sexta-feira, 31 de maio de 2013

O apelo de Nossa Senhora à reza diária do Terço



Qual terá sido o motivo por que Nossa Senhora nos mandou rezar o Terço todos os dias, e não mandou ir todos os dias assistir e tomar parte na Santa Missa?


Responde a Irmã Lúcia, Vidente de Fátima:

"Trata-se de uma pergunta que me tem sido feita muitas vezes, e à qual gostava de dar resposta agora. Certeza absoluta do porquê não a tenho, porque Nossa Senhora não o explicou e a mim também não me ocorreu de Lho perguntar. Digo, por isso, simplesmente o que me parece e me é dado compreender a este respeito. Na verdade, a interpretação do sentido da Mensagem deixo-a inteiramente livre à Santa Igreja, porque é a Ela que pertence e compete; por isso, humildemente e de boa vontade me submeto a tudo o que Ela disser e quiser corrigir, emendar ou declarar.

A respeito da pergunta acima feita, penso que Deus é Pai; e como Pai acomoda-se às necessidades e possibilidades dos Seus filhos. Ora, se Deus, por meio de Nossa Senhora, nos tivesse pedido para irmos todos os dias participar e comungar na Santa Missa, por certo haveria muitos a dizerem, com justo motivo, que não lhes era possível. Uns, por causa da distância que os separa da igreja mais próxima onde se celebra a Eucaristia; outros, porque não lho permitem as suas ocupações, os seus deveres de estado, o emprego, o seu estado de saúde, etc. Ao contrário, a oração do Terço é acessível a todos, pobres e ricos, sábios e ignorantes, grandes e pequenos.

Todas as pessoas de boa vontade podem e devem, diariamente, rezar o seu Terço. E para quê? Para nos pormos em contacto com Deus, agradecer os Seus benefícios e pedir-Lhe as graças de que temos necessidade. É a oração que nos leva ao encontro familiar com Deus, como o filho que vai ter com o seu pai para lhe agradecer os benefícios recebidos, tratar com ele os seus assuntos particulares, receber a sua orientação, a sua ajuda, o seu apoio e a sua bênção.

Dado que todos temos necessidade de orar, Deus pede-nos, digamos como medida diária, uma oração que está ao nosso alcance: a oração do Terço, que tanto se pode fazer em comum como em particular, tanto na igreja diante do Santíssimo como no lar em família ou a sós, tanto pelo caminho quando de viagem como num tranquilo passeio pelos campos. A mãe de família pode rezar enquanto embala o berço do filho pequenino ou trata do arranjo de casa. O nosso dia tem vinte e quatro horas... não será muito se reservarmos um quarto de hora para a vida espiritual, para a nossa relação íntima e familiar com Deus!

Por outro lado, eu creio que, depois da oração litúrgica do Santo Sacrifício da Missa, a oração do Santo Rosário ou o Terço, pela origem e sublimidade das orações que o compõem e pelos mistérios da Redenção que recordamos e meditamos em cada dezena, é a oração mais agradável que podemos oferecer a Deus e de maior proveito para as nossas almas. Se assim não fosse, Nossa Senhora não o teria recomendado com tanta insistência.

Ao dizer Rosário ou Terço, não quero significar que Deus necessite que contemos as vezes que Lhe dirigimos as nossas súplicas, os nossos louvores ou agradecimentos. Certamente Deus não precisa que os contemos: n'Ele tudo está presente! Mas nós precisamos de os contar, para termos a consciência viva e certa dos nossos actos e sabermos com clareza se temos ou não cumprido o que nos propusemos oferecer a Deus cada dia, para preservarmos e aumentar o nosso trato de directa convivência com Deus, e, por esse meio, conservarmos e aumentarmos em nós a fé, a esperança e a caridade.

Direi ainda que, mesmo aquelas pessoas que têm possibilidade de tomar parte diariamente na Santa Missa, não devem, por isso, descuidar-se de rezar diariamente o seu Terço. Bem entendido que o tempo apropriado para a oração do Terço não é aquele em que toma parte na Santa Missa. Para estas pessoas, a oração do Terço pode considerar-se uma preparação para melhor participarem da Eucaristia, ou então como uma acção de graças pelo dia afora.

Não sei bem, mas do pouco conhecimento que tenho do trato directo com as pessoas em geral, vejo que é muito limitado o número das almas verdadeiramente contemplativas que mantêm e conservam um trato de íntima familiaridade com Deus que as prepare dignamente para a recepção de Cristo, na Eucaristia. Assim, também para estas, se torna necessária a oração vocal, o mais possível meditada, ponderada e reflectida, como o deve ser o Terço.

Há muitas e belas orações que bem podem servir de preparação para receber Cristo na Eucaristia e para manter o nosso trato familiar de íntima união com Deus. Mas não me parece que encontremos alguma mais que se possa indicar e que melhor sirva para todos em geral, como a oração do Terço ou Rosário. Por exemplo, a oração da Liturgia das Horas é maravilhosa, mas não creio que possa ser acessível a todos, nem que alguns dos Salmos recitados possam ser bem compreendidos por todos em geral. É que requer uma certa instrução e preparação que a muitos não se pode pedir.

Talvez por todos estes motivos e outros que nós não conhecemos, Deus, que é Pai e compreende melhor do que nós as necessidades dos Seus filhos, quis pedir a reza diária do Terço condescendendo até ao nível simples e comum de todos nós para nos facilitar o caminho do acesso a Ele.

Enfim, tendo presente o que nos tem dito, sobre a oração do Rosário ou Terço, o Magistério da Igreja ao longo dos anos - alguma coisa vos recordarei mais adiante -, e o que Deus, por meio da Sua Mensagem, tanto nos recomenda, podemos pensar que aquela é a fórmula de oração vocal que a todos, em geral, mais nos convém, e da qual devemos ter sumo apreço e na qual devemos pôr o melhor empenho para nunca a deixar. Porque melhor do que ninguém, sabem Deus e Nossa Senhora aquilo que mais nos convém e de que temos mais necessidade. E será um meio poderoso para nos ajudar a conservar a fé, a esperança e a caridade.

Mesmo para as pessoas que não sabem ou não são capazes de recolher o espírito a meditar, o simples acto de tomar as contas na mão para rezar é já um lembrar-se de Deus, e o mencionar em cada dezena um mistério da vida de Cristo é já recordá-los, e esta recordação deixará acesa nas almas a terna luz da fé que sustenta a mecha que ainda fumega, não permitindo assim que se extinga de todo.

Pelo contrário, os que abandonam a oração do Terço e não tomam diariamente parte no Santo Sacrifício da Missa, nada têm que os sustente, acabando por se perderem no materialismo da vida terrena.

Assim, o Rosário ou Terço é a oração que Deus, por meio da Sua Igreja e de Nossa Senhora, nos tem recomendado com maior insistência para todos em geral, como caminho e porta de salvação: «Rezem o Terço todos os dias» (Nossa Senhora, 13 de Maio de 1917)."


Créditos: A Grande Guerra/ O Segredo do Rosário

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Uma trilha nova para alcançar a santidade - Santa Teresinha do Menino Jesus



Como o sabeis, sempre desejei ser santa. Mas, que tristeza! Quando me confronto com os Santos, sempre verifiquei que há entre eles e eu a mesma diferença que existe entre a montanha, cujo cimo desaparece nos céus, e o obscuro grão de areia, espezinhado pelos transeuntes. Em vez de me desanimar, pensei: O Bom Deus não seria capaz de inspirar-me desejos irrealizáveis. Posso, por conseguinte, aspirar à santidade, não obstante minha pequenez. Ficar maior, não me é possível. Devo, pois, suportar-me tal qual sou, com todas as minhas imperfeições. Mas, procurarei um meio de ir para o céu por uma trilha bem reta, bem curta, uma trilha inteiramente nova.

Santa Teresinha do Menino Jesus, História de Uma Alma

Obs.: A trilha nova de que fala Santa Teresinha é a chamada Pequena Via, caminho espiritual do qual ela foi importante esclarecedora, para as almas pequeninas.

Comentário ao Evangelho (30/05) por Guilherme de Saint-Thierry, monge beneditino



Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148), monge beneditino, depois cisterciense
A Contemplação de Deus, 1-2
«Que queres que te faça?»
«Vinde! Subamos à montanha do Senhor, subamos à casa do Deus de Jacob, e Ele nos ensinará os seus caminhos» (Is 2,3). Vós, intenções, desejos intensos, vontade e pensamentos, afectos e energias do coração, vinde, escalemos a montanha, alcancemos o lugar onde o Senhor vê e Se dá a ver. Mas vós, preocupações e inquietações, trabalhos e servidões, esperai-nos aqui [...], até que, apressando-nos a chegar a este lugar, regressemos para junto de vós após termos adorado (cf Gn 22,5). Porque teremos de regressar, e bem depressa.


Senhor, Deus da minha força, faz que nos voltemos para Ti, «mostra-nos o teu rosto e seremos salvos» (Sl 79,20). Mas, Senhor, como é prematuro, audaz, presunçoso, contrário à regra dada pela palavra da tua verdade e sabedoria, pretender ver a Deus de coração impuro! Ó bondade soberana, bem supremo, vida dos corações, luz dos nossos olhos interiores, na tua bondade, Senhor, tem piedade.


Ei-la, a minha purificação, a minha confiança e justiça: a contemplação da tua bondade, meu bom Senhor! Tu, meu Deus, dizes à minha alma, como só Tu sabes fazer: «Eu sou a tua salvação» (Sl 34,3). Rabbouni, mestre soberano e professor, Tu, que és o único doutor capaz de me fazer ver o que eu desejo ver, diz a este teu mendigo cego: «Que queres que te faça?» E sabes bem, Tu, que me dás essa graça [...], com quanta força o meu coração Te grita: «Procurei-Te, Senhor; os meus olhos Te procuram; é a tua face que eu procuro» (Sl 26,8). 

Fonte: Evangelho Quotidiano

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Maria Santíssima e a conversão de um jovem protestante escocês - Santo Afonso de Ligório



A História das fundações da Companhia de Jesus no reino de Nápoles conta-nos ad e um jovem fidalgo escocês, chamado Guilherme Elfinstônio. Era ele parente do Rei Jaime e protestante desde o nascimento. Mas, iluminado pela graça divina que lhe fez conhecer os erros de sua seita, foi á França e aí, ajudado por um bom padre jesuíta, também escocês, e mais com a intercessão da bem-aventurada Virgem, reconheceu a verdade e fez-se católico.


