quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Carta a um devoto do Coração Imaculado de Maria - Santo Antônio Maria Claret


Santo Antônio Maria Claret

Estimado senhor: acabo de receber sua estimadíssima carta, com que me pede que diga alguma coisa para crescer cada dia mais e mais na devoção do Imaculado Coração de Maria. Querido amigo, não podia pedir-me coisa melhor, do que mais gosto. Eu gostaria que todos os cristãos tivessem fome e sede desta devoção. Ame, amigo meu, ame e ame muitíssimo a Maria (1).

E para que possa aumentar em pontos a sua devoção e satisfazer seus desejos, lhe direi que devemos amar Maria Santíssima: primeiro, porque Deus o quer. Em segundo lugar, porque ela o merece. E em terceiro, porque nós precisamos, por ser ela um poderosíssimo meio para obter todas as graças corporais e espirituais e finalmente, a salvação eterna (2).


1. Deus o quer

Devemos amar Maria Santíssima porque Deus o quer. Amar é querer bem ao amado, é fazer-lhe bem, é fazer-lhe participante de seus bens (3), pois o mesmo Deus nos dá exemplo e nos excita a amar Maria. O eterno Pai a escolheu por Filha sua muito amada; o Filho eterno a tomou por Mãe e o Espírito Santo, por Esposa; toda a Santíssima Trindade a coroou como Rainha e Imperatriz dos céus e terra e a constituiu dispensadora de todas as graças (4).

Você deve saber, amigo meu, que Maria Santíssima é obra de Deus e é a mais perfeita que saiu de suas mãos depois da humanidade de Jesus Cristo; nela brilham de um modo particular (5) a onipotência, a sabedoria e a bondade do mesmo Deus.

É próprio de Deus dar as graças necessárias a cada criatura, segundo a finalidade a que a destina (6) e como Deus destinou Maria para ser a mãe, filha e esposa do mesmo Deus e mãe do homem, daqui se imagina que tipo de coração lhe daria e com que graças a adornaria (7).


2. Ela o merece

Devemos amar Maria Santíssima porque ela o merece. Maria Santíssima o merece pelo acúmulo de graças que recebeu sobre a terra, pela eminência da glória que possui no céu, pela dignidade quase infinita da Mãe de Deus a que tem sido sublimada e pelas prerrogativas próprias desta sublime dignidade.

Maria foi como o centro de todas as graças e belezas que Deus tinha distribuído aos anjos, aos santos e a todas as criaturas (8). Maria tinha que ser Rainha e Senhora dos anjos e dos santos e, por isto mesmo, devia ter mais graças que todos eles, já no primeiro instante do seu ser. Maria tinha de ser a Mãe do mesmo Deus. É um princípio de filosofia que entre a forma e as disposições da matéria deve existir certa proporção (9); a dignidade de Mãe de Deus é aqui como a forma e o coração de Maria é a matéria que deve receber esta forma. Oh! Que acúmulo de graças, virtudes e outras disposições se agrupam naquele santíssimo e puríssimo coração!

Desde que Deus determinou fazer-se homem, fixou a vista em Maria Santíssima e desde então dispôs todos os preparativos necessários, a fez nascer dos patriarcas, profetas, sacerdotes e reis (10), e todas as graças destes reuniu em Maria e quis que Maria fosse a nata e a flor de todos eles. Ainda, a preparou com bênçãos de doçura e colocou sobre sua cabeça uma coroa de pedras preciosas (11), isto é, graças e belezas; mas muito mais enriqueceu seu coração.

No Coração de Maria devem ser consideradas duas coisas: o coração material e o coração formal, que é o amor e vontade (12).

O coração material de Maria é o órgão, sentido ou instrumento do amor e vontade (13); assim como pelos olhos vemos, pelos ouvidos ouvimos, pelo nariz cheiramos e pela boca falamos, assim pelo coração amamos e queremos (14).

Dizem os teólogos que as relíquias dos santos merecem veneração e culto: 1º porque foram membros vivos de Jesus Cristo. 2º porque foram templos do Espírito Santo. 3º porque foram órgãos da virtude. 4º porque serão instrumentos da graça e de milagres. 5º porque eles serão glorificados depois da ressurreição (15).

O coração de Maria reúne estas propriedades e muitas outras: 1º O coração de Maria não só foi membro vivo de Jesus Cristo pela fé e pela caridade, mas também origem, manancial de onde se tomou a humanidade (16). 2º O coração de Maria foi templo do Espírito Santo e mais que templo, pois do preciosíssimo sangue saído deste imaculado (17) coração o Espírito Santo formou a humanidade santíssima nas puríssimas e virginais entranhas de Maria no grande mistério da encarnação (18). 3º O coração de Maria foi o órgão de todas as virtudes em grau heróico e singularmente na caridade para com Deus e para com os homens (19). 4º O coração de Maria é um coração vivo, animado e sublimado no mais alto da glória. 5º O coração de Maria é o trono de onde se dispensam todas as graças e misericórdias.

Maria é verdadeiramente Mãe de Deus. Do mesmo modo como uma mulher, que deu à luz um homem, é chamada e é mãe daquele homem, assim também Maria Santíssima é e se chama, com toda propriedade, Mãe de Deus, porque o concebeu e o deu à luz; a mulher que deu à luz o homem se chama e é mãe daquele homem, que é um composto de alma e corpo e embora a alma venha somente de Deus, assim também Maria Santíssima é Mãe de Deus, porque este divino composto de pessoa divina, alma racional e corpo natural é o termo da geração nas puríssimas e virginais entranhas de Maria (20). Esta dignidade de Mãe de Deus é a que mais a enaltece, porque é uma dignidade quase infinita, porque é mãe de um ser infinito (21); é mais de quanto possui em graça e em glória. Os Doutores e Santos Padres dizem que pelos frutos se conhece a árvore, segundo consta no Evangelho; pois, que diremos de Maria, que deu à luz aquele bendito Fruto que tanto elogiou Isabel (22) quando disse: “Bendito o fruto do teu ventre! De onde me vem tanta honra, que a mãe do meu Senhor venha a mim?” (23).

Diz Santo Tomás que o fogo não pega na lenha até que esta tenha os mesmos graus de calor que aquele (24); pois bem, se para que do sangue do coração de Maria se formasse a humanidade à qual se devia juntar a divindade era preciso que tivesse uma disposição quase divina, que diremos agora de Maria se, além de ser considerada Mãe de Deus, juntamos as demais graças que depois recebeu de Jesus? (25). Jesus por onde passava fazei o bem a todos (26), mais ou menos segundo a disposição com que os encontrava; que pensaremos das graças e benefícios que dispensaria a Maria, em quem passou não rapidamente, mas que esteve em suas entranhas por nove meses e a seu lado por trinta e três anos, e achando-se sempre com as melhores disposições e preparação para receber os benefícios de Jesus? A estas graças devem juntar-se também as que recebeu do Espírito Santo no dia de Pentecostes e, além disso, devem ser acrescentadas as que ela conseguiu com o exercício de tantas e tão heróicas virtudes em todo o decurso da sua santíssima e longa vida, acompanhada daquela contínua e fervorosa meditação (27) em que, segundo o profeta, se acende a chama do divino amor (28). Ao considerar São Boaventura a graça de Maria, exclama dizendo: “A graça de Maria é uma graça imensa, múltipla”: Gratia Mariae, gratia est immensissima, gratia multiplicissima *29.

Não só devem ser consideradas as graças que Maria obteve para ser e por ter sido Mãe de Deus e as graças que recebeu de Jesus Cristo, do Espírito Santo e ela conseguiu com sua cooperação, mas também é indispensável fixar a atenção na multidão de incomparáveis prerrogativas que tão grande dignidade lhe tem dirigido. Faremos referência a algumas:

1ª De ter sido preservada do pecado original, ao qual estaria sujeita se não tivesse sido destinada para ser Mãe do mesmo Deus; para isto, Deus a dotou de um coração imaculado, puríssimo, castíssimo, humilíssimo, mansíssimo, santíssimo, pois do sangue saído deste coração formou o corpo do Deus feito homem.

2ª De ter concebido e dado à luz no tempo aquele mesmo Filho de Deus que o eterno Pai havia gerado na eternidade (30). Não duvide, diz São Boaventura, o eterno Pai e a Virgem sagrada tiveram um mesmo e único filho (31).

3ª Assim como o eterno Pai teve este divino Filho sem perder nada da sua divindade, assim também a santíssima Virgem Maria concebeu e deu à luz este mesmíssimo Filho sem o menor detrimento da sua santíssima virgindade.

4ª De ter tido um legítimo poder para mandar no Senhor absoluto de todas as criaturas, pois este é um direito que a natureza dá a todas as mães; direito ao qual quis sujeitar-se com gosto, pois disse que tinha vindo não para derrogar a lei, mas para cumpri-la com mais perfeição que os demais homens (32); e o evangelista São Lucas nos dá testemunho de como obedecia a sua Mãe e a São José: Et erat subditus eis (33). Mas este direito é uma honra a Maria Santíssima, que São Bernardo diz que não sabe o que é mais digno de admiração, se Jesus obedecer a Maria ou Maria mandar em Jesus; porque, diz o Santo, que Deus obedeça a uma mulher é uma humildade única e que uma mulher mande em um Deus é uma elevação sem igual (34).

5ª Ter sido a esposa do Espírito Santo de uma maneira infinitamente mais nobre que outras virgens, pois, as outras somente merecem ser aliadas a este divino esposo quanto à alma, enquanto que Maria tem sido não só quanto à alma, mas também quanto ao corpo, embora da maneira mais casta. A aliança que existiu entre o Espírito Santo e as virgens castas só tem servido para a produção dos atos de virtudes, mas a aliança entre este divino Espírito e Maria Santíssima tem produzido de uma maneira inefável o Senhor das virtudes, Cristo Senhor Nosso.

6ª Tem sido como o termo, por assim dizer, e a coroação da Santíssima Trindade: Maria universum sanctae Trinitatis complementum (35), porque produziu o mais excelente fruto da sua fecundidade ad extra, como dizem os teólogos; quer dizer, produziu um Deus homem. Maria produziu um sujeito capaz de dar à Santíssima Trindade uma honra tal como a Santíssima Trindade merece; honra que todas as criaturas juntas, e mesmo estas se multiplicando muitíssimas vezes, não eram capazes de pagar como o faz o Filho de Maria, Deus e homem verdadeiro.

