dar a conhecer que era o Redentor de Israel, como lhes tinha anunciado pelos seus profetas. […] Eles tinham-no visto comer e beber, fatigar-Se e repousar, estar abatido e dormir, sentir pavor até suar gotas de sangue, tudo coisas que não pareciam estar em harmonia com a sua natureza divina e não convir senão à sua humanidade. Por isso os levou à montanha, para que o Pai Lhe chamasse seu Filho e lhes mostrasse que Ele era verdadeiramente seu filho e que era Deus. 

Levou-os à montanha e mostrou-lhes a sua realeza antes de sofrer, o seu poder antes de morrer, a sua glória antes de ser ultrajado e a sua honra antes de sofrer a ignomínia. Assim, quando foi preso e crucificado, os seus apóstolos compreenderam que não o foi por fraqueza mas voluntariamente e de bom grado, para a salvação do mundo. 

Levou-os à montanha e mostrou-lhes, antes da sua ressurreição, a glória da sua divindade. Assim, quando ressuscitou de entre os mortos na glória da sua divindade, os discípulos reconheceram que não tinha recebido a glória como recompensa das suas dores, como se disso necessitasse, mas que ela Lhe pertencia desde muito antes dos séculos, com o Pai e junto do Pai, como Ele próprio diz ao aproximar-Se a sua paixão voluntária: «Pai, manifesta a minha glória junto de Ti, aquela glória que Eu tinha junto de Ti antes de o mundo existir» (Jo 17,5).

Fonte: Evangelho Quotidiano

Comentário ao Evangelho (11/03) feito por Santo Ambrósio, bispo de Milão


Comentário do dia 
Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, doutor da Igreja 
Sermão 8 sobre o salmo 118

«Ele faz nascer o sol sobre bons e maus»

«A terra está cheia, Senhor, da tua misericórdia; ensina-me as tuas vontades» (Sl 118,64). Como é que a terra está cheia desta misericórdia do Senhor senão pela Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, cuja promessa o salmista, que a via de longe, de alguma maneira celebra? Está cheia dela porque a remissão dos pecados foi dada a todos. O sol tem ordem para se erguer sobre todos e é isso que acontece diariamente. Com efeito, foi para todos que se ergueu em sentido místico o Sol de Justiça (Mal 3,20); Ele veio para todos, sofreu por todos, por todos ressuscitou. E, se sofreu, foi certamente para «tirar o pecado do mundo» (Jo 1,29). […] 

Mas, se alguém não tem fé em Cristo, priva-se a si mesmo deste benefício universal. Se alguém, fechando as suas janelas, impede os raios de sol de entrar, não se pode dizer que o sol nasceu para todos, pois essa pessoa fugiu do seu calor, não se deixa atingir por ele; e o que tem falta de sabedoria priva-se da graça de uma luz que é proposta a todos. 

Deus faz-Se pedagogo, iluminando o espírito de cada um e derramando nele a luz do seu conhecimento; com a condição, todavia, de que abras a porta do teu coração e acolhas a claridade da graça celestial. Quando duvidas, apressa-te a procurar porque «quem procura encontra e àquele que bate abrir-se-á» (Mt 7,8).

Fonte: Evangelho Quotidiano

sexta-feira, 10 de março de 2017

Comentário ao evangelho (10/03) feito por São Cipriano


Comentário do dia 
São Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago e mártir 

A oração do Senhor

«Se te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, [...] vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão».

«A medida com que medirdes servirá para vos medir» (Mt 7,2). O servidor a quem o senhor tinha perdoado todas as dívidas mas que não quis agir de igual forma para com um dos seus companheiros foi lançado na prisão: não querendo perdoar ao seu companheiro, perdeu o perdão que já tinha alcançado do seu senhor (Mt 18,23s). Nos seus preceitos, Cristo ensina esta verdade com um vigor severo: «Quando vos levantardes para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas» (Mc 11,25). 

Deus ordenou-nos que estivéssemos em paz e em boa relação com todos, que vivêssemos unânimes em sua casa. Ele quer que, uma vez regenerados, mantenhamos a condição em que este segundo nascimento nos colocou. Uma vez que somos filhos de Deus, quer que permaneçamos na sua paz e, já que recebemos o mesmo Espírito, que vivamos em unidade de coração e de pensamentos. É por isso que Deus não aceita o sacrifício dos que vivem em dissensão; ordena mesmo que nos afastemos do altar para nos reconciliarmos primeiro com os irmãos, para que Ele possa acolher as orações apresentadas na paz. A mais bela oferenda que podemos fazer a Deus é a nossa paz, é o acordo fraterno, é o povo reunido por esta unidade que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Fonte: Evangelho Quotidiano

Comentário do dia 07/03 por São João Maria Vianney



Comentário do dia 
São João-Maria Vianney (1786-1859), presbítero, Cura de Ars 
Pensamentos escolhidos do Santo Cura de Ars

O perdão é a lei

Deus só perdoará àqueles que tiverem perdoado - é essa a lei. Os santos não têm em si o menor vestígio de ódio ou de fel: perdoam tudo e consideram sempre que mereciam muito mais, pelas ofensas que eles próprios fizeram a Deus. Quando alguém odeia o seu próximo, Deus devolve-lhe esse ódio: é um golpe que se volta contra nós. Dizia eu certo dia a uma pessoa: «Mas não quer ir para o Céu? Lá vai ver esse homem!» «Oh sim», respondeu-me, «mas trataremos de estar bem longe um do outro, de não nos ver.» Não vale a pena incomodarem-se com isso, porque a porta do Céu está fechada ao ódio. 