Passou-se depois a Roma, onde mais se afervorou na devoção á Mãe de Deus, escolhendo-a por sua única Mãe. Inspirou-lhe a Virgem a resolução de ser religioso, de que fez voto. Mas, achando-se doente, veio a Nápoles a fim de recuperar a saúde com a mudança dos ares. Em Nápoles, porém, quis o Senhor que ele morresse, e morresse religioso. Pouco depois de sua chegada adoeceu gravemente, correndo perigo de vida. À custa de muitas lágrimas e rogos obteve dos superiores a graça de ser recebido  na Companhia. Pelo que fe na presença o Santíssimo Sacramento, quando recebeu o Viático, fez os votos e foi declarado religioso da Companhia. Depois disto a todos enternecia com os  com os fervorosos afetos, com que dava graças a Maria, sua amada Mãe, por tê-lo arrancado da heresia, e conduzido para morrer na casa de Deus entre seus irmãos religiosos. Por isso exclamava: Oh! Como é glorioso morrer no meio de tantos anjos! Exortam-se a que procure repousar, e ele: Ah! Agora que já chega o fim da minha vida, não é tempo de repousar. Antes de expirar, disse aos assistentes: Irmãos, não vedes os anjos do céu que me assistem? E havendo um daqueles religiosos percebido que ele proferia entre os dentes algumas palavras, lhe perguntou o que dizia. Respondeu que o seu anjo da guarda lhe tinha revelado que pouco tempo havia de estar no purgatório, e que logo depois passaria para o paraíso. Recomeçou em seguida os colóquios com Maria, sua doce Mãe, repetindo: Minha Mãe, minha Mãe! E assim expirou placidamente, como uma criança que se entrega aos braços da mãe, para neles repousar. Pouco depois foi revelado a um devoto religioso que ele já estava no paraíso.


Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria

Comentário do Evangelho do dia (29/05) feito por Santo Afonso Maria de Ligório



(1696-1787), bispo, doutor da Igreja
6º Discurso para a novena de Natal


O Filho do Homem veio para dar a sua vida


O Senhor eterno dignou-Se apresentar-Se a nós primeiro como um menino pequeno num estábulo, depois como simples operário numa carpintaria, mais tarde como um criminoso que expirou num patíbulo e, por fim, como pão num altar.
Numerosos aspectos, aspectos intencionais de Jesus, aspectos que só tiveram um efeito: o de mostrar o amor que Ele nos tem.


Ah, Senhor, poderás ainda inventar mais alguma coisa para fazer com que Te amemos? O profeta Isaías clamava: «Anunciai as suas obras entre os povos; proclamai que o seu nome é excelso» (Is 12,4). Almas resgatadas dai a conhecer em todo o lado as obras de amor desse Deus cheio de amor. Ele concebeu-as e realizou-as para ser amado por todos os homens, Ele que, depois de os ter cumulado de benfeitorias, Se deu a Si próprio, e de tantos modos!


«Doente ou ferido, queres curar-te? Jesus é o médico»: Ele cura-te com o seu sangue. Ardes em febre? Ele é a fonte refrescante. Estás atormentado pelas paixões e tribulações do mundo? Ele é a fonte das consolações espirituais e do verdadeiro alento. «Tens medo da morte? Ele é a vida. Aspiras ao céu? Ele é o caminho» (cf Jo 14,6): assim falava santo Ambrósio. Jesus Cristo não apenas Se deu a todos os homens em geral; Ele quer dar-Se a cada um em particular. É por isso que São Paulo diz: «Ele me amou e a Si mesmo Se entregou por mim» (Ga 2,20). E São João Crisóstomo afirma: «Deus ama cada um de nós tanto como toda a humanidade.» Assim sendo, meu querido irmão, se não houvesse mais ninguém no mundo, o divino Redentor teria vindo e dado o seu sangue e a sua vida só por ti.


Créditos: Evangelho Quotidiano

terça-feira, 28 de maio de 2013

Comentário do Evangelho do dia (28/05) feito por São Bernardo



(1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos nº 37, 2-5




                                                      «Cem vezes mais agora»


«Semeai a justiça, diz o Senhor, e recolhei a esperança da vida.» Mas não te remete para o último dia, em que tudo vos será dado realmente e já não através da esperança; Ele fala do presente. Na verdade a nossa alegria será grande, infinita, quando começar a verdadeira vida. Mas desde já a esperança duma tão grande alegria não pode acontecer sem alegria: «Sede alegres na esperança», diz o apóstolo Paulo (Rm 12,12). E David não diz que estará na alegria mas que já a experimentou no dia em que esperou entrar na casa do Senhor (cf Sl 122,1). Ainda não possuía a vida, mas já tinha colhido a esperança da vida: experimentou a verdade da Escritura que diz que, não apenas a recompensa, mas a «expectativa dos justos dá alegria» (Pr 10,28). Esta alegria acontece na alma daquele que semeou a justiça pela convicção que tem de que os seus pecados foram perdoados. [...]


Quem quer que, de entre vós, após o início amargo da conversão, tem a felicidade de se sentir aliviado pela esperança dos bens que espera [...], já recolheu, desde esse momento, o fruto das suas lágrimas. Esse viu Deus e ouvi-O dizer: «Dai-lhe do fruto das suas mãos» (Pr 31,31). Como é que aquele que «saboreou e viu como o Senhor é bom» (cf Sl 34,9) pode deixar de ver a Deus? O Senhor Jesus é suave e amável para àquele que recebe dele, não apenas a remissão dos pecados, mas também o dom da santidade e, ainda melhor, a promessa da vida eterna. Feliz daquele que fez tão bela colheita. [...] O profeta diz em verdade: «Aqueles que semeiam em lágrimas, recolherão com alegria» (Sl 126,5). [...] Nenhum lucro nem honraria terrestre nos parecerá acima da nossa esperança e dessa alegria de esperar, já desde agora profundamente enraizada nos nossos corações: «Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,5).


Créditos: Evangelho Quotidiano

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Comentário do Evangelho do dia (27/05) feito por São Clemente de Alexandria



(150-c. 215), teólogo
Homilia «Os ricos podem salvar-se?»





«Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?»


Ignorar a Deus é morrer; pois a vida reside apenas em conhecê-Lo, viver nele, amá-Lo e procurar assemelhar-se a Ele. Se quereis a vida eterna, [...] procurai antes de mais conhecê-Lo, ainda que «ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-Lo» (Mt 11,27). Em Deus, conhecei a grandeza do Redentor e a sua graça inestimável; pois, diz o apóstolo João, «a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo» (1,17). [...] Se a Lei de Moisés pudesse dar-nos a vida eterna, porque teria o nosso Salvador vindo ao mundo e sofrido por nós, desde o nascimento até à morte, percorrendo toda uma vida humana? Porque se teria este jovem, que tão bem cumpria desde a juventude os mandamentos da Lei, lançado aos pés de Jesus para Lhe pedir a imortalidade?


Este jovem observava a Lei na sua totalidade, e a ela se ligara desde a juventude. [...] Mas percebe bem que, se nada falta à sua virtude, lhe falta contudo a vida. É por isso que vem pedi-la Àquele que pode dar-lha; está seguro de estar em regra com a Lei, mas nem por isso deixa de implorar ao Filho de Deus. [...] As amarras da Lei não o defendem adequadamente das oscilações do navio, pelo que ele deseja abandonar esta navegação perigosa e lançar âncora no porto do Salvador.


Jesus não lhe censura a falta de cumprimento da Lei, mas olha-o com afecto, emocionado com a sua aplicação de bom aluno. Contudo, diz-lhe que é ainda imperfeito [...]: é bom trabalhador da Lei, mas preguiçoso para a vida eterna. A Lei santa é como um pedagogo que orienta para os mandamentos perfeitos de Jesus (Ga 3,24) e para a sua graça. Jesus é «o cumprimento da lei, para justificar todo aquele que crê nele» (Rm 10,4).


Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (26/05) dia feito por São Simeão o Novo Teólogo



(c. 949-1022), monge grego
Hino 21


                                  «Tudo o que o Pai tem é Meu»

Tu brilhaste, manifestaste como luz de glória
A luz inacessível da Tua essência, Salvador,
E iluminaste esta alma mergulhada nas trevas. [...]
Alumiados pela luz do Espírito,
Os homens olham o Filho, vêem o Pai
E adoram a Trindade das Pessoas, o Deus único. [...]


Porque o Senhor [Cristo] é o Espírito (2Cor 3,17),
Espírito é também Deus, o Pai do Senhor,
Verdadeiramente um só Espírito, pois Ele é indiviso.
Aquele que O possui, possui em verdade aos três,
Mas distintamente a cada um. [...]
Pois o Pai existe, e como poderá ser Filho?
Pois Ele é ingerado por essência.
Há o Filho, e como Se tornará Espírito?
O Espírito é Espírito – e como aparecerá Pai?


O Pai é Pai, porque gera incessantemente. [...]
O Filho é Filho porque incessantemente é gerado
E foi gerado antes de todos os tempos.
Surgiu sem ser cortado da Sua raiz.
Mas está simultaneamente à parte sem estar separado
E inteiro e uno com o Pai Vivo
E Ele próprio é Vida e a todos dá a Vida (Jo 14,6; 10,28).
Tudo o que o Pai tem, tem o Filho.
Tudo o que o Filho tem, tem o Pai.
Quando vejo o Filho, vejo o Pai.
Vemos o Pai semelhante em tudo ao Filho,
Salvo que um gera e o outro é incessantemente gerado. [...]
Como surge do Pai o Filho? Tal e qual como a palavra sai do espírito.
Como Se separa Dele? Tal e qual como da palavra, a voz.
Como toma corpo? Tal e qual como a palavra que se escreve [...].


Como dar nome ao Criador de tudo?
Nomes, acções, expressões,
Tudo surgiu no mundo por ordem de Deus
Porque Ele deu nomes às Suas obras
E a cada realidade a designação devida. [...]
Mas quanto ao Seu próprio nome, jamais O conhecemos,
Somente o nomeamos por «Deus inexprimível», como dizem as Escrituras (cf Gn 32,30).
Então, se Ele é inexprimível, se não tem nome,
Se é invisível, se é misterioso,
Se é inacessível, único acima de toda a palavra,
Acima de todo o pensamento não apenas dos homens,
Mas também do dos anjos,
«Fez das trevas o Seu véu» (Sl 17,12).
Tudo o mais aqui na Terra pertence às trevas
Mas só Ele, como a luz, está fora das trevas.