7ª Em ter sido feita Rainha e Senhora de todas as criaturas por ter concebido e dado à luz o Verbo divino, por quem foram feitas todas as coisas, como diz São João (36).


3. Eficácia desta devoção

Devemos amar Maria e ser seus verdadeiros devotos porque a devoção a Maria Santíssima é um meio poderosíssimo para alcançar a salvação. É a razão pela qual Maria pode salvar seus verdadeiros devotos, porque quer e porque o faz (37). Maria pode, porque é a porta do céu; Maria quer, porque é a mãe de misericórdia (38); Maria o faz, porque ela é a que obtém a graça justificante aos pecadores, o fervor aos justos e a perseverança aos fervorosos (39); por isto, os Santos Padres a chamam de resgatadora dos cativos, o canal da graça e a dispensadora das misericórdias (40). Por isto se disse que o ser devoto de Maria é um sinal de predestinação, assim como é uma marca de reprovação o não ser devoto ou adversário de Maria (41).

A razão é muito clara. Ninguém pode salvar-se sem o auxílio da graça que vem de Jesus, como cabeça que é da Igreja ou corpo, e Maria é (42) como o pescoço que junta, por assim dizer, o corpo com a cabeça; e assim como o influxo da cabeça no corpo deve passar pelo pescoço, assim, pois, as graças de Jesus passam por Maria e se comunicam com o corpo ou com os devotos, que são seus membros vivos: In Christo fuit plenitudo gratiae sicut in capite fluente; in Maria sicut in collo transfundente (43).

Maria pelos Santos Padres é chamada escada do céu, porque por meio de Maria Deus desceu do céu e por meio de Maria os homens sobem ao céu (44). E quando a Igreja diz que esta Rainha incomparável á a porta do céu e a janela do paraíso (45), nos ensina com estas palavras que todos os eleitos, justos ou pecadores, entram na mansão da glória por seu intermédio; com esta única diferença, que os justos entram por ela como pela porta diretamente, mas os pecadores pela janela (46), que é Maria; pela escada, que é Maria (47). Portanto, amigo meu, em Maria, depois de Jesus, devemos colocar toda nossa confiança e esperança da nossa eterna salvação. Haec peccatorum scala, haec mea maxima fiducia est, haec tota ratio spei meae (48). Unica peccatorum advocata, portus tutissimus, naufragantium omnium salus (49). Peccatorem quantumlibet foetidum non horret... donec horrendo Judici miserum reconciliet (50).

Oh! Feliz é aquele que invoca Maria com confiança, pois alcançará o perdão dos seus pecados, por muitos e por graves que sejam; alcançará a graça e, finalmente, a glória do céu, que tanto desejo a você e a todos.


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NOTAS

(*) O título completo é: Carta a um devoto do puríssimo e imaculado Coração de Maria. O original autografado se encontra em Mss. Claret, VIII, 521‑535. Deste original se fizeram as seguintes edições: Carta inédita do Beato Claret sobre o Coração de Maria: Boletim Secretariado Claretiano, janeiro-março 1940, n. 67‑69 pp. 2‑4; Carta inédita do Beato Pe. Claret sobre o Coração de Maria: Iris de Paz 56 (1942) 1157‑1158 49‑50 (assim a numeração do tomo); Carta a um devoto do imaculado Coração de Maria: Boletim interno da Prov. da Catalunha CMF, número extra, 67‑69, julho‑setembro 1949, pp. 47‑52; Carta a um devoto do puríssimo e imaculado Coração de Maria em Santo Antônio Maria Claret, Escritos autobiográficos e espirituais (BAC, Madrid 1959) pp. 766‑772; Lozano, J. M.,O Coração de Maria em Santo Antônio Maria Claret (Ed. Coculsa, Madrid 1963) pp. 223‑239; Gil, J. M., Epistolário de Santo Antônio Maria Claret (Ed. Coculsa, Madrid 1970) vol. 2 pp. 1497‑1506 (edição crítica); No centenário de Santo Antônio Maria Claret, apóstolo da devoção ao imaculado Coração de Maria; texto íntegro de uma carta de Santo Antônio Maria Claret sobre o amor que devemos a Maria Santíssima: Cruzado Espanhol 13 (1970) 167‑168.

* 1 Não sabemos quem fez esta petição ao Santo. Talvez uma das muitas pessoas dirigidas por Claret ou talvez um dos seus missionários. O certo é que o Santo aproveita a petição para escrever um breve tratado sobre a devoção ao Coração de Maria. “Você não podia pedir coisa melhor”, diz a seu destinatário. Aqui se vê uma vez mais, a in tensa devoção mariana do Padre Claret, que o acompanhou por toda a vida, desde a infância (cf Aut. n. 43‑55) até sua morte (cf Obsequio 1870 Claret, Escritos autobiográficos [BAC Madrid 1981] pp. 587‑588). Sobre sua devoção cordimariana cf Viñas, J. M., A devoção ao Coração de Maria segundo os ensinamentos do Beato Padre Claret: Bol. Prov. Catalunha CMF 11 (1949) 201‑225; Tisnés, R. M., Santo Antônio Maria Claret e Coração de Maria: Bol. Prov. Colômbia CMF 9 (1952) 44‑61.191‑203.255‑268; Ramos, C., Um apóstolo de Maria (Barcelona 1954) 368 págs.; Lozano, J. M., O Coração de Maria em Santo Antônio Maria Claret (Madrid 1963) 286 págs.; Leghisa, A., O Coração de Maria e a Congregação no momento atual (Roma 1978) 62 págs.

*2 Cf. Ducos, J.‑Ch., Le pasteur apostolique (Paris 1861) t. 1 p. 438. Claret toma a estrutura da carta deste autor e o segue de perto na redação de alguns parágrafos.

*3 Cf. Santo Tomás,Summa theol. 2‑2 q. 23 a. 1c.

*4 No original autografado, o Pe. Claret cancelou a frase seguinte: «A fim de que nós a amemos e a ela acudamos sempre» (Mss. Claret, VIII, 522). Este parágrafo, que fala das relações da Virgem com a Santíssima Trindade, tomou também de Ducos (o. c., p. 438). Já em outras ocasiões o Santo tinha indicado esta mesma doutrina (cf.Carta pastoral sobre a Imaculada [Santiago de Cuba 1855] pp. 3, 5 y 37; O colegial instruído [LR, Barcelona 1861] t. 2 p. 501).

*5 No original autografado “partar”.

*6 Cf Santo Tomás, Summa theol. 3 q. 27 a. 4c. Na segunda edição do opúsculo claretiano Tardes de verão na real Chácara de Santo Ildefonso chamado A Granja (LR, Barcelona 1865, p. 121) se lêem estas palavras: «É regra geral que, quando Deus escolhe uma criatura racional para uma dignidade singular ou para um estado sublime, lhe dá todos os carismas de graça que à dignidade ou estado de dita pessoa são necessários e convenientes a seu esplendor» (São Bernardino de Sena, Sermo 10 a. 2 c. 1: Opera [Venetiis 1591] t. 3 p. 118 col. 2). Citado por Santo Alfonso Maria de Ligorio, As glórias de Maria (Barcelona 1870) pp. 197‑198.

*7 Claret vê a filiação mariana, sobretudo, através do Coração de Maria, que encerra dois aspectos principais: um amoroso e outro militante. Maria é a Mãe do Amor Formoso (cf. Aut. n. 447; Religiosas em suas casas [Barcelona 1850] p. 147): “Mãe do Amor Formoso..., concedei a todos os justos este divino amor; vo-lo rogo pelo amor que Deus vos tem” (ib., p. 155). O Coração de Maria é “frágua e instrumento do amor” (Aut. n. 447) e representa toda a vida interior da Virgem Maria, sendo habitação e paraíso de Deus (cf. Religiosas em suas casas, ed. cit. p. 105), centro de suas recordações e meditações (cf. A colegial instruída [Madrid 1864] pp. 423‑424) e cópia exata do Coração de Jesus (Mss. Claret, VIII, 501: “O Coração de Maria é a cópia mais exata do Coração de Jesus”. Mas o Coração de Maria é, ainda, manancial de força apostólica. Assim o viu na Arquiconfraria do Coração de Maria por ter lido e por experiência própria. “Ontem, escreve a D. Caixal, no dia 2 de agosto de 1847, fundamos a Arquiconfraria do Coração de Maria. Agora vamos continuar a novena. Já fiz e dá fruto. Muita gente assistiu a função. São muitas as paróquias que a pedem” (EC, I, pp. 234). E poucos dias depois, no dia 12 de agosto, lhe diz: “Quisera que se fizesse correr pela terra e por toda a Espanha a novena ao Coração de Maria” (EC, I, p. 236). O mesmo adjetivo imaculado, com que designa sempre o Coração de Maria, indica o aspecto apostólico e militante desta devoção, como sucede ao falar da Imaculada. Tanto o aspecto amoroso como o militante os tem presentes, sobretudo, quando comenta o nome de Filhos do Imaculado Coração de Maria dado a seus missionários (cf. Aut. n. 492‑494; Viñas, J. M., art. cit., pp. 201‑225).

*8 Cf. Ducos, J.‑Ch., o. c., pp. 438‑439.

*9 Cf. Santo Tomás, Summa theol. 3 q. 27 a. 5.

*10 Cf. Claret, Tardes de verão, ed. cit., p. 173.

*11 Cf. Sal 20, 4.

*12 Cf. Gallifet, J. De l’excellence de la dévotion au Coeur adorable de Jésus‑Christ (Paris 1861) t. 1 p. 46ss; Mss. Claret, VIII, 502.

*13 Cf. Gallifet, J., o. c. pp. 264ss.

*14 Cf. Castiglione, L., Il Cuore di Maria aperto a tutti (Napoli 1850) p. 4, Mss. Claret, VIII, 502.

*15 «Se veneramos as relíquias dos santos, quanto mais o Coração de Maria! Que relíquia tão insigne!» (Mss. Claret, VIII, 503). Este mesmo argumento utilizavam São João Eudes e o P. Gallifet (o. c., p. 75).

*16 Devido ao influxo de Gallifet, o coração como órgão material ocupa aqui o primeiro plano, no entanto, Claret insiste quase sempre no coração espiritual e no que ele significa e representa.

*17 No original autografado, o Santo cancelou a palavra “puríssimo” e escreveu encima “imaculado”.