No Céu não existe rancor. Assim, os corações bons e humildes que recebem as injúrias e as calúnias com alegria ou indiferença dão início ao seu paraíso já neste mundo, e aqueles que guardam rancor são infelizes. A forma de afastar o demónio quando ele nos suscita pensamentos de ódio contra aqueles que nos maltratam é rezar imediatamente por eles. Desse modo, vencemos o mal com o bem. Foi assim que fizeram os santos.

Fonte: Evangelho Quotidiano

quinta-feira, 9 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (09/03) por São Bento, abade



Comentário do dia 
São Bento (480-547), monge, co-padroeiro da Europa 
Regra de S. Bento, XX

Eficácia da oração

Se, quando temos um pedido para apresentar aos poderosos deste mundo, os abordamos com humildade e respeito, com muito maior razão temos de suplicar ao Senhor Deus do universo com grande humildade e pureza de devoção. Tenhamos presente que não é a abundância de palavras, mas a sinceridade do coração e as lágrimas de compunção que nos tornam dignos de sermos ouvidos. A oração deve, pois, ser breve e pura, a menos que a graça da inspiração divina nos incline a prolongá-la.

Fonte: Evangelho Quotidiano

Comentário ao Evangelho (08/03) por São João Maria Viannaey


Comentário do dia
São João-Maria Vianney (1786-1859), presbítero, Cura de Ars
Sermão para o 3.º Domingo depois do Pentecostes

«Assim como Jonas foi um sinal para os habitantes de Nínive, assim o será também o Filho do homem para esta geração»

Meus irmãos, ao percorrermos as diferentes épocas do mundo, vemos a Terra coberta das misericórdias do Senhor, e os homens rodeados pelos seus benefícios. Não, meus irmãos, não é o pecador que retorna a Deus para Lhe pedir perdão; é o próprio Deus que corre atrás do pecador e o faz voltar para Ele. [...] Deus espera pelos pecadores na penitência, e convida-os através dos movimentos interiores da sua graça e pela voz dos seus ministros.

Vede como se comporta para com Nínive, esta grande cidade pecadora. Antes de punir os seus habitantes, manda o profeta Jonas anunciar-lhes que, dentro de quarenta dias, os irá punir. Jonas, em vez de ir a Nínive, refugia-se noutro lado e faz menção de atravessar o mar. Mas, longe de deixar os ninivitas sem aviso antes de os punir, Deus faz um milagre, conservando o seu profeta, durante três dias e três noites, no seio de uma baleia, que, ao fim desses dias, o lança para terra. Então o Senhor diz a Jonas: «Vai anunciar à grande cidade que dentro de quarenta dias perecerá», sem lhes impor qualquer condição. E o profeta, tendo partido, anunciou a Nínive que dentro de quarenta dias iria perecer.

Com esta notícia, todos se entregaram à penitência e às lágrimas, desde o camponês até ao rei. «Quem sabe», diz-lhes o rei, «se o Senhor não terá ainda piedade de nós?» O Senhor, vendo-os recorrer à penitência, pareceu congratular-Se com o prazer de os perdoar. Jonas, vendo chegar o prazo do castigo, retira-se para fora da cidade, para esperar que o fogo do céu caísse sobre ela. Vendo que não caía: «Ah! Senhor» grita-Lhe Jonas «vais-me fazer passar por falso profeta? Prefiro morrer. Ah! Sei bem que és demasiado misericordioso, que não desejas senão perdoar» – «O quê! Jonas», disse-lhe o Senhor, «queres que faça perecer tanta gente que se humilhou perante mim? Oh! não, não, Jonas, não teria coragem; pelo contrário, amá-los-ei e conservar-lhes-ei a vida.»

Fonte: Evangelho Quotidiano

terça-feira, 7 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (06/03) feito por Simão, o Novo Teólogo


Comentário do dia 
Simeão, o Novo Teólogo (c. 949-1022), monge grego 
Capítulos teológicos, gnósticos e práticos, § 92 ss.

«A Mim o fizestes.»