Créditos: Evangelho Quotidiando

Comentário do Evangelho do dia (25/05) feito por São Leão Magno



(?-c. 461), papa, doutor da Igreja
Sermão 7 para a Epifania


                                    «Deixai vir a Mim os pequeninos»

Cristo ama a infância que primeiro assumiu na Sua alma, tal como no Seu corpo. Cristo ama a infância, que ensina humildade, que é a norma da inocência e o modelo da mansidão. Cristo ama a infância: orienta para ela a conduta dos adultos, para ela encaminha os idosos, atrai ao seu exemplo aqueles que eleva ao reino eterno.


Mas, para compreendermos como é possível chegar a tão admirável conversão e qual a transformação que nos é necessária para termos uma atitude de crianças, deixemos São Paulo instruir-nos e dizer-nos: «Não sejais crianças quanto à maneira de julgar; sede, sim, crianças na malícia» (1Co 14,20). Não se trata, portanto, de regressarmos aos jogos da infância, nem à falta de jeito dos inícios, mas de retirarmos da infância algumas coisas que convêm aos anos da maturidade, isto é, de apaziguarmos rapidamente as agitações interiores, de recuperarmos rapidamente a calma, de esquecermos totalmente as ofensas, de sermos completamente indiferentes às honras, de apreciarmos estar juntos, de mantermos a equanimidade do humor como coisa natural. Com efeito, é um grande bem não saber incomodar e não ter gosto pelo mal [...]; não pagar a ninguém o mal com o mal (cf Rm 12,17); é a paz interior das crianças que convém aos cristãos. [...] É essa forma de humildade que nos ensina o Salvador Menino quando é adorado pelos magos.


Créditos: Evangelho Quotidiano

sábado, 25 de maio de 2013

Nossa Senhora e a velhinha pecadora



Lê-se na vida de sóror Catarina de S. Agostinho que havia, no lugar onde morava esta serva de Deus, uma mulher chamada Maria. A infeliz levara uma vida de pecados durante a mocidade. E já envelhecida, de tal modo obstinara-se na sua perversidade, que fora expulsa pelos habitantes da cidade, e obrigada a viver numa gruta abandonada. Aí morreu finalmente, sem os sacramentos e sem a assistência de ninguém. Sepultaram-na no campo como um bruto qualquer. Sóror Catarina costumava recomendar a Deus com grande devoção aas almas detodos os falecidos. Mas, ao saber da terrível morte da pobre velha, não cuidou de rezar por ela, pensando, como os outros, que já estivesse condenada. Eis que, passados quatro anos, em certo dia se lhe apresentou diante uma alma do purgatório, que lhe dizia: Sóror Catarina, que triste sorte a minha! Tu encomendas a Deus as almas de todos os que morrem e só da minha alma não tens tido compaixão? – Mas quem és tu? – disse a serva de Deus. – Eu sou, - respondeu ela – aquela pobre Maria que morreu na gruta. – E como te salvaste? – replicou sóror Catarina. – Sim, eu me salvei por misericórdia da Virgem Maria. – E como? – Quando eu me vi próxima à morte estando justamente tão cheia de pecados e desamparada de todos, me voltei para a Mãe de Deus e lhe disse: Senhora, vós sois o refúgio dos desamparados. Aqui estou neste estado abandonada por todos. Vós sois a minha única esperança, só vós me podeis valer; tende piedade de mim. Então a Santíssima Virgem obteve-me a graça de eu poder fazer um ato de contrição; depois morri e fui salva. Além disso, esta minha Rainha alcançou-me a graça de ser abreviada minha pena por sofrimentos mais intensos, porém menos demorados. Só necessito de algumas missas para me livrar mais depressa do purgatório. Rogo-te que as faças celebrar. Em troca, prometo-te pedir a Deus e à Santíssima Virgem por ti.

Sóror Catarina logo fez celebrar as missas. Depois de poucos dias lhe tornou a aparecer aquela alma mais resplandecente do que o sol e lhe disse: Agora vou para o paraíso cantar as misericórdias do Senhor e rogar por ti.


Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Um pouco da história de Nossa Senhora Auxiliadora!



Esta invocação mariana encontra suas raízes no ano 1571, quando Selim I, imperador dos turcos, após conquistar várias ilhas do Mediterrâneo, lança seu olhar de cobiça sobre toda a Europa. O Papa Pio V, diante da inércia das nações cristãs, resolveu organizar uma poderosa esquadra para salvar os cristãos da escravidão muçulmana. Para tanto, invocou o auxílio da Virgem Maria para este combate católico.

A vitória aconteceu no dia 7 de outubro de 1571. Afastada a perseguição maometana, o Santo Padre demonstrou sua gratidão à Virgem acrescentando nas ladainhas loretanas a invocação: Auxiliadora dos Cristãos.

No entanto, a festa de Nossa Senhora Auxiliadora só foi instituída em 1816, pelo Papa Pio VII, a fim de perpetuar mais um fato que atesta a intercessão da Santa Mãe de Deus: Napoleão I, empenhado em dominar os estados pontifícios, foi excomungado pelo Sumo Pontífice. Em resposta, o imperador francês seqüestrou o Vigário de Cristo, levando-o para a França. Movido por ardente fé na vitória, o Papa recorreu à intercessão de Maria Santíssima, prometendo coroar solenemente a imagem de Nossa Senhora de Savona logo que fosse liberto.

O Santo Padre ficou cativo por cinco anos, sofrendo toda espécie de humilhações. Uma vez fracassado, Napoleão cedeu à opinião pública e libertou o Papa, que voltou a Savona para cumprir sua promessa. No dia 24 de maio de 1814, Pio VII entrou solenemente em Roma, recuperando seu poder pastoral. Os bens eclesiásticos foram restituídos. Napoleão viu-se obrigado a assinar a abdicação no mesmo palácio onde aprisionara o velho pontífice.

Para marcar seu agradecimento à Santa Mãe de Deus, o Papa Pio VII criou a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, fixando-a no dia de sua entrada triunfal em Roma.

O grande apóstolo da juventude, Dom Bosco, adotou esta invocação para sua Congregação Salesiana porque ele viveu numa época de luta entre o poder civil e o eclesiástico. A fundação de sua família religiosa, que difunde pelo mundo o amor a Nossa Senhora Auxiliadora, deu-se sob o ministério do Conde Cavour, no auge dos ódios políticos e religiosos que culminaram na queda de Roma e destruição do poder temporal da Igreja. Nossa Senhora foi colocada à frente da obra educacional de Dom Bosco para defendê-la em todas as dificuldades.

No ano de 1862, as aparições de Maria Auxiliadora na cidade de Spoleto marcam um despertar mariano na piedade popular italiana. Nesse mesmo ano, São João Bosco iniciou a construção, em Turim, de um santuário, que foi dedicado a Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos.

A partir dessa data, Dom Bosco, que desde pequeno aprendeu com sua mãe Margarida, a confiar inteiramente em Nossa Senhora, ao falar da Mãe de Deus, lhe unirá sempre o título Auxiliadora dos Cristãos. Para perpetuar o seu amor e a sua gratidão para com Nossa Senhora e para que ficasse conhecido por todos e para sempre que foi "Ela (Maria) quem tudo fez", quis Dom Bosco que as Filhas de Maria Auxiliadora, congregação por ele fundada juntamente com Santa Maria Domingas Mazzarello, fossem um monumento vivo dessa sua gratidão.

Dom Bosco ensinou aos membros da família Salesiana a amarem Nossa Senhora, invocando-a com o título de AUXILIADORA. Pode-se afirmar que a invocação de Maria como título de Auxiliadora teve um impulso enorme com Dom Bosco. Ficou tão conhecido o amor do Santo pela Virgem Auxiliadora a ponto de Ela ser conhecida também como a "Virgem de Dom Bosco".

Escreveu Dom Bosco: "A festa de Maria Auxiliadora deve ser o prelúdio da festa eterna que deveremos celebrar todos juntos um dia no Paraíso".

Fonte: Blog Nossa Senhora cuida de mim

Música da Irmã Kelly Patrícia baseada nos escritos de Santa Teresinha - Minha Vocação é o Amor!


A passagem da História de uma Alma, de Santa Teresinha, a que se refere a música é essa aqui:
http://escritosdossantos.blogspot.com.br/2013/05/minha-vocacao-e-o-amor.html

Carta Encíclica "AD DIEM ILLUM" - Papa São Pio X



CARTA ENCÍCLICA "AD DIEM ILLUM"

Papa São Pio X



Aos nossos Veneráveis Irmãos os Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos e demais Ordinários em paz e comunhão com a Sé Apostólica: Sobre o Cinqüentenário da Proclamação do Dogma da Imaculada Conceição.

Veneráveis Irmãos, Saúde e Benção Apostólica

1. O curso do tempo nos levará, dentro em poucos meses, a esse dia de inigualável alegria no qual, circundado duma coroa magnífica de cardeais e bispos, há cinqüenta anos, Nosso Predecessor Pio IX, pontífice de santa memória, por virtude da autoridade do magistério infalível declarou e proclamou ser de revelação divina que Maria foi totalmente isenta da mácula original, desde o primeiro instante de sua conceição. E não há quem ignore que todos os fiéis do universo acolheram esta proclamação com tal disposição de ânimo, com arroubos tais de júbilo e entusiasmo que jamais houve, na memória de todos os tempos, manifestação de piedade tão grandiosa e tão unânime, quer para com a augusta Mãe de Deus, quer para com o Vigário de Jesus Cristo — Hoje, Veneráveis Irmãos, muito embora à distância de meio século, não podemos nós esperar que a lembrança reavivada da Virgem Imaculada desperte em nossas almas como que um eco dessas santas alegrias e renove as demonstrações grandiosas de fé e de amor à augusta Mãe de Deus que se manifestaram nesse passado já longínquo? Um sentimento, que sempre nutrimos em Nosso coração, de piedade para com a Bem-aventurada Virgem e de profunda gratidão por seus benefícios, no-lo faz desejar ardentemente. O que, entretanto, Nos dá segurança disto é o zelo dos católicos, sempre alerta e pronto a dar novas provas de honra e de amor à Virgem excelsa. Não queremos, contudo, dissimular algo que em Nós aviva grandemente este desejo: é que se Nos afigura, segundo um pressentimento secreto de Nosso coração, que podemos esperar, em um futuro pouco distante, a realização das grandes esperanças, por certo não temerárias, que a definição solene do dogma da Imaculada Conceição de Maria despertou em Nosso predecessor Pio IX e em todo o Episcopado católico.