*18 Os escritores espirituais indicaram com freqüência as relações existentes entre o Coração de Maria e a encarnação do Verbo. M. Agreda fala das três gotas de sangue do Coração de Maria com as que as três pessoas da Trindade formaram o corpo do Senhor (cf. Mística cidade de Deus, LR [Barcelona 1860] t. 3 p. 239). A isto alude São João de Ávila em um sermão sobre a Assunção (cf. Obras completas, BAC [Madrid 1970] t. 3 p. 168). Caetano havia combatido esta teoria, chamando-a «erro novo nascido em nossos dias». O Padre Claret tinha feito alusão a esta opinião no Catecismo explicado (Barcelona 1849, p. 69). Em 1864, ao ser submetido o Catecismo único à censura de Roma, o censor pediu que se tirasse a menção das três gotas de sangue, fundando-se no comentário de Caetano a Santo Tomás (q. 31 a. 6). O Santo suprimiu o lugar citado pelo censor e achou dois argumentos que o convenceram: o ser contrário à Sagrada Escritura e à maternidade divina de Maria, marcando à margem ditas passagens (cf. Summa theologica cum Commentariis Thomae de Vio Cardinalis Caietani [Roma 1773] t. 7 p. 401. Ex libris). Desde então nas edições do Catecismo se suprimiu esta menção e o Santo corrigiu o texto desta carta, acrescentando as palavras “saída” e “nas entranhas de Maria”. Isto nos permite datara a Carta a um devoto do puríssimo e imaculado Coração de Maria, que foi redigida não muito antes de abril de 1864, data em que recebeu a censura romana do Catecismo (cf. Fernández, C., O Beato Antônio Maria Claret [Madrid 1946] t. 2 p. 547).

*19 Cf. Gallifet, J., o. c., p. 264ss.

*20 Cf. Claret, Tardes de verão, ed. cit., p. 123; Santo Tomás, Summa theol. 3 q. 35 a. 4c.

*21 Cf. Santo Tomás de Vilanova, Sermão 3 para a Natividade dede Nossa Senhora: Obras, BAC (Madrid 1952) p. 203. Afirmações parecidas se encontram em São Bernardino, São Boaventura e Suarez (cf. Santo Alfonso Maria de Ligorio, As glórias de Maria [Barcelona 1870] pp. 332‑334).

*22 No original autografado, cancela, “que exclamou Santa Isabel”.

*23 Lc 1, 42. Claret toma este parágrafo quase literalmente de Ducos, J.‑Ch., o. c., p. 440.

*24 Cf.Summa Theol. 3 q. 27 a. 5 ad 2. O exemplo de Santo Tomás se refere à preparação da Virgem Maria para a maternidade divina.

*25 Cf. Santo Tomás, ib.

*26 Cf. Atos 10, 38.

*27 Cf. Lc 2, 19: Maria... conservava todas estas coisas dentro de si, meditando-as em seu coração. Texto marcado com um traço marginal no exemplar do Novo Testamento de Torres Amat.

*28 Cf. Sal 39, 4. Frase freqüentemente citada por Claret ao falar da oração.

*29 O manuscrito autografado cita o Speculum c. 1. Se refere ao Speculum Beatae Mariae Virginis, atribuído hoje a Conrado de Saxônia (cf. Bibliotheca Franciscana Medii Aevi [Quaracchi 1904] t. 2 introd. p. 9.127).

*30 A doutrina sobre estas prerrogativas de Maria, de 2 a 7, as toma de Ducos, J.‑CH., o. c., pp. 441‑442.

*31 Cf. Speculum Beatae Mariae Virginis c. 6 p. 83. realmente, a frase citada por Conrado de Saxônia é de São Bernardo (Sermo 2 de Annuntiatione n. 2: PL 183, 391: Obras completas, BAC [Madrid 1953] t. l, p. 666).

*32 Cf. Mt 5, 17.

*33 Lc 2, 51: E lhes estava sujeito. Texto marcado no Novo Testamento de Torres Amat.

*34 Cf. Homil. 1 super “Missus est” n. 7ss: PL 183, 59ss: Obras completas, BAC, ed. cit., t. 1 p. 190.

*35 Hesíquio de Jerusalém, Homil. 2 de Beata Virgine:PG 93, 1461. Claret cita esta frase em seu livro Tardes de verão (ed. cit., p. 133). Leu em Ducos, J.‑Ch., o. c., p. 442, n. 2. O sentido da frase não é o que tradicionalmente lhe deram os autores espirituais. A palavra complementum, que responde à palavra grega pléroma, não significa no contexto de Hesíquio complemento, mas morada, habitação.

*36 Cf. Jo 1, 3.

*37 Cf. Ducos, J ‑Ch., o. c., p. 444.

*38 Cf. São Bernardo, Sermo 1 de Assumptione n. 1: Obras completas, BAC, ed. cit., t. 1 p. 703.

*39 Cf. Speculum Beatae Mariae Virginis, c. 6.

*40 Claret cancelou “graças” e escreveu encima “misericórdias”. Estas frases as toma também de Ducos, J.‑Ch., o. c., p. 42.

*41 Cf. ib., p. 443.

*42 “pescoço” apagado. Depois escreveu “como o pescoço”.

*43 O manuscrito autografado, copiando Ducos, cita São Jerônimo. Refere ao texto tradicional da Carta a Paula e Eustóquio sobre a Assunção (PL 30, 16ss), que hoje se atribui a Pascásio Radberto. Realmente, este autor não chama a Virgem Maria pescoço do Corpo místico. O primeiro que o disse foi Ubertino de Casale comentando as palavras do Pseudo‑Jerônimo (cf. Arbor vitae crucifixae); cf. São Pedro Damião, Sermo 46: PL 144,753; Santo Agustinho, Sermo 123 n. 2: PL 39,1991; De praedestinatione sanctorum 15 31: PL 44,982‑983; São Fulgêncio, Sermo 36: PL 65, 899. Também se acha esta idéia em Germano de Tournai, que afirma: «Collum inter caput et corpus medium est, caputque iungit corpori. Collum ergo sanctae Ecclesiae competenter Domina nostra intelligitur quae, inter Deum et homines Mediatrix existens, dum Dei Verbum incarnatum genuit, quasi caput corpori, Christum Ecclesiae, divinitatemque humanitati nostrae coniunxit» (Tractatus de Incarnatione Christi 8: PL 180, 30). Aparece também com nitidez em São Bernardino de Sena, que diz: «Sicut per collum spiritus vitales a capite diffunduntur per corpus: sic per virginem a capite Christo vitales gratiae in eius mysticum corpus, et specialius in amicos atque devotos, continue transfunduntur» (Sermo 5 de Nativ. B. M. V. c. 8).

*44 Cf. o hino Ave, maris stella... felix caeli porta; São Bernardo, In vigilia Nativit. Domini. sermo 3 n. 10 (PL 183, 100): «Nada quis Deus que não passasse pelas mãos de Maria» (Obras completas, BAC, ed. cit., t. 1 p. 247).

*45 São Pedro Damião, Sermo 46: PL 144, 753: «fenestra caeli, ianua paradisi..., scala caelestis», São Bernardo, In Nat. B. M. V. sermo de aquaeductu n. 7 (PL 183, 441): «scala peccatorum» (Obras completas, BAC, ed. cit., t. 1 p. 741).

*46 No original autografado escreveu: “escalando pela penitência”, frase que depois apagou.

*47 Cf. Ducos, J.‑Ch., o. c., p. 443. Recordemos que o Pe. Claret tinha escrito um opúsculo intitulado A escada de Jacó e porta do céu, ou, súplicas a Maria Santíssima (Barcelona 1846) 32 págs.

*48 São Bernardo, Sermo de nativitate de aquaeductu n. 7: Obras completas, BAC, ed. cit., t. 1 p. 741: «Esta é a escada dos pecadores, esta é minha maior confiança, esta é toda a ração da minha esperança».

*49 Santo Efrém, Sermo de laudibus Beatae Virginis: «Ela é a única advogada dos pecadores, porto muito seguro e salvação de todos os náufragos».

*50 «Não se horroriza com o pecador, embora esteja fedendo..., contanto que possa reconciliá-lo com o tremendo juiz» (São Bernardo,In deprecat. ad B. Virg.). Citado por Ducos, J.‑Ch., o. c., t. 1 p. 443 nt. 3).

NOTA: Este opúsculo claretiano foi publicado no volume: Santo Antônio Maria Claret, Escritos Espirituais (BAC, Madrid 1985) pp. 496‑506; e em: Santo Antônio Maria Claret, Escritos Marianos (Publicaciones Claretianas, Madrid 1989) pp. 382‑292.

Fonte: Claretianos

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Imitação de Cristo III - Cap. 21 - Como se deve descansar em Deus sobre todos os bens e dons