Se alguém der um óbulo a noventa e nove pobres, e em seguida injuriar, agredir ou despedir um só que seja de mãos vazias, sobre quem cai semelhante tratamento, senão sobre Aquele que disse, que não deixa de dizer, e que dirá um dia: «Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes»? […] Ele está, efetivamente, em todos estes pobres, Aquele que é alimentado por nós em cada um deles. Da mesma maneira, se hoje alguém dá tudo o que é necessário a todos e amanhã, podendo continuar a fazê-lo, esquece os irmãos e os deixa morrer à fome, à sede e ao frio, é como se tivesse desprezado e deixado morrer Aquele que disse: «Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes». […] 

Se Cristo Se dignou assumir o rosto dos pobres, se Se identificou com todos os pobres, foi para que nenhum dos que nele creem se eleve acima do seu irmão […], antes o acolha como a Cristo, respeitando-o e aplicando ao seu serviço todos os recursos de que dispõe, como Cristo derramou todo o seu sangue pela nossa salvação. […] Talvez isto pareça penoso a muitos, que considerem razoável pensar: «Ninguém pode alimentar e cuidar de todos os necessitados, sem esquecer nenhum!» Esses devem ouvir o que diz S. Paulo: «O amor de Cristo nos constrange, persuadidos de que, se um só morreu por todos, então todos estão mortos» (2Cor 5,14).

Fonte: Evangelho Quotidiano

segunda-feira, 6 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (05/03, Primeiro Domingo da Quaresma) por Isaac, o Sírio


Comentário do dia
Isaac o Sírio (século VII), monge perto de Mossul
Discursos ascéticos, 1.ª série, n.º 85

«Então o diabo deixou-O.»

Tal como os olhos sãos desejam a luz, assim o jejum efetuado com discernimento suscita o desejo da oração. Quando um homem começa a jejuar, deseja comunicar com Deus nos pensamentos do seu espírito. Com efeito, o corpo que jejua não suporta dormir toda a noite no seu leito. Quando o jejum sela a boca do homem, este medita em estado de contrição, o seu coração reza, o seu rosto está sério, os maus pensamentos deixam-no; é inimigo das cobiças e das conversas vãs. Nunca se viu um homem jejuar com discernimento e ser assaltado por maus desejos. O jejum feito com discernimento é uma grande morada, que alberga muitos bens. [...]

Porque o jejum é a ordem que foi dada no início à nossa natureza: não comer o fruto da árvore (Gn 2,17), da qual vem aquilo que nos engana. [...] Foi também por aí que o Salvador começou, quando Se revelou ao mundo no Jordão. Com efeito, depois do batismo, o Espírito levou-O ao deserto, onde Ele jejuou quarenta dias e quarenta noites.

E agora, todos os que O seguem fazem o mesmo: é sobre este fundamento que assentam o início do seu combate, pois esta arma foi forjada por Deus. [...] E quando o diabo vê essa arma na mão de um homem, este adversário e tirano tem medo: pensa imediatamente na derrota que o Salvador lhe infligiu no deserto e, recordando-se dela, a sua força é quebrada. Pois o diabo consome-se assim que vê a arma que nos deu Aquele que nos conduz ao combate. E que arma poderia ser mais poderosa e reanimar tanto o coração na sua luta contra os espíritos do mal?

Fonte: Evangelho Quotidiano

sábado, 4 de março de 2017

Comentário ao Evangelho (04/03, Sábado após as Cinzas) por RichaRd Rolle, eremita



Comentário do dia 
Richard Rolle (c. 1300-1349), eremita inglês 
Cântico do Amor, 32

«Eu vim chamar os pecadores, para que se arrependam»

Na cruz, Cristo chama com grandes brados. [...] Ele oferece a paz e dirige-Se a ti, desejando ver-te abraçar o amor [...]: «Pensa só nisto, meu bem-amado! Eu, que sou o Criador sem limite, desposei a carne para poder nascer de uma mulher. Eu, que sou Deus, apresentei-Me aos pobres como seu companheiro: escolhi uma mãe humilde; comi com os publicanos; os pecadores nunca Me inspiraram aversão. Suportei os perseguidores, experimentei o chicote e humilhei-Me até à morte, e morte de cruz (Fil 2,8). Que mais deveria ter feito e não fiz? (Is 5,4) Abri o meu lado à lança. Olha a minha carne ensanguentada, presta atenção à minha cabeça inclinada (Jo 19,30). Aceitei que Me contassem no número dos condenados e eis que, submergido em sofrimentos, morro por ti, para que tu vivas para Mim. Se não fazes grande caso de ti mesmo, se não procuras libertar-te dos laços da morte, arrepende-te, pelo menos agora, por causa de Mim, que derramei por ti o bálsamo precioso do meu próprio sangue. Olha-Me a morrer e detém-te nessa encosta de pecado. Sim, deixa de pecar: custaste-Me tão caro! 

Por ti encarnei, por ti nasci, por ti Me submeti à Lei, por ti fui batizado, esmagado de opróbrios, preso, amarrado, coberto de escarros, escarnecido, flagelado, ferido, pregado na cruz, embebedado com vinagre e, por fim, imolado. Por ti. O meu lado está aberto: agarra o meu coração. Corre, abraça-te ao meu pescoço: ofereço-te o meu beijo. Adquiri-te como minha parte da herança, por forma a que nenhum outro te tenha em seu poder. Entrega-te, pois, todo a Mim que Me entreguei totalmente por ti.»

Créditos: Evangelho Quotidiano
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