Benefícios dispensados por Maria à Igreja


2. Na verdade, não são poucos os que lastimam não ver realizadas essas esperanças até os nossos dias, fazendo suas essas palavras de Jeremias (8, 15): "Esperávamos a paz, e este bem não chegou; o remédio, e eis o terror!" Mas, não se devera acoimar de pouca fé homens que descuram assim de penetrar ou de considerar as obras de Deus sob o seu verdadeiro prisma? Com efeito, quem há que possa enumerar, quem há que possa computar os tesouros escondidos de graças que Deus, no decurso desse tempo, derramou em sua Igreja às preces de Maria? E, se quisermos preterir isto, que dizer do Concílio do Vaticano, de tão admirável oportunidade? que dizer da definição da infalibilidade do Pontífice, formulada tão cabalmente em oposição aos erros que em breve iriam surgir? que dizer, enfim, desse impulso de piedade, algo novo e deveras inaudito, que faz acorrerem, já desde longa data, os fiéis de todas as raças e de todos os continentes aos pés do Vigário de Cristo, para lhe render preito e veneração? E não é um admirável efeito da divina Providência o terem podido os Nossos dois predecessores, Pio IX e Leão XIII, governar santamente a Igreja, em tempos tão revoltos e em condições de duração quais não tinham sido concedidas a nenhum outro pontificado? Deve-se acrescentar que, mal Pio IX declarou de fé católica a Conceição Imaculada de Maria, na cidade de Lourdes começaram a se fazer manifestações portentosas da Virgem. Isto foi a origem, como se sabe, desses templos erguidos à honra da Imaculada Mãe de Deus, obra de grande magnificência e de trabalho ingente, onde, por intercessão da Virgem, prodígios diários subministram esplêndidos argumentos para a confusão da incredulidade dos tempos modernos. — Tantos e tão insignes benefícios concedidos por Deus, às piedosas solicitações de Maria, no espaço de cinqüenta anos que estão para terminar, não nos devem fazer acalentar a esperança "da salvação para um tempo menos distante que houvéramos crido"? Pois é como que uma lei de Providência Divina — como a experiência no-lo ensina — que das extremidades do mal à libertação não media demasiado espaço de tempo. "Este seu tempo está próximo a vir, e os seus dias não se prolongarão; porque o Senhor terá compaixão de Jacó, e reservará ainda para si alguns escolhidos de Israel" (Is. 14, 1). É, pois, com confiança ilimitada que nós esperamos poder exclamar, dentro em pouco: O Senhor despedaçou o bastão dos ímpios e a vara dos dominadores. Toda a terra está em descanso e em paz, ela se encheu de prazer e recozigo (Is; 14, 5 e 7).

Maria, o caminho mais seguro e mais fácil para Cristo

3. Mas, se o cinqüentenário do ato pontifical que declarou sem mácula a Conceição de Maria deve estimular no seio do povo cristão vivos entusiasmos, a razão disso está na necessidade que expusemos em Nossa carta encíclica precedente (DP 87), qual é a restaurar tudo em Cristo. Pois, quem é que não tenha por certo que não há caminho mais seguro e mais fácil que Maria por onde os homens possam chegar a Jesus Cristo, e alcançar, por intermédio de Cristo, essa adoção perfeita de filhos que os faz santos e imaculados na presença de Deus? Por certo, se realmente foi dito à Virgem: "Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que pelo Senhor te foram ditas" (Lc 1, 45), isto é, que conceberia e daria à luz o Filho de Deus; se, por conseguinte, ela acolheu em seu seio aquele que por natureza é a Verdade, de forma que, engendrado numa nova ordem e por um novo testemunho..., invisível em si, se fizesse visível em nossa carne (S. Leo M., Serm. 2 de Nativitate Domini, c. 2); visto que o Filho de Deus é o autor e consumador de nossa fé, é de estrita necessidade que Maria seja participante dos divinos mistérios e de algum modo sua guardiã e que também sobre ela, como o mais nobre alicerce, após Jesus Cristo, repouse a fé de todos os séculos.

O Filho sempre associado com a Mãe


4. E como poderia ser de outra forma? Não nos poderia ter Deus concedido outro meio, que não Maria, o reparador da humanidade e o fundador da fé? Mas como aprouve à eterna Providência que o Homem-Deus nos fosse dado pela Virgem e visto que esta, tendo-o concebido por virtude do divino Espírito, na realidade o carregou em seu seio, que nos resta ainda, senão receber Jesus das mãos de Maria? Por isso, sempre que nas Sagradas Escrituras se "fala da graça que nos aguarda", sempre também, ou as mais das vezes, o Salvador dos homens aparece acompanhado da sua santa Mãe. O Cordeiro dominador da terra há de vir, mas da pedra do deserto; a flor brotará, mas da raiz de Jessé. Em vendo, no futuro, Maria esmagar a cabeça da serpente, Adão estancou as lágrimas que a maldição arrancava de seu coração. Maria ocupa a mente de Noé na arca libertadora; de Abraão, impedido de imolar seu filho; de Jacó, contemplando a escada por onde subiam e desciam os anjos; de Moisés, admirando a sarça que ardia sem se consumir; de David, cantando e dançando, ao conduzir a arca de Deus; de Elias, lobrigando a nuvenzinha erguer-se do mar. E, sem Nos alongarmos demais, em Maria temos, depois de Cristo, o fim da lei, a verdade das imagens e dos oráculos.

5. Na verdade, que seja por Maria, e sobretudo por ela, que encontramos o caminho para o conhecimento do Cristo, ninguém poderá duvidar, se considerarmos, entre outras coisas, que no mundo somente ela teve com ele, sob o mesmo teto e numa familiaridade íntima de 30 anos, essas relações estreitas que são próprias da mãe e filho. Os admiráveis mistérios do nascimento e da infância de Jesus, máxime os que respeitam à sua Encarnação, princípio e fundamento de nossa fé, a quem poderiam ter sido desvendados mais amplamente que à sua Mãe? Ela guardava e considerava em seu coração os acontecimentos que vira em Belém e presenciara no templo de Jerusalém; mas, participante de seus conselhos e dos desígnios secretos de sua vontade, viveu, deve-se dizer, a vida mesma de seu Filho. Sim, jamais alguém no mundo conheceu, como ela, Jesus em seu íntimo; não há mestre melhor, nem guia mais seguro para fazer conhecer a Jesus Cristo.

6. Segue-se, como conseqüência, que jamais alguém será mais poderoso que a Virgem para unir os homens a Cristo, como já o temos insinuado. Se, com efeito, segundo a doutrina do Mestre divino, "a vida eterna consiste em que eles te conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que tu enviaste" (Jo 17, 3); como por Maria chegamos ao conhecimento de Jesus Cristo, por ela também nos é mais fácil adquirir a vida, da qual Ele é o princípio e a fonte.

Maria, Mãe do Corpo Místico de Cristo

7. E agora, por pouco que consideremos quantos e quão prementes motivos levam esta Mãe Santíssima a nos dar profusamente da abundância de seus tesouros, que de incrementos não tomará nossa esperança? Não é Maria a Mãe de Deus? Portanto é Mãe nossa também. Pois deve-se estabelecer o princípio de que Jesus, Verbo feito carne, é ao mesmo tempo o Salvador do gênero humano. Em conseqüência, como Deus Homem Ele tem um corpo qual os outros homens; como Redentor de nosso gênero, um corpo espiritual ou, como sói dizer-se, místico, que outra coisa não é que a comunidade dos cristãos unidos a Ele pela fé. Embora muitos, somos um só corpo em Cristo (Rom 12, 5). A Virgem, pois, não concebeu o Filho de Deus só para que, dela recebendo a natureza humana, se tornasse homem; mas a fim de que Ele se tornasse mediante esta natureza dela recebida, o Salvador dos homens. O que explica as palavras dos anjos aos pastores: "Hoje nasceu-vos o Salvador, que é o Cristo Senhor" (Lc 2, 11). Por isso, no seio virginal de Maria, onde Jesus assumiu a carne mortal, lá mesmo Ele se agregou um corpo espiritual formado de todos os que deviam crer n’Ele. E pode-se dizer que Maria, levando Jesus em suas entranhas, levava também todos aqueles cuja vida o Salvador trazia. Todos, portanto, que, unidos a Cristo, somos, consoante as palavras do Apóstolo, "membros do seu corpo, de sua carne e de seus ossos" (Ef 5, 30), devemos crer-nos nascidos do seio da Virgem, donde um dia saímos qual um corpo unido à sua cabeça. É por isso que somos chamados, num sentido espiritual e místico, filhos de Maria, e ela é, por sua vez, nossa Mãe comum. Mãe espiritual, contudo verdadeira mãe dos membros de Jesus Cristo, quais somos nós (S. Aug., L. de S. Virginitate, c. 6). Se, pois, a bem-aventurada Virgem é ao mesmo tempo Mãe de Deus e dos homens, quem pode duvidar de que ela se desvele com todas as forças junto de seu Filho, cabeça do corpo da Igreja (Cor 1, 18), a fim de que Ele derrame sobre nós, seus membros, os dons de sua graça, notadamente aquele que nos leva a conhece-lo e nos faz viver por Ele (1 Jo, 4, 9)?

Maria, a Co-redentora dos homens

8. Mas não foi apenas para seu próprio louvor que a Virgem ministrou a matéria de sua carne ao Filho unigênito de Deus, que haveria de nascer com membros humanos (S. Beda Ven. lib. IV in Luc. XI), e que ela preparou, desta forma, uma vítima para a salvação dos homens; sua missão foi também velar por esta vítima, nutri-la e apresenta-la ao altar, no tempo estabelecido. Por isto, entre Maria e Jesus reinou perpétua sociedade de vida e sofrimentos, que nos permite aplicar a ambos estas palavras do Profeta: A minha vida vai se consumindo com a dor e os meus anos com os gemidos (Sl 30, 11). E quando chegou a hora derradeira de Jesus, vemos a Virgem "aos pés da cruz", horrorizada certamente ante a visão do espetáculo, "mas feliz porque seu Filho se oferecia como vítima pela salvação dos homens e, ademais, de tal modo partícipe de suas dores que teria preferido padecer os tormentos que cruciavam o seu Filho, tal lhe fosse dado fazer" (S. Bonav., 1 Sent., d. 48, ad Litt., dub. 4). — Em conseqüência dessa comunhão de sentimentos e de dores entre Maria e Jesus, a Virgem fez jus ao mérito de se tornar legitimamente a reparadora da humanidade decaída (Eadmeri Mon., De Excellentia Virginis Mariæ,c. IX) e, portanto, dispensadora de todos os tesouros que Jesus nos adquiriu por sua morte e por seu sangue.