1 - A ALMA: Ó minha alma, em tudo e acima de tudo descansa sempre no Senhor, porque ele é o eterno repouso dos santos. Daí-me, ó dulcíssimo e amantíssimo Jesus, que eu descanse em vós mais que em toda criatura; mais que na saúde e formosura; mais que na glória e honra, no poder e dignidade; mais que em toda ciência e sutileza; mais que em todas as riquezas e artes; mais que na alegria e no divertimento; mais que na fama e no louvor; mais que nas doçuras e consolações, esperanças e promessas, desejos e méritos; mais que em todos os dons e dádivas que me podeis dar e infundir; mais que em todo gozo e alegria que minha alma possa experimentar e sentir; finalmente, mais que nos anjos e arcanjos e todo o exército celeste; acima de todo o visível e invisível, acima, enfim, de tudo aquilo que vós, meu Deus, não sois.
2 - Porquanto vós, meu Deus, sois bom acima de todas as coisas. Só vós sois altíssimo, só vós poderosíssimo, só vós suficientíssimo e pleníssimo, só vós suavíssimo e verdadeiro consolador, só vós formosíssimo e amantíssimo, só vós nobilíssimo e gloriosíssimo sobre todas as coisas, em quem se olham, a um tempo e plenamente, todos os bens passados, presentes e futuros. Por isso é mesquinho e insuficiente tudo quanto fora de vós mesmo me dais, revelais ou prometeis, enquanto vos não vejo e possuo inteiramente; porque meu coração não pode descansar verdadeiramente, nem estar totalmente satisfeito a não ser em vós, acima de todos os dons e de todas as criaturas.
3 - Ó meu Jesus, esposo diletíssimo, amante puríssimo, senhor absoluto de toda a criação, quem me dera às asas da verdadeira liberdade para voar e repousar em vós! Oh! Quando me será concedido ocupar-me totalmente de vós e experimentar vossa doçura, Senhor meu Deus! Quando estarei tão perfeitamente recolhido em vós, que não me sinta a mim mesmo por vosso amor, mas só a vós, acima de toda sensação e medida, que nem todos conhecem! Agora, porém, não cesso de gemer, e levo, cheio de dor, o peso de minha infelicidade; pois neste vale de lágrimas sucedem tantos males, que muitas vezes me perturbam, entristecem e anuviam a alma; outras vezes me embaraçam, distraem, atraem e emaranham, para me impossibilitar vosso acesso e me privar das doces carícias, que gozam sempre os espíritos bemaventurados! Deixai-vos enternecer por meus suspiros e tantas amarguras que padeço nesta terra.
Ó Jesus, esplendor da eterna glória, consolo da alma desterrada, diante de vós emudece minha boca e 
4 - meu silêncio vos fala: Até quando tardará a vir o meu Senhor? Venha a este seu servo pobrezinho, trazer-lhe alegria; estenda-lhe a mão e livre este miserável de toda angústia. Vinde, vinde, porque sem vós não posso ter nem um dia, nem uma hora feliz, pois vós sois minha alegria, e sem vós está vazio meu coração. Miserável sou, como que preso e carregado de grilhões, enquanto me não recreeis com a luz de vossa presença e me deis a liberdade, mostrando-me benigno semblante.
5 - Busquem outros o que quiserem em lugar de vós, a mim nenhuma coisa me há de agradar jamais, senão, vós, meu Deus, minha esperança e salvação eterna. Não calarei, nem cessarei de orar, até que volte vossa graça, e vós me faleis no interior.
6 - JESUS: Aqui me tens, venho a ti, porque me chamaste. Moveram-me tuas lágrimas e os desejos de tua alma; a humildade e a contrição do teu coração me trouxeram a ti.
7 - A ALMA: Eu disse: Chamei-vos, Senhor, e desejei gozar-vos, disposto a desprezar tudo por vosso amor, que vós primeiro me inspirastes buscar-vos. Sede, pois, bendito, Senhor, pela bondade que usais para com vosso servo, segundo vossa infinita misericórdia. Que mais pode fazer vosso servo em vossa presença, senão humilhar-se profundamente diante de vós, e lembrar-se sempre de sua maldade e vileza? Pois nada há semelhante a vós, entre todas as maravilhas do céu e da terra. Vossas obras são perfeitíssimas, vossos juízos verdadeiros, e vossa providência governa todas as coisas. Louvor e glória, pois, a vós, ó Sabedoria do Pai, minha boca vos louva e minha alma vos engrandece, juntamente com todas as criaturas. 
Imitação de Cristo III, Tomás de Kempis

Comentário do Evangelho do dia (27/10) feito por Santo Agostinho



(354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Discursos sobre os salmos, Sl 85, 2-3


«Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador.»

 
«Inclinai, Senhor, os vossos ouvidos, respondei-me» (Sl 85,1). O Senhor não inclina o ouvido para o rico, mas para o pobre e indigente, para o que é humilde e confessa as suas faltas, para o que implora misericórdia e não para o que se sente saciado, se engrandece, se auto-elogia como se nada lhe faltasse e diz: «Dou-Te graças por não ser como este cobrador de impostos.» Enquanto este fariseu rico exaltava os seus méritos, o pobre publicano confessava seus pecados. […]

Todos os que recusam o orgulho são pobres perante Deus e sabemos que Ele inclina o seu ouvido para os pobres e para os indigentes; para os que reconhecem que a sua esperança não pode assentar no ouro, nem no dinheiro, nem nesses bens que se possuem em abundância, mas temporariamente. […] Quando alguém despreza em si mesmo tudo aquilo que o orgulho inflama é um pobre de Deus. Deus inclina para ele o seu ouvido, porque conhece os sofrimentos do seu coração […]

Aprendei pois a ser pobres e indigentes, tendo ou não algum bem neste mundo. Pode encontrar-se um mendigo orgulhoso e um rico trespassado do sentimento da sua própria miséria. «Deus resiste aos orgulhosos», quer se cubram de seda ou de farrapos; «e concede a sua graça aos humildes» (Tg 4,6; Pr 3,34), possuam ou não bens deste mundo. Deus considera o interior: é isso que Ele pesa e examina; tu não vês a balança de Deus, mas Ele põe no prato da balança os teus sentimentos, os teus projectos, os teus pensamentos. […] Se ao teu redor ou em ti há alguma coisa que te leva à auto-suficiência, rejeita-a. Que Deus seja toda a tua segurança. Sê um pobre de Deus, para que Ele te preencha de Si mesmo. 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

sábado, 26 de outubro de 2013

Comentário do Evangelho do dia (26/10) feito por São Leão Magno



(?-c. 461), papa, doutor da Igreja
20º sermão sobre a Paixão; SC 74bis


«Se não vos converterdes»

 
Esforcemo-nos por ser associados à Paixão de Cristo e por passar da morte à vida enquanto ainda estamos neste corpo. Porque passar por uma conversão, seja ela qual for, passar de um estado a outro, significa para todo o homem o fim de qualquer coisa – deixar de ser o que era – e o começo de outra – passar a ser o que não era. Mas é importante saber para que se morre e para que se vive, porque há uma morte que dá vida e uma morte que dá a morte.

E é precisamente neste mundo efémero que se obtém uma ou outra: da qualidade dos nossos actos neste mundo depende a diferença das retribuições eternas. Morramos, pois, para o demónio e vivamos para Deus; morramos para o pecado, para ressuscitar para a justiça; que o ser antigo desapareça, para se elevar o novo ser. Dado que, segundo a palavra da Verdade, «ninguém pode servir a dois senhores» (Mt 6,24), tomemos por senhor, não aquele que faz tropeçar os que estão de pé para os levar à ruina, mas Aquele que levanta os caídos para os conduzir à glória. 
 
 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (23/10) feito pela Beata Teresa de Calcutá



(1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
«Something Beautiful for God»


«Feliz o servo a quem o senhor, quando vier, encontrar procedendo assim»


Senhor muito amado, faz com que possa ver-Te, hoje e em cada dia, na pessoa dos teus doentes e, ao cuidar deles, servir-Te. Se Te esconderes sob o rosto desagradável dos coléricos, dos descontentes, dos arrogantes, faz com que, ainda assim, Te reconheça e diga: «Jesus, Tu és o meu paciente, como é doce servir-Te». Senhor, dá-me essa fé que vê claro e nunca mais a minha tarefa será monótona, e a alegria jorrará sempre quando me prestar aos caprichos e corresponder aos desejos dos teus pobres sofredores. […]

Meu Deus, uma vez que Tu és, Jesus, o meu paciente, digna-Te ser também para mim um Jesus de paciência, indulgente com as minhas faltas e tendo em conta a intenção, pois esta é amar-Te e servir-Te na pessoa de cada um dos teus doentes. Senhor aumenta a minha fé (Lc 17,5), abençoa os meus esforços e a minha tarefa, agora e sempre. 

Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (22/10) feito por São Gregório de Nissa



(c. 335-395), monge, bispo
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, n°11, 1; PG 44, 996


«Com os cintos apertados e as lâmpadas acesas»

 
É para que o nosso espírito se liberte de todas as miragens que o Verbo nos convida a sacudir dos olhos da alma este sono pesado, para que não escorreguemos para fora das realidades verdadeiras agarrando-nos ao que não tem consistência. É por isso que nos propõe a imagem da vigilância, dizendo-nos: «Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas.» O sentido destes símbolos é bem claro: aquele que está cingido pela temperança vive na luz de uma consciência pura, porque a confiança filial ilumina a sua vida como uma lâmpada; iluminada pela verdade, a sua alma desembaraça-se do sono da ilusão, pois nenhum pensamento vão a desvia do seu caminho.

São eles, com efeito, que esperam o Senhor no regresso das bodas, e que se sentam às portas do céu com olhos vigilantes, para que o Rei glorioso (Sl 23,7) ali possa passar de novo, quando regressar das bodas e entrar na bem-aventurança que está no alto dos céus. Saindo dali «como um esposo do seu leito» (Sl 18,6) […], Ele uniu a Si, qual virgem, a nossa natureza que se prostituíra aos ídolos, tendo-a restituído à sua integridade virginal pela regeneração sacramental. As bodas completaram-se nesse momento, pois a Igreja foi desposada pelo Verbo […] e, introduzida na câmara dos mistérios, os anjos esperavam o regresso do Rei da glória para a bem-aventurança que é conforme à sua natureza.

Eis porque o texto diz que a nossa vida deve ser semelhante à dos anjos. Tal como eles vivem longe do vício e da ilusão, prontos a receber a parúsia do Senhor, devemos igualmente ficar vigilantes à porta da nossa morada e manter-nos prontos para obedecer, quando Ele vier bater-nos à porta. 
 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (21/10) feito por Santo Isaac, o Sírio



Século VII, monge perto de Mossul
Discursos ascéticos, 1ª série, nº 38

«Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida»

 
Senhor, torna-me digno de desprezar a minha vida pela vida que há em Ti. A vida neste mundo parece-se com aqueles que se servem das letras para formar palavras, acrescentando, truncando e mudando as letras a seu bel-prazer. Mas a vida do mundo que há-de vir parece-se com aquilo que está escrito sem o menor erro nos livros selados com o selo real, onde nada há a acrescentar e onde nada falta. Portanto, enquanto estivermos no meio da mudança, estejamos atentos as nós próprios. Enquanto tivermos poder sobre o manuscrito da nossa vida, sobre aquilo que escrevemos com as nossas mãos, esforcemo-nos por lhe acrescentar o bem que fazemos e apagar os defeitos da nossa conduta anterior. Enquanto estivermos neste mundo, Deus não coloca o seu selo, nem sobre o bem nem sobre o mal; só o fará na hora do nosso êxodo, quando a obra estiver acabada, no momento da partida.

