quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Imitação de Cristo III - Cap. 27 - Como o amor-próprio afasta no máximo grau do sumo bem




JESUS: Filho, cumpre que dês tudo por tudo, sem reservar-te a ti mesmo. Fica sabendo que teu amor-próprio te prejudica mais que qualquer coisa do mundo. Cada objeto mais ou menos te prende, segundo o amor e afeto que lhe tens. Se teu amor for puro, simples e bem ordenado, de nenhuma coisa serás escravo. Não cobices o que não te é lícito possuir, nem possuas coisa alguma que te possa impedir a liberdade interior ou dela privar-te. É de estranhar que te não entregues a mim, do íntimo do teu coração, com tudo que possas ter ou desejar.

Por que te consomes em vã tristeza? Por que te afanas em cuidados supérfluos? Conforma-te com a minha vontade e nenhum dano sofrerás. Se buscares isto ou aquilo, se desejares estar aqui ou ali, por tua comodidade ou teu capricho, nunca estarás quieto, nem livre de cuidados, porque em todas as coisas há algum defeito, e em todo lugar quem te contrarie.

De nada te serve, pois, adquirir ou acumular bens exteriores, mas muito te aproveita desprezá-los e desarraigá-los do coração. Isso não se entende somente do dinheiro e das riquezas, senão também da ambição das honras, e do desejo de vãos louvores porque tudo isso passa com o mundo. Pouco resguarda o lugar, se falta o espírito de fervor; nem durará muito tempo aquela paz procurada fora, se faltar ao teu coração o verdadeiro fundamento. Isto é, se não se firmar em mim. Mudar tu podes, mas não melhorar, porque, chegada a ocasião, e aceitando-a, encontrarás de novo aquilo de que fugiste e pior ainda.


Tomás de Kempis, Imitação de Cristo

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