Maria, a Medianeira poderosíssima

9. Não se pode dizer, sem dúvida, que a dispensação destes tesouros não seja de alçada própria e particular de Jesus Cristo, porque fruto exclusivo de sua morte e por Ele mesmo, em virtude de sua natureza, o mediador entre Deus e os homens. Contudo, em vista dessa comunhão de dores e de angústia, já mencionada, entre a Mãe e o Filho, foi concedido à Virgem o ser, junto do Filho unigênito, a medianeira poderosíssima e advogada de todo o mundo (Pio IX, Bula Ineffabilis). O manancial, pois, é Jesus Cristo: E todos nós recebemos de sua plenitude (Jo 1, 16), do qual todo o corpo coligado e unido por todas as juntas que mutuamente se auxiliam, segundo a operação da medida de cada membro, efetua o aumento do corpo de si mesmo em caridade (Ef. 4, 16). Como nota com acerto S. Bernardo, Maria é, na verdade, o aqueduto (Serm. De Temp., in Nativ. B. V., De Aquæductu, n. 4); ou então, essa parte média que tem por missão unir o corpo à cabeça e transmitir àquele os influxos e eficácias desta, o que vale dizer: o pescoço. Sim, diz S. Bernadino de Sena, ela é o pescoço de nossa Cabeça, pelo qual comunica todos os dons espirituais a seu corpo místico (S. Bern. Sen., Quadrag. de Evangelio æterno serm. X, a. III, c. 3). Torna-se, por conseguinte, evidente que não atribuímos à Mãe de Deus uma virtude geradora da graça, virtude esta que é só de Deus. Contudo, porque Maria excede a todos em santidade e em união com Cristo, e por ter sido associada por Ele à obra redentora, ela nos merece de congruo, segundo a expressão dos teólogos, o que Jesus Cristo nos mereceu de condigno, sendo ela ministra suprema da dispensação das graças. Ele (Jesus) está sentado à direita da Majestade nas alturas (Heb 1, 3). Ela, Maria, está à direita de seu Filho: O refúgio mais seguro, o mais valioso amparo de quantos se acham em perigo; nada, pois, temos a temer sob sua conduta, seus auspícios, seu patrocínio, sua égide (Pio IX, Bula Ineffabilis).

10. Estabelecidos estes princípios, e para tornarmos ao Nosso propósito, quem não reconhecerá termos afirmado com justa razão ser Maria, companheira inseparável de Jesus desde a casa de Nazaré até ao Calvário, conhecedora mais que ninguém dos segredos do seu coração, dispensadora, como de direito materno, dos tesouros de seus méritos, tornando-se, por todos esses motivos, um auxílio certíssimo e muito eficaz para se chegar ao conhecimento e ao amor de Jesus Cristo? Ah! Esses homens que, seduzidos pelos artifícios do demônio ou enganados por falsas doutrinas, julgam poder prescindir do auxílio da Virgem, nos fornecem disto em sua prova assaz peremptória. Pobres infelizes, desconhecem Maria, sob pretexto de tributar honra a Cristo! Como se pudéssemos achar o menino de outro modo que não pela Mãe!

A nossa devoção a Maria Santíssima deve ser sincera


11. Sendo assim, Veneráveis Irmãos, este é o fim que devem visar sobretudo todas as solenidades que se estão preparando por toda parte em honra à Santa e Imaculada Conceição de Maria. Em verdade, nenhuma homenagem lhe é mais grata, nenhuma mais doce que o conhecermos e amarmos verdadeiramente Jesus Cristo. Encham, portanto, as multidões os templos, celebrem-se festividades pomposas, reine júbilo público: fatores estes eminentemente próprios para reacender a fé. Mas, se a isso não se ajuntarem os sentimentos do coração, outra coisa não teremos que puro formalismo, simples aparências de piedade. À vista deste espetáculo, nos lançará em rosto esta justa recriminação: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mt 15, 8).

A nossa devoção a Maria Santíssima deve ser eficaz

12. Enfim, para que o culto da Mãe de Deus seja de bom quilate deve ele promanar do coração; os atos exteriores não têm, aqui, nenhuma utilidade nem valor algum, se isolados dos atos da alma. Ora, esses atos têm um só escopo: que observemos plenamente o que o Filho divino de Maria nos ordena. Pois, se o amor verdadeiro é aquele que tem a virtude de unir as vontades, é de suma necessidade que possuamos com Maria esta mesma vontade de servir a Jesus Cristo Senhor Nosso. A recomendação que esta Virgem prudentíssima fez aos serventes de Caná, no-la dirige a nós: Fazei tudo o que Ele vos mandar (Jo 2, 5). Com efeito, eis a palavra de Cristo: Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos (Mt 19, 17). — Por isso, convençam-se todos que, se sua piedade para com a bem-aventurada Virgem não os preserva de pecar ou não lhes inspira o propósito de emendar uma vida culpável, essa piedade é falsa e mentirosa, porquanto desprovida de seu efeito próprio e de seu fruto natural.

13. E, se alguém desejar uma confirmação destes fatos, ser-lhes-á fácil busca-la no dogma mesmo da Conceição Imaculada de Maria. — Pois, abstraindo da Tradição, fonte de verdade tanto quanto a Sagrada Escritura, como é que esta convicção da Conceição Imaculada da Virgem foi, em todos os tempos, tão conforme ao senso católico, que pode ser tida como incorporada e inata à alma dos fiéis? Horroriza-nos dizer desta mulher — é a sublime resposta de Dionísio Cartusiano — que, devendo um dia esmagar a cabeça da serpente, tenha sido esmagada por ela e que, sendo Mãe de Deus, haja sido filha do demônio (III Sent., d. 1). Não, a inteligência do povo cristão não podia conceber que a carne de Cristo, santa, imaculada e inocente, tivesse seu princípio nas entranhas de Maria, duma carne que um dia tivesse contraído qualquer mácula, por um instante que fosse. E qual a razão disto, senão que uma oposição infinita separa Deus do pecado? Eis aqui, na verdade, a origem desta convicção comum a todos os cristãos: Jesus Cristo, mesmo antes que, revestido da natureza humana, lavasse nossos pecados com seu sangue, teve de conceder a Maria a graça e o privilégio especial de ser preservada e isenta, desde o primeiro instante de sua conceição, de todo o contágio da mancha original. Se Deus, pois, tanto detesta o pecado, que quis fosse a futura Mãe de Seu Filho isenta não só desses labéus que se contraem pela vontade, mas, por um privilégio especial, antevendo os méritos de Jesus Cristo, também desse outro, que assinala todos os filhos de Adão, como triste sinete de sua funesta herança, quem pode duvidar seja obrigação, de todos quantos desejam conquistar, por suas homenagens, o coração de Maria, corrigir os hábitos viciosos e depravados e vencer as paixões que os incitem ao mal?

14. Todos quantos querem, além disto — e quem não deve querer? — que sua devoção para com a Virgem seja digna dela e perfeita, deve ir mais avante, isto é, tender, com todas as suas forças, à imitação de seus exemplos. — Com efeito, é uma lei divina que alcançam a beatitude eterna somente os que reproduziram em si, por uma fiel imitação, a forma da paciência e da santidade de Cristo: "Porque os que conheceu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos". (Rom 8, 29). Mas geralmente tal é nossa enfermidade, que a sublimidade deste protótipo facilmente nos desencoraja. Além disso, foi uma atenção toda providencial de Deus propor-nos outro modelo tão próximo de Jesus Cristo, quanto é permitido à natureza humana e mesmo assim maravilhosamente adaptado à nossa fraqueza. Tal outro só pode ser a Mãe de Deus. Tal foi Maria, diz-nos S. Ambrósio, que sua vida só serve de lição a todos; donde ele tira a ilação mui acertada: Por isso tende presente, como pintadas em uma imagem, a virgindade e a vida da bem-aventurada Virgem, que reflete, qual espelho, o brilho da pureza e a própria forma da virtude (De Virginib., lib. II, c. II).

Devemos imitar todas as virtudes, especialmente a fé, a esperança e a caridade

15. Ora, se convém a filhos desta Mãe Santíssima não deixar de imitar nenhuma destas virtudes, desejamos, porém, que os fiéis se apliquem com preferência às principais, que são como que os nervos e as juntas da vida cristã, queremos dizer: a fé, a esperança e a caridade para com Deus e o próximo. Virtudes estas que assinalam a vida de Maria, em todas as suas circunstâncias, com um caráter fulgurante, mas que alcançaram o mais elevado grau de esplendor quando ela assistia seu Filho agonizante. — Jesus está cravado na cruz e por entre impropérios se lhe lança em rosto o ter-se feito Filho de Deus (Jo 19, 7); Maria, porém, lhe reconhece e adora a divindade, com uma constância inabalável. Morto, sepulta-O, mas não duvida um instante sequer de sua ressurreição. Quanto à virtude da caridade, que a inflama de amor a Deus, torna-a partícipe dos tormentos de Jesus Cristo, consociando-a à Paixão de seu Filho; com Ele, além disto, e como que empolgada pelo sentimento de sua própria dor, implora perdão para os carrascos, embora o ódio que os invade lance este grito: "que o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos" (Mt 27, 25).

O dogma da Imaculada Conceição é a condenação do Naturalismo

16. Mas, para que não se afigure termo-Nos afastado do mistério da Conceição Imaculada da Virgem, móvel desta Nossa carta apostólica, que de auxílios eficazes não se nos deparam aí, em sua própria fonte, para conservar estas mesmas virtudes e traduzi-las na prática, como convém! — Na verdade, donde partem os inimigos da religião para espalhar tantos e tão graves erros que solapam a fé de um número tão elevado? Começam por negar o primeiro pecado do homem e sua subseqüente decadência. Portanto, afirmam: o pecado original e todos os males que dele decorem são meras fábulas: as origens viciadas da humanidade, inquinando, por seu turno, todo o gênero humano; em conseqüência, o mal que se introduziu entre os homens, trazendo consigo a necessidade de um redentor. Uma vez rejeitados estes fatos, facilmente se compreende que não há mais lugar nem para Cristo, nem para a Igreja, nem para a graça e nem para o quer que transcenda a natureza. Em uma palavra, solapa o divino edifício da fé em seus fundamentos. — Ora creiam os povos e professem que a Virgem Maria foi preservada de toda mancha de pecado desde o primeiro instante de sua conceição: desde logo torna-se-lhes mister admitir o pecado original, a redenção da humanidade por Jesus Cristo, o Evangelho e a Igreja, enfim a lei do sofrimento. Em virtude disto, todo racionalismo e materialismo que campeia pelo mundo é arrancado e destruído em suas raízes, cabendo à sabedoria cristã a glória de ter guardado e defendido a verdade. — Além disto, é vezo perverso e comum a todos os inimigos da fé, sobretudo em nossa época, repudiar e proclamar que se devem repudiar todo respeito e toda obediência à autoridade da Igreja, mesmo de todo poder humano, na crença de que logo lhes será mais fácil banir a fé dos corações. Aqui está a origem do anarquismo, a mais nociva e perniciosa doutrina que possa existir, tanto na ordem natural quanto sobrenatural. Ora, tal peste, fatal tanto à sociedade como ao nome cristão, baqueia ante o dogma da Imaculada Conceição de Maria, pela obrigação que lhe impõe de atribuir à Igreja um poder em face do qual tem que se curvar não só a vontade, mas também a inteligência. Pois é em virtude de uma tal submissão que o povo cristão canta este louvor da Virgem: Toda bela és, Maria, e não há em ti a mancha original (Grad. Miss. in festo Imm. Concept.). — Daí se justifica uma vez mais o que a Igreja afirma da Virgem, dizendo que "só ela extirpou todas as heresias do mundo inteiro".