Como disse Santo Efrém, é preciso considerar que a nossa alma é como um navio, pronto para a viagem, mas que não sabe quando virá o vento; ou como um exército, que não sabe quando vai soar a trombeta, anunciando o combate. Se ele fala assim do navio ou do exército, que esperam uma coisa que talvez nem chegue, como não teremos nós de nos preparar com antecedência, antes que esse dia venha de modo brusco, que seja lançada a ponte e se abra a porta do mundo novo! Possa Cristo, o Mediador da nossa vida, permitir que estejamos preparados. 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (20/10) feito por Santo Agostinho



(354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Discursos sobre os salmos, Sl 37, 14

«Jesus disse aos seus discípulos uma parábola sobre a obrigação de orar sempre»

«Senhor, diante de Vós está todo o meu desejo» (Sl 37,10). […] O teu desejo é a tua oração; se o teu desejo for contínuo, a tua oração também será contínua. Não foi por acaso que o apóstolo Paulo disse: «Orai sem cessar» (1Ts 5,17). Di-lo-á porque sem cessar nos ajoelhamos, nos prostramos ou levantamos as mãos para Deus? Se dissermos que só nestas condições é que oramos, não creio que o possamos fazer sem cessar.

Mas há uma outra oração, interior, que não cessa: é o desejo. Qualquer que seja a ocupação a que te entregues, se desejares aquele repouso do sabbath de que falamos, rezarás sem cessar. Se não quiseres deixar de orar, não deixes de desejar.

O teu desejo é contínuo? Então o teu grito será contínuo. Só te calarás se deixares de amar. Quem são os que se calaram? São aqueles de quem se diz: «E por se multiplicar a iniquidade, resfriará a caridade da maioria» (Mt 24,12). A caridade que arrefece é o coração que se cala; a caridade que arde é o coração que grita. Se a caridade subsistir sem cessar, gritarás sem cessar; se gritares sem cessar, é porque continuas a desejar; se estiveres cheio deste desejo, é porque pensas no repouso eterno.


Créditos: Evangelho Quotidiano

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Comentário do Evangelho do dia (19/10) feito por São Rafael Arnaiz Baron



(1911-1938), monge trapista espanhol
Escritos espirituais, 1938/04/03

 
«Quem der testemunho de Mim diante dos homens, o Filho do homem dará testemunho dele diante dos anjos»

 
Pego hoje na pena para que as minhas palavras, estampando-se na folha em branco, sirvam para louvar perpetuamente o Deus bendito, autor da minha vida, da minha alma, do meu coração. Gostaria que todo o universo, com os planetas, todos os astros e os incomensuráveis sistemas estelares, fosse uma enorme extensão, polida e brilhante, onde eu pudesse escrever o nome de Deus. Gostaria que minha voz fosse mais potente que mil trovões, mais forte que o bramido do mar, mais terrível que o estrondo dos vulcões, apenas para dizer: Deus! Gostaria que o meu coração fosse tão grande quanto o céu, puro como o dos anjos, simples como o da pomba (Mt 10,16), para nele colocar Deus! Mas, uma vez que toda esta grandeza com que sonhas não pode tornar-se realidade, contenta-te com o pouco e contido nada que és, meu irmão Rafael, porque o próprio nada deve satisfazer-te. […]

Porquê calar-me? Porquê escondê-lo? Porque não gritar ao mundo e publicar aos quatro ventos as maravilhas de Deus? Porque não dizer às pessoas e a todos os que querem ouvir: vedes aquilo que sou? Vedes o que fui? Vedes a minha miséria rastejando na lama? Pois pouco importa; maravilhai-vos: apesar de tudo isso, tenho Deus. Deus é meu amigo! Que o solo se afunde, e que o mar seque de espanto! Deus ama-me, a mim, com um tal amor que, se o mundo inteiro o entendesse, todas as criaturas se tornariam loucas e bradariam de assombro. E mesmo assim, seria pouco. Deus ama-me tanto, que nem os anjos o entendem!

A misericórdia de Deus é grande! Amar-me, a mim; ser meu amigo, meu irmão, meu pai, meu mestre. Ser Deus, e eu, ser o que sou! […] Como não enlouquecer; como é possível viver, comer, dormir, falar e lidar com as pessoas? […] Como é isso possível, Senhor! Eu sei; tu explicaste-me: é o milagre de tua graça. 
 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (18/10) feito por Santo Ireneu de Lyon



(c. 130-c. 208), bispo, teólogo, mártir
Contra as Heresias, III, 14-15; SC 34 


São Lucas, companheiro e colaborador dos apóstolos

 
Lucas era inseparável de Paulo e foi seu colaborador na pregação do Evangelho, como ele próprio evidencia, não para se glorificar, mas impelido pela verdade. Com efeito, quando Barnabé e João, chamado Marco, se separaram de Paulo e embarcaram para Chipre, Lucas escreveu: «Embarcámos para Tróade» (Act 16,8.11) […];e descreve detalhadamente toda a viagem e a sua chegada a Filipos, onde anunciaram a Palavra pela primeira vez. […] No relato da viagem com Paulo conta as situações com toda a precisão possível. […] Estando presente em todos os acontecimentos, Lucas registou-os de maneira precisa; não se pode encontrar nele mentira nem orgulho, porque todos aqueles factos eram conhecidos. […]

Lucas não foi apenas companheiro, mas também colaborador dos apóstolos, sobretudo de Paulo, que o diz claramente nas suas cartas: «Demas abandonou-me por amor das coisas do presente século e foi para Tessalónica, Crescente partiu para a Galácia e Tito para a Dalmácia; só Lucas está comigo» (2Tim 4,9-11). Isto prova claramente que Lucas esteve sempre ligado a Paulo, de maneira inseparável. Também na carta aos Colossenses se lê: «Saúda-vos Lucas, o caríssimo médico» (Col 4,14). […]

Por outro lado, conhecemos muitos acontecimentos do Evangelho – e dos mais importantes – unicamente por Lucas. […] Quem sabe, de resto, se Deus não fez de modo a que muitas passagens do Evangelho tivessem sido reveladas apenas por Lucas […] para que todos se deixassem guiar pelo testemunho que vem em seguida [no seu segundo livro] sobre os actos e a doutrina dos apóstolos e que, guardando assim inalterada a regra da verdade, pudessem ser todos salvos. Assim, o testemunho de Lucas é verdadeiro; o ensinamento dos apóstolos é manifesto, sólido, e nada esconde. […] Tais são as vozes da Igreja, de onde toda a Igreja retira a sua origem. 
 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (17/10) feito por São Gregório de Narek



(c. 944-c. 1010), monge e poeta arménio
Livro de Orações, nº 77

 
«Os doutores da Lei e os fariseus começaram a pressioná-Lo fortemente com perguntas»

 
Mau grado o temor tingido de alegria, quero agora aqui contar um pouco dos tormentos que Tu, meu Deus e de todos, sofreste por mim.

De pé no tribunal dos homens, a quem criaste,
Numa natureza que era também a minha,
Não proferiste uma palavra, Tu que a permites,
Não elevaste a voz, Tu que criaste as línguas,
Não soltaste um grito, Tu por quem a terra existe, […]
Não abandonaste à sua sorte quem Te abandonou ao Teu martírio,
Não ofereceste resistência a quem Te atava,
Nem Te indignaste contra quem Te esbofeteava.
Não injuriaste quem Te cuspia na cara,
Nem estremeceste perante quem Te agredia,
Não Te enfureceste contra quem de Ti escarnecia,
Nem alteraste o semblante a quem Te condenava. […]

Longe de Te darem um momento de descanso, a Ti, fonte da vida,
Depressa Te puseram às costas, para a levares, a cruz do suplício,
Que recebeste com magnanimidade,
Tomaste com doçura,
Soergueste com paciência,
E, como um culpado,
Te encarregaste dela, da cruz das dores! 
 
 
Créditos: Evangelho  Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (16/10) feito Beato John Henry Newman



(1801-1890), presbítero, fundador do Oratório em Inglaterra
Sermão «Ceremonies of the Church»

 
A tradição e a vontade de Deus

 
Pouco importa como aprendemos a conhecer a vontade de Deus – seja através da Escritura, seja através da tradição apostólica, ou daquilo a que São Paulo chama a «natureza» (cf Rom 1,20) –, desde que estejamos certos de que essa é mesmo a sua vontade. Na realidade, Deus revela-nos o conteúdo da fé por inspiração, porque a fé é de ordem sobrenatural; mas revela-nos as questões práticas do dever moral pela nossa própria consciência e pela razão divinamente guiada.

As questões puramente formais, revela-no-las através da tradição da Igreja, pelo costume que nos leva a pô-las em prática, embora o costume não venha na Escritura; isto para responder à questão que podemos colocar a nós próprios: «Para que havemos de observar ritos e formas que a Escritura não prescreve?» A Escritura transmite-nos aquilo em que é necessário acreditar, aquilo para que devemos tender, o que devemos manter. Mas não estabelece a forma concreta de o fazer. Uma vez que não podemos praticar isso senão desta ou daquela forma precisa, somos forçados a acrescentar alguma coisa àquilo que nos diz a Escritura. Por exemplo, ela recomenda-nos que nos reunamos para a oração e associa a sua eficácia […] à união dos corações. Mas, como não indica nem o momento nem o local da oração, a Igreja tem que completar o que a Escritura se contentou em prescrever de forma genérica. […]

Podemos dizer que a Bíblia nos dá o espírito da nossa religião, e que a Igreja tem de organizar o corpo em que o espírito incarna. […] A religião não existe de forma abstracta. […] As pessoas que tentam adorar a Deus duma forma (dizem elas) «puramente espiritual» acabam por, de facto, não O adorar de todo. […] Portanto, a Escritura dá-nos o espírito e a Igreja o corpo da nossa devoção. E, assim como não podemos ver o espírito dum homem sem ser por intermédio do seu corpo, assim também não podemos compreender o objeto da nossa fé sem a sua forma exterior. 
 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (15/10) feito por São Rafael Arnaiz Baron



(1911-1938), monge trapista espanhol
Escritos espirituais, 04/03/1938

 
«Dai em esmola tudo o que possuís e para vós tudo ficará limpo»

 
Deus encontra-Se no coração desapegado, no silêncio da oração, no sofrimento como sacrifício voluntário, no esvaziamento do mundo e das suas criaturas. Deus está na cruz, e enquanto não amarmos a cruz não O veremos, não O sentiremos. Calai-vos, homens, que não parais de fazer barulho!

Ah, Senhor, que feliz me sinto no meu retiro, como Te amo na minha solidão, quereria oferecer-Te aquilo que já não tenho, pois já Te dei tudo! Pede-me Senhor. Mas que posso eu dar-Te? O meu corpo, já o possuis, é teu; a minha alma, Senhor, por quem suspira ela, se não por Ti, para que Tu no fim venhas tomar posse dela? O meu coração está aos pés de Maria, chorando de amor e sem mais nada querer a não ser a Ti. A minha vontade: por acaso desejo eu, Senhor, alguma coisa que Tu não desejes? Diz-me; diz-me, Senhor, qual é a tua vontade e colocarei a minha em uníssono com a tua. Amo tudo o que Tu me envias e me dás, quer seja a saúde, quer seja a doença, quer seja estar aqui ou ali, ou ser uma coisa ou outra; toma a minha vida, Senhor, quando quiseres. Como é possível não ser feliz assim?

Se o mundo e os homens soubessem! Mas não o saberão: estão demasiado ocupados com os seus interesses, têm o coração demasiado cheio de coisas que não são Deus. O mundo vive muito com uma finalidade terrena; os homens sonham com esta vida em que tudo é vaidade, e assim não conseguem encontrar a verdadeira felicidade, que é o amor de Deus. Talvez consigam chegar a compreender essa felicidade, mas para a sentirem, são muito poucos os que renunciam a si próprios e tomam a cruz de Jesus (cf Mt 16,24), mesmo entre os religiosos. Senhor, as coisas que Tu permites! A tua sabedoria sabe o que faz. Mas segura-me na tua mão e não permitas que os meus pés escorreguem, pois sem Ti quem virá em meu socorro? E «se o Senhor não edificar a casa» (Sl 127,1)… Ah Senhor, como Te amo! Até quando, Senhor? 
 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (14/10) feito por São Justino



(c. 100-160), filósofo, mártir
Diálogo com Trifão, 106-107

O sinal de Jonas

 
O Filho sabia que o Pai, segundo o seu desejo, Lhe daria tudo, que O ressuscitaria de entre os mortos, e exortou todos os que temem a Deus a louvá-Lo por ter tido compaixão pela raça de homens crentes graças ao mistério do Crucificado (cf Sl 21,24). Para além disso, esteve entre os seus irmãos apóstolos após a sua ressurreição de entre os mortos […], e eles arrependeram-se por se terem afastado dele durante a crucifixão […].

Ele devia ressuscitar ao terceiro dia após a crucifixão; eis porque está escrito nas Memórias dos apóstolos [os evangelhos] que os judeus que com Ele conversavam disseram: «Mostra-nos um sinal.» Ele respondeu-lhes: «O único sinal que vos será dado é o de Jonas.» Com tais palavras veladas, podiam os auditores compreender que após a crucifixão, ao terceiro dia, Ele ressuscitaria. Mostrava-lhes assim que havia mais maldade nos seus compatriotas que na cidade de Nínive; porque quando, sendo lançado ao terceiro dia para fora do ventre do grande peixe, Jonas anunciou aos ninivitas que após três dias pereceriam em massa (3,4 LXX), estes proclamaram jejum a todos os seres vivos, homens e animais, com vestes de luto, com violentos lamentos, verdadeira penitência e a renúncia à injustiça. Eles acreditaram que Deus é misericordioso, que é «um espírito benevolente» (Sb 1,6), para todos aqueles que fogem do mal. De tal forma que, desde o momento em que o rei desta cidade em pessoa e os homens importantes passaram também a envergar vestes de luto e perseveraram no jejum e na oração, a cidade não foi destruída.

Ora, como Jonas ficou triste com isto […], Deus repreendeu-o por se ter injustamente desencorajado com o facto de a grande cidade de Nínive não ter sido ainda destruída. E disse […]: «E não hei-de Eu compadecer-me da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem distinguir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda?» (4,11). 
 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (13/10) feito por São Claude de la Colombière



(1641-1682), jesuíta
Retiro de 1674, quarta semana (Escritos espirituais)

«Caiu aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu-Lhe»

 
Na meditação do amor de Deus, fiquei emocionado à vista dos bens que recebi de Deus desde o primeiro momento da minha vida até hoje. Que bondade! Que cuidado! Que providência para o corpo e para a alma! Que paciência! Que bondade! […] Deus fez-me penetrar, parece-me, e ver claramente esta verdade: em primeiro lugar, que está em todas as criaturas; em segundo, que é tudo o que há de bom nelas; e em terceiro, que nos faz todo o bem que recebemos delas. E pareceu-me ver este rei de glória e de majestade aplicado a aquecer-nos na roupa que vestimos, a refrescar-nos no ar que respiramos, a alimentar-nos na carne que comemos, a alegrar-nos nos sons e nos objectos agradáveis, a produzir em mim todos os movimentos necessários para viver e agir. Que maravilha!

Quem sou eu, ó meu Deus, para ser assim servido por Vós em todo o tempo, com tanta assiduidade e em todas as coisas, com tanto cuidado e amor! Sucede o mesmo com todas as outras criaturas; mas tudo isto por mim, qual intendente zelador e vigilante que manda trabalhar em todos os locais do reino para seu rei. O que é mais admirável é o facto de Deus fazer isto por todos os homens, embora quase ninguém pense nisso, a não ser uma ou outra alma escolhida, uma ou outra alma santa. É preciso que pelo menos eu pense nisso, que fique reconhecido.

Imagino que, como Deus tem a sua glória como fim supremo de todas as suas acções, faz todas estas coisas principalmente pelo amor daqueles que pensam nisso e que admiram a sua bondade, que Lhe estão gratos, que aproveitam a ocasião para O amar; os outros recebem os mesmos bens como que por acaso e por sorte.[…] Deus traz-nos incessantemente o ser, a vida, as acções de tudo o que criou no universo. É essa a sua ocupação na natureza; a nossa deve ser a de receber sem cessar aquilo que Ele nos envia de todos os lados, e de Lho remeter por acções de graças, louvando-O e reconhecendo que Ele é o autor de todas as coisas. Prometi a Deus fazê-lo, na medida das minhas possibilidades. 
 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (12/10) feito pelo São Bernardo



(1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
Sermão 5 do Advento do Senhor, 2-3 (trad. Breviário 4ªfeira I semana do Advento)

 
«Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração» (Lc 2,51)

 
«Se alguém Me ama, guardará as minhas palavras, meu Pai o amará e Nós viremos a ele» (Jo 14,23). Lê-se também noutro lugar: «O que teme a Deus praticará o bem» (Sir 15,1). Mas penso que daquele que O ama Jesus diz mais do que isso ao afirmar «guardará as minhas palavras». E onde deverão ser guardadas? Sem dúvida alguma no coração, como diz o Profeta: «Guardei a vossa palavra em meu coração, para não pecar contra Vós» (Sl 119,11). Como havemos nós de guardar a palavra no coração? Será suficiente aprendê-la de cor para a ter na memória? De quem assim procede diz o Apóstolo Paulo: «o conhecimento incha de orgulho» (1Cor 8,1) e o esquecimento depressa apaga o que se confia à memória.

Conserva por isso a palavra de Deus como fazes com os alimentos [...], já que se trata do «pão da vida» (Jo 6,35), do verdadeiro sustento da alma. [...] Guarda também tu a palavra de Deus, porque são bem-aventurados os que a guardam (Lc 11,27). Guarda-a de tal modo que ela entre no mais íntimo da tua alma e penetre em todos os teus sentimentos e costumes. Alimenta-te deste bem e a tua alma deleitar-se-á na abundância. Não te esqueças de comer o teu pão, não suceda que desfaleça o teu coração; pelo contrário, sacia a tua alma com este manjar delicioso. E se assim guardares a palavra de Deus, certamente ela te guardará a ti. Virá a ti o Filho em companhia do Pai, virá o grande Profeta que reedificará Jerusalém e renovará todas as coisas (Act 3,22; Jl 4,1; Ap 21,5). 


Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (09/10) feito por São Cipriano



(c. 200-258), bispo de Cartago e mártir
Da Oração Dominical, 9/11 (Trad. Breviário, Ofício de Leitura, XI semana do Tempo Comum)

A oração dos filhos de Deus

 
Como são belos e grandiosos, irmãos caríssimos, os ensinamentos que nos revela a Oração do Senhor! São breves as palavras que os resumem, mas é grande o seu poder espiritual! [...] Diz o Senhor: «Orai assim: Pai nosso, que estais nos Céus.» O homem novo, renascido e restituído ao seu Deus por meio da sua graça, diz em primeiro lugar «Pai», porque já começou a ser filho. Diz a Escritura: «[O Verbo] veio para quem era seu, e os seus não O receberam; mas a todos quantos O receberam e nele creram, deu o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 11-12). Portanto, quem acredita no seu nome e se tornou filho de Deus deve começar por dar graças e professar que é filho de Deus ao chamar a Deus seu «Pai que está nos Céus». [...]

Como é grande a misericórdia do Senhor, como é grande a sua condescendência e a sua bondade para connosco! Ele quis que, ao orarmos na sua presença, O invocássemos com o nome de Pai, e assim como Cristo é o Filho de Deus, assim também nós nos chamássemos seus filhos! Nenhum de nós ousaria pronunciar este nome na oração se Ele próprio nos não tivesse permitido rezar assim.

Por isso, irmãos caríssimos, devemos lembrar-nos e saber que, chamando a Deus nosso Pai, devemos proceder como filhos de Deus para que, se nós nos honramos de ter a Deus como Pai, também Ele Se honre de nos ter a nós como filhos. Vivamos como templos de Deus (1Cor 3,16), de modo que a nossa vida seja um testemunho da presença de Deus em nós. 
 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Comentário do Evangelho do dia (08/10) feito pela Beata Isabel da Trindade



(1880-1906), carmelita
Último retiro

 
«Maria, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra»

 
«A vossa força está em ter confiança e em permanecer tranquilos» (cf Is 30,15). […] Conservar a nossa força no Senhor é unificar todo o nosso ser no silêncio interior, recolher todas as nossas potências para as ocupar num único exercício de amor; é ter o olhar simples que permite que a luz nos ilumine (cf Mt 6,22). Uma alma que discute com o seu eu, que atende às suas sensibilidades, que cultiva pensamentos inúteis ou qualquer desejo, essa alma dispersa as suas forças, não está ordenada em função de Deus; […] ainda tem demasiada humanidade, está em dissonância.