A Esperança

17. Se a fé, pois, segundo as palavras do Apóstolo, outra coisa não é senão o fundamento das coisas esperadas (Heb. 11, 1), convir-se-á sem dificuldade em que da mesma forma como a Imaculada Conceição da Virgem Maria confirma nossa fé, reanima-nos também a esperança. Tanto mais que, se a Virgem este isenta do pecado original, foi porque devia ser a Mãe de Cristo. Ela foi, pois, a Mãe de Cristo a fim de que nossas almas pudessem renascer para a esperança dos bens terrenos.

A Caridade

18. E agora, para não falar aqui da caridade de Deus, quem não encontraria na contemplação da Virgem Imaculada um incitamento a guardar religiosamente aquele preceito que Jesus Cristo fez seu por excelência, a saber: que nos amemos mutuamente como Ele nos amou? — E apareceu no céu um grande sinal — é nestes termos que o apóstolo S. João nos pinta uma visão divina — uma mulher vestida do sol, que tinha a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça (Apoc. 12, 1). Ora, ninguém ignora que essa mulher prefigura a Virgem Maria, que, sem violentar sua integridade, engendrou nossa Cabeça. E o Apóstolo continua: E, estando grávida, clamava com dores de parto e sofria tormentos para dar à luz (Apo. 12, 2). Por conseguinte, S. João vislumbra a Santíssima Mãe de Deus no seio da eterna beatitude e não obstante sofrendo as dores de um misterioso parto. Qual era, porém, este parto? Por certo o nosso, pois que, retidos ainda neste degredo, carecemos de nascer para o perfeito amor de Deus e a felicidade eterna. As dores do parto nos estão a demonstrar o amor ardente com que Maria zela e trabalha, lá do céu, por suas preces incessantes, a fim de levar o número dos eleitos à sua plenitude.

19. É Nosso desejo que todos os fiéis se esforcem por adquirir esta virtude da caridade, valendo-se sobretudo para tal fim das festas que vão celebrar em honra da Conceição Imaculada de Maria. Com que furor, com que assanhamento se ataca, em nossos dias, Jesus Cristo e a religião por Ele fundada! Que perigo, pois, atual e ameaçador, de muitos se deixarem levar pelas correntes invasoras do erro e perderem a fé! Logo, quem pensar estar de pé, veja que não caia! (I Cor 10, 12). Que todos, portanto, com o patrocínio de Maria, dirijam a Deus humildes e ferventes preces, a fim de que Ele reconduza ao caminho da verdade os que tiveram a desdita de se transviarem das suas veredas. Sabemos por experiência jamais ter sido vã a prece que brotasse da caridade e que se apoiasse na intercessão de Maria. Não resta dúvida, os ataques desferidos contra a Igreja jamais se darão tréguas, pois é necessário que haja heresias, para que os aprovados entre vós sejam manifestos (I Cor 11, 19). Mas a Virgem não deixará, por sua vez, de nos dar alento em nossas provações, por mais duras que forem, e de levar avante a luta que começou desde sua conceição, de maneira que diariamente podemos repetir estas palavras: Hoje ela esmagou a cabeça da antiga serpente (Off. Imm. Conc. in II Vesp., ad Magnificat).

Conclusão

Ao terminar, Veneráveis Irmãos, esta Nossa carta, queremos testemunhar de novo a grande esperança que aninhamos em Nosso coração, de que muitos, desgraçadamente separados de Jesus Cristo, retornarão a Ele, mediante as graças extraordinárias deste jubileu, por Nós concedido sob os auspícios da Virgem Imaculada, e que no povo cristão reflorirá o amor às virtudes e o ardor à piedade. Há cinqüenta anos, quando Nosso Predecessor Pio IX declarou de fé católica a Conceição Imaculada da Bem-aventurada Mãe de Jesus Cristo, viu-se, como relembramos, uma abundância inacreditável de graças a se esparzirem sobre a terra e um incremento de esperança a levantar por toda parte um progresso notável na religião antiga dos povos. Que há, pois, que nos impeça de esperar algo ainda melhor para o porvir? Atravessamos, certamente, uma época funesta, e assiste-Nos o direito de lançar esta queixa do Profeta: Não há verdade, não há misericórdia, nem há conhecimento de Deus nesta terra. A maldição, e a mentira, e o homicídio, e o adultério inundaram tudo (Os 4, 12). Entretanto, do meio desta como que aluvião de males, as vistas contemplam, qual arco-íris celeste, a Virgem clementíssima, árbitro de paz entre Deus e os homens. Porei o meu arco nas nuvens, e ele será o sinal de aliança entre mim e a terra (Gn 9, 13). Desencadeie-se embora a tempestade, e uma noite trevosa amortalhe o céu: ninguém vacile, pois com a vista de Maria se aplacará Deus e dará o perdão. E o arco estará nas nuvens, e eu me lembrarei da aliança eterna (Gn 9, 16). "E não voltarão as águas do dilúvio a exterminar toda a carne" (Gn 9, 15). Ninguém duvida que, se pomos Nossa confiança, como convém, em Maria, máxime quando celebrarmos com piedade mais ardente sua Imaculada Conceição, ninguém duvida, dizemos Nós, que sentimos ser sempre ela essa Virgem potentíssima a "esmagar com seu pé virginal a cabeça da serpente" (Off. Imm. Conc. B. M. V.).

Como penhor dessas graças, Veneráveis Irmãos, concedemo-vos no Senhor, com toda a efusão de Nosso coração, a vós e a vossos fiéis a Benção Apostólica.

Dado em Roma, junto de S. Pedro, aos dois de fevereiro de 1904, primeiro ano de Nosso Pontificado.



Minha vocação é o amor!...



Encontra, enfim, tranquilidade... Tomando em consideração o corpo místico da Igreja, não me identificava em nenhum dos membros descritos por São Paulo, por outra, queria identificar-me em todos eles. A caridade deu-me a chave de minha vocação. Compreendi que, se a Igreja tinha corpo, composto de vários membros, não lhe faltava o mais necessário, o mais nobre de todos. Compreendi que a Igreja tinha coração, e que o coração era ARDENTE DE AMOR. Compreendi que só o amor fazia os membros da Igreja atuarem, e que se o amor se extinguisse, os Apóstolos já não anunciariam o Evangelho e os Mártires se recusariam a derramar seu sangue... Compreendi que o AMOR ABRANGE TODAS AS VOCAÇÕES, ALCANÇANDO TODOS OS TEMPOS E TODOS OS LUGARES... NUMA PALAVRA, É ETERNO...

Então, no transporte de minha delirante alegria, pus-me a exclamar: Ó Jesus, meus amor, minha vocação, encontrei-a afinal: MINHA VOCAÇÃO É O AMOR!...

Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e tal lugar, ó meu Deus, fostes vós que mo destes... No coração da Igreja, minha Mãe, serei o amor... Assim serei tudo... Assim se realizará meu sonho!!!...


Santa Teresinha do Menino Jesus, História de Uma Alma

Comentário do Evangelho dia dia (24/05) feito por Beato João Paulo II



(1920-2005), Papa - Homilia da abertura do
Sínodo sobre a Família, 26/09/1980, §5


                                                  «Os dois serão um só»


Quando Cristo, antes da Sua morte, no limiar do mistério pascal, reza dizendo: «Pai Santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste, para que sejam um como Nós» (Jo 17,11), pede também de certa forma, e talvez de maneira especial, pela unidade dos esposos e das famílias. Ele reza pela unidade dos Seus discípulos, pela unidade da Igreja; ora, o mistério da Igreja é comparado ao matrimónio por São Paulo (Ef 5,32).

Assim, não só a Igreja deposita na família uma grande parte dos seus cuidados, mas também considera o sacramento do matrimónio, de certa forma, como o seu modelo. No amor de Cristo, seu Esposo, que nos amou até à morte, a Igreja contempla os esposos e as esposas que prometeram amar-se durante toda a vida, até à morte. E considera que tem o dever particular de proteger este amor, esta fidelidade e esta honestidade, assim como todos os bens que dela decorrem para a pessoa humana e a sociedade. É a família que propriamente dá vida à sociedade; é na família que, pela educação, se forma a estrutura da própria humanidade, de todos os homens deste mundo.

No Evangelho, [...] o Filho fala assim ao Pai: «Dei-lhes as palavras que Tu me tinhas dado: eles receberam-nas [...], e acreditaram que foste Tu que me enviaste. [...] Tudo o que é Meu é Teu e tudo o que é Teu é Meu» (v.8-10). Não é certo que o eco deste diálogo está patente no coração dos homens de todas as gerações? Que estas palavras constituem, em si próprias, o tecido da própria vida e da história de todas as famílias e, através da família, de todos os homens? [...] «Eu rezo por eles [...], por aqueles que Me deste, pois são Teus» (v.9).


Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário do Evangelho do dia (23/05) feito São Tomás de Aquino



(1225-1274), teólogo dominicano, Doutor da Igreja
Oração para pedir a sabedoria

                                                  «Tende sal em vós mesmos»


Concede-me, Deus misericordioso, que deseje com ardor o que Tu aprovas, que o procure com prudência, que o reconheça em verdade, que o cumpra na perfeição, para louvor e glória do Teu nome.

Põe ordem na minha vida, ó meu Deus, e permite-me que conheça o que Tu queres que eu faça, e que o cumpra como é necessário e útil para a minha alma. Que eu chegue a Ti, Senhor, por um caminho seguro e recto; caminho que não se desvie nem na prosperidade nem na adversidade, de tal forma que Te dê graças nas horas prósperas e nas adversas conserve a paciência, não me deixando exaltar pelas primeiras nem abater pelas segundas. Que nada me alegre ou entristeça, excepto o que me conduza a Ti ou de Ti me separe. Que eu não deseje agradar nem receie desagradar senão a Ti. Tudo o que passa se torne desprezível a meus olhos por Tua causa, Senhor, e tudo o que Te diz respeito me seja caro, mas Tu, meu Deus, mais do que o resto. Que eu nada deseje fora de Ti. [...]