A alma que guarda ainda alguma coisa no seu próprio reino interior, cuja totalidade das potências não está ainda «encerrada» em Deus, não pode ser um perfeito «louvor da sua glória» (Ef 1,14); não está em condições de cantar sem interrupções o «canticum magnum», o grande cântico de que fala São Paulo, pois a unidade não reina nela; e, em vez de prosseguir no seu louvor através de todas as coisas com simplicidade, tem necessidade de reunir sem cessar todas as cordas do seu instrumento, que andam um pouco à deriva por todo o lado.

E como essa bela unidade interior é indispensável à alma que quer viver cá na terra a vida dos bem-aventurados, isto é, dos seres simples, dos espíritos! Parece-me que o Mestre falava disso quando disse a Maria Madalena: «Uma só coisa é necessária.» Que bem que esta grande santa compreendeu isto! O olhar da sua alma, iluminado pela luz da fé, tinha reconhecido o seu Deus sob o véu da humanidade e, no silêncio, na união das potências, «escutava a sua palavra». […] Sim, ela não sabia mais nada que não fosse Ele. 
 
 
Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (07/10) feito pelo Papa Bento XVI



Papa de 2005 a 2013
Encíclica «Deus caritas est», §15

«Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?»

A parábola do bom Samaritano (cf Lc 10,25-37) leva a dois esclarecimentos importantes. Enquanto o conceito de «próximo», até então, se referia essencialmente aos concidadãos e aos estrangeiros que se tinham estabelecido na terra de Israel, ou seja, à comunidade solidária de um país e de um povo, agora este limite é abolido. Qualquer um que necessite de mim e eu possa ajudá-lo, é o meu próximo.

O conceito de próximo fica universalizado, sem deixar todavia de ser concreto. Apesar da sua extensão a todos os homens, não se reduz à expressão de um amor genérico e abstracto, em si mesmo pouco comprometedor, mas requer o meu empenho prático aqui e agora. (...)

É preciso, enfim, recordar de modo particular a grande parábola do Juízo final (cf Mt 25,31-46), onde o amor se torna o critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade de uma vida humana. Jesus identifica-Se com os necessitados: famintos, sedentos, forasteiros, nus, enfermos, encarcerados. «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40). Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo.




Créditos: Evangelho Quotidiano

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O carisma de Fundadora - Santa Teresa d'Ávila



Ofereceu-se uma vez, estando eu com uma pessoa, dizer-me ela e a outras que, se quiséssemos ser freiras à maneira das Descalças, seria talvez possível poder-se vir a fazer um mosteiro.

Como andava com estes desejos, comecei a tratar com aquela senhora minha companheira viúva, de quem já falei e que tinha o mesmo desejo. Ela começou a fazer planos para lhe dar renda. Ao que agora vejo, não levava muito caminho, mas o desejo que disso tínhamos nos fazia parecer que sim. Por outro lado, como me sentia com tão grandíssimo contento na casa onde estava, porque era muito a meu gosto e a cela em que vivia feita muito a meu propósito, detinha-me todavia. Combinamos, contudo, encomendar muito a Deus o caso.

Tendo eu um dia comungado, Sua Majestade mandou-me instantemente que o procurasse realizar com todas as minhas forças, fazendo-me grandes promessas de que o mosteiro não se deixaria de fazer, e nele se serviria muito a Deus, e que lhe pusesse o nome de S. José e ele nos guardaria uma das portas e Nossa Senhora a outra e Cristo andaria conosco. Que esta casa seria uma estrela que irradiaria de si grande resplendor e, embora as Religiões estivessem relaxadas, não pensasse eu que Ele era pouco servido nelas. Que seria do mundo se não fossem os religiosos? Que dissesse ao meu confessor que Ele me pedia isto e a ele lhe rogava não fosse contra, nem me impedisse.

Foi esta visão acompanhada de tão grandes efeitos e de tal maneira esta fala do Senhor que não podia duvidar que era Ele. Senti, no entanto, grandíssima pena, pois se me representaram, em parte, os grandes desassossegos e trabalhos que me havia de custar e por estar contentíssima naquela casa; porque, embora antes tratasse da fundação, não era com tanta determinação nem com certeza de que se haveria de fazer. Agora, aqui, dir-se-ia que me faziam pressão e, como via que começava coisa de grande desassossego, estava em dúvida do que faria. Mas foram tantas as vezes em que o Senhor me tornou a falar nisso, pondo-me diante tantos motivos e razões, que via serem claros e que era a Sua vontade, que já não ousei fazer outra coisa senão dizê-lo a meu confessor e dei-lhe, por escrito, relação de tudo o que se passava.

Ele não ousou dizer-me determinadamente que o deixasse de lado, mas via que não levava caminho, conforme à razão natural, pois eram pouquíssimas ou quase nenhumas as possibilidades da minha companheira, que era quem o havia de fazer. Disse-me que o tratasse com meu prelado e, o que ele dissesse, isso fizesse. Eu não tratava destas visões com o prelado, mas a tal senhora, que queria fazer o mosteiro, foi falar com ele. O Provincial anuiu a isso de boamente, pois é amigo de toda a perfeição e deu-lhe todo o apoio necessário e disse-lhe que admitiria a casa. Trataram da renda que havia de ter e, por muitas razões, queríamos que nunca fossem mais de treze.

Antes de começar a tratar disto, escrevemos ao santo Frei Pedro de Alcântara dizendo tudo o que se passava. Aconselhou-nos que não o deixássemos de fazer e deu-nos o seu parecer em tudo.

Ainda mal se tinha começado a saber no lugar, quando veio sobre nós a grande perseguição que não se pode descrever em poucas palavras. Foram ditos, risos, dizer-se que era disparate. A mim diziam que estava bem no meu mosteiro. À minha companheira, tanta foi a perseguição, que a traziam mortificada. Eu não sabia que fazer de mim e, em parte, parecia-me que tinham razão.

Foram tantos os ditos e o alvoroço do meu próprio mosteiro, que, ao Provincial, lhe pareceu difícil opor-se a todos e assim mudou de parecer e não quis admitir a fundação. Disse que a renda não era segura e que era pouca e muita a contradição. Em tudo parece que tinha razão. E, enfim, desinteressou-se e não o quis admitir. A nós já nos parecia que tínhamos recebido os primeiros golpes e deu-nos uma pena muito grande, em especial a mim por ver o Provincial contrário, porque, querendo-o ele, tinha eu desculpa para todos. À minha companheira já não a queriam absolver se o não deixasse, porque, diziam, estava obrigada a evitar o escândalo.

Ela foi ter com um grande letrado, muito grande servo de Deus, da Ordem de S. Domingos, a dizer e a dar conta de tudo. Isto foi ainda antes do Provincial ter abandonado a ideia, porque em todo o lugar não tínhamos quem nos quisesse dar um parecer e assim diziam que nos guiávamos só por nossas cabeças. Esta senhora deu, pois, relação de tudo, e conta da renda que tinha do seu morgadio, a este santo varão, com grande desejo de nos ajudar, porque era ele o maior letrado que então havia neste lugar e poucos maiores havia na sua Ordem. Também lhe disse tudo o que pensávamos fazer e algumas causas que nos levavam a isso. Não lhe disse, no entanto, coisa de revelação alguma, senão as razões naturais que me moviam, porque não queria que nos desse parecer senão conforme a elas. Pediu que lhe déssemos um prazo de oito dias para responder e perguntou se estávamos determinadas a fazer o que ele nos dissesse. Disse-lhe que sim e, embora o dissesse e penso que o faria (nem mesmo assim via maneira para o levar por diante), nunca perdi a segurança de que se havia de fazer o mosteiro. Minha companheira tinha mais fé; nunca ela, por coisa alguma que lhe dissessem, se resolveria a deixá-lo.

Eu – como digo – achava impossível deixar de se fazer, de tal maneira tinha para mim ser verdadeira a revelação, desde que nada fosse contra o que está na Sagrada Escritura ou contra as leis da Igreja que somos obrigadas a cumprir. Mas, embora a mim verdadeiramente me parecesse ser de Deus, se aquele letrado me dissesse que não o podíamos fazer sem O ofender e que íamos contra a consciência, parece-me que logo me apartaria disso ou buscaria outro meio; porém o Senhor não me dava senão este.

Dizia-me depois este servo de Deus que tomara o assunto a seu cargo na plena determinação de pôr da sua parte muito empenho em nos dissuadir de o realizar. É que já tinha vindo à sua notícia o clamor do povo e a ele também lhe parecia desatino, tal como a todos. E logo que soube que o tínhamos ido procurar, um cavalheiro o mandara avisar para que visse o que fazia e não nos ajudasse, mas, em começando a ver o que nos havia de responder e a pensar no negócio e o intento que tínhamos e maneira de viver e religião, assentou-se-lhe ser muito do serviço de Deus e que não se havia de deixar de fazer. E assim nos respondeu que nos déssemos pressa em concluí-lo e disse a maneira e esboço que havia de ter; e, embora a fazenda fosse pouca, que alguma coisa se havia de fiar de Deus. Quem contradissesse a fundação, que fosse ter com ele, que ele lhe responderia. Assim sempre nos ajudou, como depois direi.

Com isto nos fomos muito consoladas e também porque algumas pessoas santas, que nos costumavam ser contrárias, já estavam mais aplacadas e algumas até nos ajudavam.

Entre elas, uma era o cavalheiro santo, de quem já tenho feito menção, o qual, como o é, e lhe parecia levar caminho de tanta perfeição, por ser a oração todo o nosso fundamento, embora os meios lhe parecessem muito dificultosos e sem caminho, rendia seu parecer a que podia ser coisa de Deus, o mesmo Senhor o devia mover.

Assim fez com o Mestre, aquele clérigo servo de Deus, de quem disse ter sido o primeiro que me tinha falado, que é o espelho de todo o lugar, como pessoa que Deus tem nele para remédio e proveito de muitas almas, que também já estava em me ajudar no negócio.
Estando pois as coisas nestes termos, e sempre com a ajuda de muitas orações, comprámos uma casa em bom lugar. Era pequena. Disto, a mim, não se me dava nada, porquanto o Senhor me havia dito que entrasse como pudesse; depois veria o que Sua Majestade faria. E que bem o tenho visto! E assim, embora visse ser pouca a renda, tinha a certeza que o Senhor, por outros meios, havia de prover e favorecer-nos (V 32, 10-18).




Fonte: Defensores da Sagrada Cruz

Comentário ao Evangelho (06/010) feito por Bento XVI

Papa de 2005 a 2013
Encíclica «Deus caritas est», §15
«Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?»
A parábola do bom Samaritano (cf Lc 10,25-37) leva a dois esclarecimentos importantes. Enquanto o conceito de «próximo», até então, se referia essencialmente aos concidadãos e aos estrangeiros que se tinham estabelecido na terra de Israel, ou seja, à comunidade solidária de um país e de um povo, agora este limite é abolido. Qualquer um que necessite de mim e eu possa ajudá-lo, é o meu próximo.

O conceito de próximo fica universalizado, sem deixar todavia de ser concreto. Apesar da sua extensão a todos os homens, não se reduz à expressão de um amor genérico e abstracto, em si mesmo pouco comprometedor, mas requer o meu empenho prático aqui e agora. (...)

É preciso, enfim, recordar de modo particular a grande parábola do Juízo final (cf Mt 25,31-46), onde o amor se torna o critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade de uma vida humana. Jesus identifica-Se com os necessitados: famintos, sedentos, forasteiros, nus, enfermos, encarcerados. «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40). Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo.

Fonte: Evangelho Quotidiano

Comentário ao Evangelho (05/10) feito pelo Papa Francisco

Homília de 23/04/2013 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana, rev)


«Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria»

«Quando Barnabé chegou e viu a graça que Deus havia concedido, ficou muito contente» (Act 11,23). É a alegria própria do evangelizador; é, como dizia Paulo VI, «a doce e consoladora alegria de evangelizar» («Evangelii nuntiandi» 80). E esta alegria aparece na sequência de uma perseguição, de uma grande tristeza, e termina em alegria. E assim a Igreja avança, como diz um santo, entre as perseguições do mundo e as consolações do Senhor (cf Sto Agostinho, «De Civitate Dei» 18,51,2). Assim é a vida da Igreja. Mas, se queremos caminhar pela estrada da mundaneidade, negociando com o mundo […], nunca gozaremos da consolação do Senhor. E se procuramos só consolação, esta será uma consolação superficial, uma consolação humana; não a consolação do Senhor. A Igreja caminha sempre entre a cruz e a ressurreição, entre as perseguições e as consolações do Senhor. E este é o caminho: quem vai por esta estrada não se engana.

Pensemos hoje na acção missionária da Igreja: naqueles discípulos que, esquecidos de si mesmos, partiram, e também naqueles que tiveram a coragem de anunciar Jesus aos gregos. […] Pensemos na nossa Mãe Igreja que cresce; Ela cresce com novos filhos, aos quais dá a identidade da fé, porque não se pode crer em Jesus sem a Igreja. […] E peçamos ao Senhor este desassombro, este ardor apostólico, que nos impulsiona a seguir em frente como irmãos.

[o negrito é meu]

Fonte: Evangelho Quotidiano

Santa Teresa d'Ávila, poemas: Versos nascidos do fogo do Amor de Deus que tinha em si



GLOSA


Já toda me dei, e, assim,

de tal sorte me hei mudado,

que o Amado é para mim

e eu sou para o meu Amado.



Quando o doce Caçador

me atirou, fiquei rendida,

por entre os braços do amor

minha alma quedou caída,

e cobrando nova vida

de tal maneira hei mudado

que o Amado é para mim

e eu sou para o meu Amado.



Com uma flecha que me deita,

enarvorada de amor,

a minha alma quedou feita

una com seu Criador;

já eu não quero outro amor,

a meu Deus me hei entregado,

que o Amado é para mim

e eu sou para o meu Amado. ABH



VERSOS NASCIDOS DO FOGO DO

AMOR DE DEUS QUE TINHA EM SI




Não vive em mim meu viver,

e em tão alta vida espero

que morro de não morrer.



GLOSA



Esta divina união

com o amor por quem eu vivo

faz de Deus o meu cativo

e livre meu coração;

mas causa em mim tal paixão

ver a Deus em meu poder

que morro de não morrer.



Ai! como é longa esta vida!

Que duros estes desterros,

este cárcere e estes ferros

em que a alma está metida!

Só esperar a saída

me causa tanto sofrer

que morro de não morrer.



Ai! Que vida tão amarga

se não se goza o Senhor!

E, se tão doce é o amor,

não o é a esperança larga;

tire-me Deus esta carga

tão dura de padecer,

que morro de não morrer.



Somente com a confiança

vivo de que hei de morrer;

porque, morrendo, o viver

assegura-me a esperança:

morte em que o viver se alcança,

bem cedo te quero ver,

que morro de não morrer.



Olha quanto o amor é forte;

vida, não sejas molesta;

vê que em te perderes resta

de te ganhares a sorte;

venha já a doce morte,

venha-me a morte a correr,

que morro de não morrer.



Essa que no alto deriva

é a vida verdadeira:

té que torne a vida à poeira,

não se goza estando viva;

morte, não sejas esquiva;

morrendo estou em viver,

que morro de não morrer.



Vida, como obsequiá-lo,

a meu Deus, que vive em mim,

senão perdendo-te a ti,

por melhor poder gozá-lo?

Quero morrendo alcançá-lo,

pois só Ele é o meu querer,

que morro de não morrer.



Estando ausente de ti,

que vida pudera ter,

senão morte padecer

a maior que jamais vi?

Lástima tenho de mi,

por tamanho mal sofrer,

que morro de não morrer.


Extraídos de POETAS DO SÉCULO DE OURO ESPAÑOL: POETAS DEL SIGLO DE ORO ESPAÑOL / Seleção e tradução de Anderson Braga Horta; Fernando Mendes Vianna e José Jeronymo Rivera; estudo introdutório de Manuel Morillo Caballero. Brasília: Thesaurus; Consejería de Educación y Ciência de la Embajada de España, 2000. 343 p. (Coleção Orellana – Colección Orellana; 12) ISBN 85-7062-250-7

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Oração para pedir a Sabedoria - S.Tomás de Aquino



Concede-me, Deus misericordioso, que deseje com ardor o que Tu aprovas, que o procure com prudência, que o reconheça em verdade, que o cumpra na perfeição, para louvor e glória do Teu nome.

Põe ordem na minha vida, ó meu Deus, e permite-me que conheça o que Tu queres que eu faça, e que o cumpra como é necessário e útil para a minha alma. Que eu chegue a Ti, Senhor, por um caminho seguro e recto; caminho que não se desvie nem na prosperidade nem na adversidade, de tal forma que Te dê graças nas horas prósperas e nas adversas conserve a paciência, não me deixando exaltar pelas primeiras nem abater pelas segundas.

Que nada me alegre ou entristeça, excepto o que me conduza a Ti ou de Ti me separe. Que eu não deseje agradar nem receie desagradar senão a Ti. Tudo o que passa se torne desprezível a meus olhos por Tua causa, Senhor, e tudo o que Te diz respeito me seja caro, mas Tu, meu Deus, mais do que o resto. Que eu nada deseje fora de Ti.

Concede-me, Senhor meu Deus, uma inteligência que Te conheça, uma vontade que Te busque, uma sabedoria que Te encontre, uma vida que Te agrade, uma perseverança que Te espere com confiança e uma confiança que te possua enfim. Concede-me ser atormentado com as Tuas dores pela penitência, recorrer no caminho aos Teus benefícios pela graça, gozar das Tuas alegrias sobretudo na pátria pela glória. Tu que vives e reinas pelos séculos dos séculos.

Fonte: Senza Pagare

sábado, 12 de outubro de 2013

A Imaculada Conceição de Nossa Senhora explicada por Santo Afonso de Ligório | Parte 1 - Convinha ao Pai



Hoje, dia de Nossa Mãe Santíssima sobre o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, para celebrar, publicamos este sublime texto de um dos patronos desse blog, Santo Afonso Maria de Ligório, retirado do livro "Glórias de Maria". Santo Afonso, doutor da Igreja e grande propagador da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, escreveu este texto sobre a Imaculada Conceição de Maria Santíssima. O texto está dividido em partes para um melhor acompanhamento. Boa leitura! =)


***
 Santo Afonso

Quanto convinha às três pessoas divinas preservar Maria da culpa original 



Incalculável foi a ruína que o maldito pecado causou a Adão e a todo o gênero humano. Perdendo então miseravelmente a graça de Deus, com ela perdeu também todos os outros bens que no começo o enriqueciam. Sobre si e seus descendentes ao lado da cólera divina, atraiu uma multidão de males. Dessa comum desventura quis Deus, entretanto, eximir a Virgem bendita. Destinara-a para ser Mãe do segundo Adão, Jesus Cristo, o qual devia reparar o infortúnio causado pelo primeiro. Ora, vejamos quanto convinha às Três Pessoas preservar Maria da culpa primitiva. E isso por ser ela Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa de Deus Espírito Santo.
PONTO PRIMEIRO
Convinha ao Pai Eterno isentar da culpa original a Maria
1.É Maria a filha primogênita do Pai Eterno

Declara-o ela própria com as palavras do Eclesiástico: “Eu saí da boca do Altíssimo, a primogênita antes de todas as criaturas” (24,5)

Os sagrados intérpretes e os Santos Padres aplicam-lhe esse texto, e a própria Igreja dele se serve na festa da Imaculada Conceição.

Com efeito, é Maria a primogênita de Deus por ter sido predestinada juntamente com o Filho nos decretos divinos, antes de todas as criaturas. Assim o ensina a escola dos escotistas. Ou então é a primogênita, depois da previsão do pecado, como quer a escola dos Tomistas. São acordes, porém, uns e outros em chamá-la primogênita do Senhor. Sendo assim, era sumamente conveniente que Maria sequer um instante fosse escrava de Lúcifer, mas pertencesse sempre e unicamente a seu Criador.

Tal se deu em realidade, conforme as palavras da Virgem: “O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos” (Pr 8,22). Com razão, pois, lhe dá Dionísio, Arcebispo de Alexandria, o título de única e exclusiva Filha da vida, diferente das outras mulheres, que , nascendo em pecado, são filhas da morte. Criá-la em graça bem convinha, portanto, ao Pai Eterno.

2.A missão de reparadora do mundo perdido e de medianeira entre Deus e os homens apresenta o segundo motivo para a preservação da Virgem Maria
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