Concede-me, Senhor meu Deus, uma inteligência que Te conheça, uma vontade que Te busque, uma sabedoria que Te encontre, uma vida que Te agrade, uma perseverança que Te espere com confiança e uma confiança que te possua enfim. Concede-me ser atormentado com as Tuas dores pela penitência, recorrer no caminho aos Teus benefícios pela graça, gozar das Tuas alegrias sobretudo na pátria pela glória. Tu que vives e reinas pelos séculos dos séculos.


Créditos: Evangelho Quotidiano

quarta-feira, 22 de maio de 2013

22 de Maio: Dia de Santa Rita de Cássia

22 de Maio: Dia de Santa Rita de Cássia


Santa Rita de Cássia foi uma filha obediente, esposa fiel e maltratada, mãe, viúva, religiosa, estigmatizada e uma das mais importantes santas da Igreja. Experimentou muitas coisas na sua vida, entre decepções, dores, sofrimentos, a glória dos sinais maravilhosos e dos milagres de Deus, a santidade e experiências místicas profundas... Mas o seu coração estava sempre voltado somente para Cristo.

Na região de Cássia, península de Úmbria, no meio das montanhas da região central da Itália, numa época marcada por guerras, terremotos, conquistas e revoltas, em que os desentendimentos entre nações, cidades e até vizinhos eram uma constante do dia-a-dia, vivia um casal de cristãos profundamente devotos, tanto que eram conhecidos como "Pacificadores de Cristo" na região. Antonio Mancini e Amata Ferri eram constantemente chamados para apaziguar querelas e problemas entre vizinhos, e a paz fazia-se pelas suas palavras. Gozavam de grande prestígio e autoridade no meio daquela gente por causa de suas virtudes. Ocupavam-se diariamente em visitar os mais necessitados, levando ajuda espiritual e material. Para que sua felicidade fosse completa, porém, faltava ao casal um filho que estreitasse ainda mais o seu amor.

Apesar da idade avançada de Amata, eles não deixaram de confiar em Deus, até que o Senhor atendeu às suas preces: em maio de 1381, veio ao mundo esta alma admirável, que foi batizada em Santa Maria dos Pobres, em Cássia, porque o pequeno povoado de Roccaporena, onde viviam, somente passou a ter uma pia batismal em 1720.

Consta de sua biografia que o nascimento de Santa Rita foi precedido por sinais, e o nome Rita, - diminutivo de Margarida (Margherita, em italiano), - foi revelado em visões por um anjo. E desde cedo verificou-se que Rita não era uma bebê qualquer. Quando Antônio e Amata iam trabalhar nos campos, colocavam sua filhinha em um cesto de vime que levavam, e abrigavam-na à sombra das árvores. Numa célebre passagem de sua vida, um dia, quando dormia em seu cesto, um grande enxame de abelhas brancas a envolveu, produzindo um zumbido especial. Muitas delas entravam em sua boca e aí depositavam mel, sem a ferroar, como se não tivessem ferrões. Nenhum gemido da criança aconteceu para chamar a atenção de seus pais; ao contrário, a pequena Rita dava gritinhos de alegria.

Enquanto isso, um lavrador que estava próximo feriu-se com uma foice, recebendo um grande talho na mão direita. Dirigindo-se imediatamente para Cássia a fim de receber os necessários cuidados médicos, ao passar perto da criança viu as abelhas que zumbiam ao redor de sua cabeça. Parou e agitou as mãos para livrá-la do enxame; no mesmo instante, sua mão parou de sangrar e o ferimento se fechou!

As abelhas, capítulo à parte

O enxame, disperso, retomaria mais tarde o seu papel: quando Rita foi para o Mosteiro de Cássia, as abelhas alojaram-se nas paredes do jardim interno. E durante duzentos anos após a morte de Santa Rita, ocorreu algo extraordinário: as abelhas brancas surgiram das paredes do mosteiro durante a Semana Santa de cada ano, permanecendo até á festa de Santa Rita, em 22 de maio, voltando à sua inatividade até à Semana Santa do ano seguinte. Até hoje as marcas das abelhas podem ser vistas nas paredes do Mosteiro de Cássia.

O Papa Urbano VIII, ao ter conhecimento do fato, pediu que lhe levassem uma das abelhas a Roma. Depois de a analisar, colocou-lhe um fio de seda e libertou-a. A abelha regressou ao mosteiro de Cássia, a mais de 100 quilômetros de distância. Este fato é relatado por todos os biógrafos da santa e transmitido pelas tradições e pinturas, que unanimemente a ele se referem. A Igreja, tão exigente para aceitar as devoções, insere esta circunstância nas lições do Breviário.

A vida de Santa Rita


Os pais de Santa Rita, sem nunca terem aprendido a ler e a escrever, ensinaram-lhe tudo sobre a vida de Jesus Cristo, a Virgem Maria e os santos. Para ela, o único livro era o crucifixo. Queria seguir a vida religiosa, mas seus pais, de idade avançada, escolheram-lhe um esposo, Paolo Ferdinando, com quem ela se casou para fazer a vontade dos pais.

Este casamento não foi feliz. Paolo era um homem dado à bebida, violento e abusador. Santa Rita foi-lhe fiel durante toda a sua vida de casada, sofrendo em silêncio e isolando-se para rezar. Deu à luz gêmeos, os quais herdaram do pai o temperamento.

Então, depois de vinte anos de casamento e oração da parte de Santa Rita, seu marido finalmente converteu-se e pediu-lhe perdão, prometendo mudar de comportamento. Ela perdoou-o e Paolo passou a companhá-la na oração. Mas esta felicidade foi efêmera: os inimigos do marido continuavam os mesmos; uma noite, Paolo não regressou a casa e Santa Rita esperou o pior. O marido havia sido assassinado, aparecendo o corpo na manhã seguinte.

Os filhos juraram vingar a morte do pai e as súplicas de Santa Rita não lhes faziam mudar de ideia. Como salvar suas almas era mais importante do que viver muito tempo neste mundo, Santa Rita rogou a Deus que salvasse as almas dos seus filhos antes que eles se perdessem por toda a eternidade no pecado mortal de um assassinato. Deus respondeu ao seu apelo, e ambos os filhos faleceram de uma doença mortal. Santa Rita sofreu muito, mas ficou convencida de que eles estavam no Céu, juntamente com seu pai.

Ao ver-se sozinha, não se deixou vencer pela tristeza e pelo sofrimento. Decidiu retomar sua antiga vocação e entrar para o Convento das Irmãs Agostinianas, tarefa que não foi fácil. As Irmãs não a queriam, porque tinha sido casada. Assim, Santa Rita voltou-se novamente para Cristo através da oração.

Ela transformou sua casa num claustro, onde rezava diariamente as orações habituais das religiosas. Numa noite, enquanto dormia, ouviu três fortes batidas à sua porta, e chamar o seu nome por três vezes. Abriu então a porta, e ali estavam Santo Agostinho, São Nicolau de Tolentino e São João Batista, de quem ela era devota desde pequena! Eles pediram a Santa Rita que os seguisse e, depois de percorrer as ruas de Roccaporena, no pico de Scoglio, onde ela ia sempre rezar, sentiu que a levantavam no ar e a empurravam suavemente para Cássia. Viu-se então por cima do Mosteiro de Santa Maria Madalena, em Cássia. Nesse momento, caiu em êxtase.

Quando saiu desse estado, encontrou-se dentro do Mosteiro. Testemunhas do milagre, as irmãs agostinianas e a madre superiora não puderam negar a sua entrada para a congregação. Foi finalmente admitida, e professou a sua fé nesse mesmo ano de 1417. Assim viveu 40 anos de consagração total a Deus.

Durante o seu primeiro ano, Santa Rita foi posta à prova. Foi-lhe dada uma passagem das Sagradas Escrituras (a do jovem rico) para que ela meditasse, e ela sentiu tocar seu coração as palavras "Se queres ser perfeita...". Foi-lhe também imposto pela madre superiora, como prova de obediência, que regasse todos os dias uma videira seca. Sem esboçar resistência, ela todos os dias aguava com dedicação aquele galho seco fincado ao chão, sem vida há muitos anos. Assim continuou até que, numa manhã, viram que a planta tinha germinado e se tornado novamente uma frutífera videira! Essa videira deu uvas, que foram usadas para o Vinho Sacramental, e até hoje continua viva e dando frutos.

Santa Rita meditava muitas horas sobre a Paixão de Cristo: os insultos, as rejeições, a ingratidão que sofreu até o Calvário, os açoites, a flagelação, a terrível morte na cruz... Durante a Quaresma de 1443, um pregador de nome Santiago Monte Brandone foi à Cássia, e fez ali um sermão sobre a Paixão de Cristo que tocou profundamente Santa Rita. Ao regressar ao Mosteiro, ela pediu fervorosamente a Deus para participar nos sofrimentos de Cristo Crucificado. Recebeu, então, o estigma da marca da Coroa de Espinhos em sua testa.

A maior parte dos santos que receberam esse Dom exalavam uma fragrância celestial. As chagas de Santa Rita, pelo contrário, exalavam um odor pavoroso, de tal modo que a santa, a partir daí, foi isolada de todos. Viveu então sozinha, durante 15 anos, longe das suas irmãs. Mas, quando ela quis ir à Roma, assistir ao Primeiro Ano Santo, foi-lhe dada uma trégua no estigma. Durante todo o tempo de sua peregrinação, o estigma da cabeça desapareceu. Ao regressar ao Mosteiro, porém, logo reapareceu, e ela foi isolada novamente.


No leito de morte, Santa Rita pediu a Deus que lhe enviasse um sinal que mostrasse que seus filhos estavam no Céu. Em meados do inverno, recebeu uma rosa do jardim perto da sua casa, em Roccaporena. Pediu, ainda, um segundo sinal, e desta vez recebeu um figo do jardim da mesma casa, no final do inverno.

Os últimos anos da sua vida foram de expiação. Uma doença grave manteve-a imóvel em sua cama durante quatro anos. Ela observou o seu corpo ser consumido pela doença em paz, mantendo sempre a confiança inabalável em Deus. Faleceu em 22 de maio de 1457. A ferida do estigma na testa desapareceu, dando lugar a uma mancha vermelha, que exalava uma fragrância extremamente agradável.


Devia ter sido velada no Convento, mas acorreu tanta gente para se despedir que acabou por ser velada na igreja. Ali permaneceu seu corpo, e a fragrância nunca desapareceu. Por essa razão, nunca a enterraram. O caixão de madeira original foi substituído por um de cristal, que foi exposto para veneração dos fiéis desde então. Multidões se deslocam em peregrinação para honrar Santa Rita de Cássia e pedir a sua intercessão perante o seu corpo, que permanece ainda hoje preservado da corrupção.


Santa Rita foi canonizada pelo papa Leão XIII aos 24 de maio de 1900. Nas imagens, é representada com uma mancha vermelha na cabeça, como símbolo do estigma que sofreu, e com um crucifixo nas mãos, seu único livro para tudo, símbolo daquele que foi seu único Mestre. Santa Rita de Cássia é chamada Santa dos Impossíveis: uma grande alma colocada no mundo como instrumento da Misericórdia de Deus em favor da humanidade sofredora.







Túmulo de Santa Rita de Cássia


Oração


Ó piedosa e santa Rita de Cássia, eis aqui aos teus pés uma alma confiante que, necessitando de auxílio, a ti recorre com a doce esperança de ser atendida por quem tem o título de Santa dos Casos Impossíveis e Desesperados. Ó, querida santa, intercedei junto a Deus para que me conceda a graça de que tanto necessito (faça o pedido)! Não permitas que tenha de me afastar de vossos pés sem ser atendido! Se houver em mim algum obstáculo que me impeça de alcançar a graça que imploro, auxilia-me para que o afaste. Envolve o meu pedido em vossos preciosos méritos e apresenta-o a vosso Celeste Esposo, Jesus, em união com a vossa prece. Ó Santa Rita, por teu intermédio espero tranquilamente a graça que peço! Rogai por nós. (Rezar um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e um Glória)


Fonte: Voz da Igreja

Imitação de Cristo III - Cap 11 - Como devemos examinar e moderar os desejos do coração



1 - JESUS: Filho, muitas coisas deves ainda aprender, que não sabes bem. A ALMA: Que coisas são estas, Senhor? JESUS: Que conformes completamente teu desejo a meu beneplácito e não sejas amante de ti mesmo, mas zeloso cumpridor de minha vontade. Muitas vezes se inflamam teus desejos, e com veemência te impelem; examina, porém, o que mais te move, se minha honra ou teu próprio interesse. Se for eu o motivo, ficarás bem contente, qualquer que seja o sucesso do empreendimento; mas, se lá se ocultar algum interesse próprio, eis que isto logo te embaraça e aflige.

2 - Guarda-te, pois, de confiar demasiadamente em preconcebidos desejos que tens sem me consultar, para que não suceda que te arrependas e te desagrade o que primeiro te agradou e procuraste com zelo, por te haver parecido melhor. Porém nem todo desejo que pareça bom logo devemos seguir, nem tampouco a todo sentimento contrário logo havemos de fugir. Convém, às vezes, refrear mesmo os bons empenhos e desejos, para que as preocupações não te distraiam o espírito; para que não dês escândalo por falta de discrição; para que, enfim, não te perturbe a resistência dos outros e desfaleças.

3 - Outras vezes, ao contrário, é preciso usar de violência e rebater varonilmente os apetites dos sentidos sem atender ao que a carne quer ou não quer, mas trabalhando por sujeitá-la ao espírito, ainda que se revolte. Cumpre castigá-la e curvá-la à sujeição, a tal ponto, que esteja disposta para tudo, sabendo contentar-se com pouco e deleitar-se com a simplicidade, sem resmungar por qualquer incômodo.


Tomás de Kempis, Imitação de Cristo

A devoção a Maria protege contra a fúria de Satanás




Oh! Quanto desagrada ao demônio a perseverante devoção de uma alma à Mãe de Deus! Afonso Álvarez, muito devoto de Maria, foi atormentado pelo demônio com violentas tentações impuras, uma vez que estava rezando. Deixa essa tua devoção para com Maria, disse- lhe o inimigo, que eu deixarei de tentar-te. Foi revelado a S. Catarina de Sena, como atesta Luís Blósio, que Deus concedera a Maria, em consideração a seu unigênito, a graça de não cair presa do inferno pecador algum que a ela se recomendar devotamente. O próprio profeta Davi pedia já ao Senhor que o livrasse pelo amor que tinha à honra de Maria: Senhor, eu amei o decoro da vossa casa...; não percais com os ímpios a minha alma (SI 25, 8).


Diz “vossa casa”, porque Maria foi certamente aquela casa que o próprio Deus se preparou na terra para sua habitação, e onde ao fazer-se homem achou seu repouso. Assim está escrito nos Provérbios (9,1): A sabedoria edificou para si uma casa. — Não se perderá certamente, dizia o Pseudo-Inácio, mártir, quem é fiel na devoção a essa Virgem Mãe. E isso confirma S. Boaventura com as palavras: Senhora, os que vos amam gozam grande paz nesta vida, e na outra não verão a morte eterna. Nunca sucedeu, nem sucederá, assegura-nos o piedoso Blósio, que um humilde e diligente servo de Maria se perca eternamente.


Oh! quantos permaneceriam obstinados e se condenariam para sempre, se não se houvesse Maria empenhado junto ao Filho para usar de misericórdia em favor deles!Eis como exclama Tomás de Kempis. A muitas pessoas mortas em pecado mortal alcançou de Deus a divina Mãe suspensão da sentença, e vida para fazerem penitência. Assim opinam muitos teólogos e especialmente S. Tomás. Disso referem graves autores muitos exemplos. Entre outros, Flodoardo, que viveu no século IX, fala em sua Crônica de um certo diácono Adelmano de Verdun, que, tido já por morto e prestes a ser sepultado, volveu à vida e disse ter visto o lugar do inferno ao qual já estava condenado. Obtivera-lhe, porém, a Santíssima Virgem, a graça de voltar ao mundo e fazer penitência. Caso idêntico refere Súrio de um cristão romano, por nome André. Tendo morrido na impenitência, alcançara-lhe Maria a graça de voltar ao mundo para ganhar o perdão de seus pecados.


Estes e outros exemplos, entretanto, não devem servir para autorizar a temeridade dos que vivem em pecado, confiados de que Maria os haja de livrar do inferno, ainda que morram impenitentes. Rematada loucura fora, certamente, lançar-se alguém para dentro de um poço, na esperança de ver-se livre da morte, porque Maria em caso semelhante já preservou a outros. Muito maior loucura seria, entretanto, arriscar-se alguém a morrer no pecado, presumindo que a Santíssima Virgem o preservará do inferno.

Sirvam tais exemplos para reanimar a nossa confiança, ao considerarmos que a intercessão de Maria é de tal poder que livra do inferno até aos que morrem em pecado mortal. Quanto maior não será então ele, para impedir que se perca quem nesta vida a ela recorre com intenção de emendar-se e é fiel em a servir! Digamos-lhe, pois, com S. Germano: Ó nossa Mãe, que será de nós que somos pecadores, mas nos queremos emendar e recorremos a vós, que sois a vida dos cristãos? Ouvimos S. Anselmo garantir, ó Senhora, que não se perderá eterna mente todo aquele por quem orais uma só vez. Rogai por nós, então, e seremos salvos do inferno.

Quem ousará dizer-me, escreve Ricardo de S. Vítor, que Deus não me será propício no dia do juízo, se estiverdes ao meu lado, ó Mãe de Misericórdia? — O Beato Henrique Suso protestava que às mãos de Maria havia confiado sua alma. Se o juiz tivesse de condená-lo, queria que passasse a sentença pelas mãos misericordiosas da Virgem porque, como esperava, nesse caso ficaria suspensa a execução. O mesmo digo e espero para mim, ó minha Santíssima Rainha. Por isso quero repetir continuamente com S. Boaventura: Em vós, Senhora, pus toda a minha esperança, por isso seguramente espero não me ver perdido, mas salvo no céu para louvar-vos e amar-vos para sempre.


Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria
Créditos: O Segredo do Rosário

terça-feira, 21 de maio de 2013

Martírio! Eis o sonho de minha juventude!





Martírio! Eis o sonho de minha juventude! O sonho que cresceu comigo à sombra dos claustros do Carmelo… Aí, também, percebo que meu sonho é loucura, pois não conseguiria limitar-me a desejar um só gênero de martírio… Para me satisfazer, precisaria de todos eles… Quisera, como tu, meu adorado Esposo, ser flagelada e crucificada… Como São Bartolomeu, quisera morrer esfolada… Como São João, quisera ser escaldada em azeite a ferver. Quisera submeter-me a todos os tormentos que Se infligiam aos mártires… Com Santa Inês e Santa Cecília, quisera apresentar meu pescoço á espada, e, como Joana D’Arc, minha querida irmã, quisera sobre a fogueira murmurar teu nome, ó JESUS… Pensando nos tormentos que serão a sorte dos cristãos na era do Anticristo, sinto o coração alvoroçar-se, e quisera que tais tormentos me fossem reservados… Jesus, Jesus, quisesse escrever todos os meus desejos, ser-me-ia necessário pedir emprestado teu Livro da Vida, onde se relatam todos os feitos dos Santos, e quereria tê-los praticado por amor a ti…

Ó meu Jesus! O que vais responder a todas estas minhas loucuras?... Haverá alma mais pequenina, mais impotente do que a minha?... Entretanto, justamente por causa de minha fraqueza, foi de teu agrado, Senhor, satisfazer plenamente meus pequenos desejos de criança, e hoje queres satisfazer outros desejos, mais vastos do que o universo…

Como, na oração, meus desejos me faziam passar por verdadeiro martírio, abri as epístolas de São Paulo, a fim de buscar alguma resposta. Dei com os olhos nos capítulos 12 e 13 da primeira epístola aos Coríntios… Li, no primeiro deles, que nem todos podem ser apóstolos, profetas, doutores etc… que a Igreja se compõe de membros diversos, e que o olho não poderia ser mão ao mesmo tempo… A resposta era clara, mas não satisfazia meus anseios, não me dava paz… Como Madalena insistia em debruçar-se por sobre o túmulo vazio e acabou encontrando o que procurava, assim também, debruçando-me até as profundezas do meu nada, ergui-me a tal altura, que pude alcançar meu objetivo… Sem esmorecer, dei continuação à leitura, e a frase seguinte consolou-me: “Aspirai, pois, aos DONS MELHORES, e mostrar-vos-ei um caminho mais perfeito ainda”. E o Apóstolo explica como todos os dons mais PERFEITOS não são nada sem o AMOR… que a caridade é o CAMINHO POR EXCELÊNCIA, o qual leva a Deus com segurança.


Santa Teresinha do Menino Jesus, História de Uma Alma
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