sábado, 12 de outubro de 2013

A Imaculada Conceição de Nossa Senhora explicada por Santo Afonso de Ligório | Parte 1 - Convinha ao Pai



Hoje, dia de Nossa Mãe Santíssima sobre o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, para celebrar, publicamos este sublime texto de um dos patronos desse blog, Santo Afonso Maria de Ligório, retirado do livro "Glórias de Maria". Santo Afonso, doutor da Igreja e grande propagador da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, escreveu este texto sobre a Imaculada Conceição de Maria Santíssima. O texto está dividido em partes para um melhor acompanhamento. Boa leitura! =)


***
 Santo Afonso

Quanto convinha às três pessoas divinas preservar Maria da culpa original 



Incalculável foi a ruína que o maldito pecado causou a Adão e a todo o gênero humano. Perdendo então miseravelmente a graça de Deus, com ela perdeu também todos os outros bens que no começo o enriqueciam. Sobre si e seus descendentes ao lado da cólera divina, atraiu uma multidão de males. Dessa comum desventura quis Deus, entretanto, eximir a Virgem bendita. Destinara-a para ser Mãe do segundo Adão, Jesus Cristo, o qual devia reparar o infortúnio causado pelo primeiro. Ora, vejamos quanto convinha às Três Pessoas preservar Maria da culpa primitiva. E isso por ser ela Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa de Deus Espírito Santo.
PONTO PRIMEIRO
Convinha ao Pai Eterno isentar da culpa original a Maria
1.É Maria a filha primogênita do Pai Eterno

Declara-o ela própria com as palavras do Eclesiástico: “Eu saí da boca do Altíssimo, a primogênita antes de todas as criaturas” (24,5)

Os sagrados intérpretes e os Santos Padres aplicam-lhe esse texto, e a própria Igreja dele se serve na festa da Imaculada Conceição.

Com efeito, é Maria a primogênita de Deus por ter sido predestinada juntamente com o Filho nos decretos divinos, antes de todas as criaturas. Assim o ensina a escola dos escotistas. Ou então é a primogênita, depois da previsão do pecado, como quer a escola dos Tomistas. São acordes, porém, uns e outros em chamá-la primogênita do Senhor. Sendo assim, era sumamente conveniente que Maria sequer um instante fosse escrava de Lúcifer, mas pertencesse sempre e unicamente a seu Criador.

Tal se deu em realidade, conforme as palavras da Virgem: “O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos” (Pr 8,22). Com razão, pois, lhe dá Dionísio, Arcebispo de Alexandria, o título de única e exclusiva Filha da vida, diferente das outras mulheres, que , nascendo em pecado, são filhas da morte. Criá-la em graça bem convinha, portanto, ao Pai Eterno.

2.A missão de reparadora do mundo perdido e de medianeira entre Deus e os homens apresenta o segundo motivo para a preservação da Virgem Maria
Assim a chamam os Santos Padres, especialmente S. João Damasceno, que diz: Ó Virgem bendita, nascestes para servir à salvação de toda a terra. Por isso, na opinião de S. Bernardo, foi a arca de Noé uma figura de Maria. Naquela fora livres os homens do dilúvio, tal como por Maria somos salvos do naufrágio do pecado. Há somente a seguinte diferença: por meio de Maria foi todo o gênero humano libertado. Daí o chamar-lhe o Pseudo-Atanásio “nova Eva, mãe dos vivos”. Nova Eva porque a primeira foi mãe da morte, mas a Virgem Santíssima é a Mãe da vida. S. Teófilo, Bispo de Niceia, diz À Senhora a mesma saudação: Eu vos saúdo, porque tiraste o luto no qual Eva nos amortalhou. S. Basílio nela saída a reconciliadora dos homens com Deus; S. Efrém, a pacificadora do mundo universo.

Ora é inconveniente que o intermediário da paz seja inimigo do ofendido, ou, pior ainda, que seja cúmplice do mesmo delito. Para aplacar um juiz, não se lhe pode mandar um seu inimigo, observa Gregório Magno. Este, em vez de o aplacar, mais o irritaria. Entretanto, Maria tinha de ser medianeira de paz entre Deus e os homens. Logo, absolutamente não podia aparecer como pecadora e inimiga de Deus, mas só como sua amiga toda imaculada. Mais um motivo reclamou que Deus preservasse Maria da culpa original.
3.Sua missão de vencedora da serpente infernal
Seduzindo esta a nossos primeiros pais, trouxera a morte a todos os homens. O Senhor por isso lhe predissera: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela (Gn 3,15). Ora, Maria devia ser a mulher forte, posta no mundo para vencer a Lúcifer. Não convinha certamente, então, que a princípio houvesse sido subjugada e escravizada por ele. Era, pelo contrário, mas razoável que permanecesse livre sempre de toda mácula e de toda sujeição ao inimigo. Esse espírito mau buscou sem dúvida, infeccionar a alma puríssima da Virgem, como infeccionado já havia com seu veneno a todo o gênero humano. Mas, louvado seja Deus! O Senhor a preveniu com tanta graça, que ficou livre de toda mancha do pecado. E dessa maneira pôde a Senhora abater e confundir a soberba do inimigo como declara S. Agostinho, ou quem quer que seja o autor do Comércio do Gênesis.

Sobretudo um motivo levou o Eterno Pai a tornar ilesa do pecado de Adão a esta sua Filha. Ei-lo:

4.A eleição dessa Virgem para Mãe de seu Filho unigênito
Assim fala S. Bernardo à Senhora: Antes de toda criatura fostes destinada na mente de Deus para Mãe do Homem-Deus. Se não por outro motivo, pois ao menos pela honra de seu Filho que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda mancha. Escreve S. Tomás: Devem ser santas e limpas todas as coisas destinadas para Deus. Por isso Davi, ao traçar o plano do templo de Jerusalém com a magnificência digna do Senhor, exclamou: Não se prepara a morada para algum homem, mas para Deus (1Cr 29,1). Ora, o soberano Criador havia destinado Maria para Mãe de seu próprio Filho. Não devia, então, lhe adornar a alma com todas as mais belas prendas, tornando-a digna habitação de um Deus? Afirma o Beato Dionísio Cartuxo: O divino artífice do universo queria preparar para seu Filho uma digna habitação, e por isso ornou a Maria com as mais encantadoras graças. Dessa verdade assegura-nos a própria Igreja. Na oração depois da Salve Rainha, atesta que Deus preparou o corpo e a alma da Santíssima Virgem, para serem na terra digna habitação de seu Unigênito.

Como é sabido, a primeira glória para os filhos é nascer de pais nobres. “A glória dos filhos (são) os seus pais” (Pr 17,6).

Por isso, na sociedade menos mortifica passar por pobre e pouco formado, do que ser tido por vil de nascença. Pois com sua indústria pode o pobre enriquecer, e o ignorante fazer-se douto com seus estudos. Mas quem nasce vil, dificilmente pode nobilitar-se, ainda que o consiga, está exposto a ver quem lhe atirem em rosto a baixeza de sua origem. Deus, entretanto, podia dar a seu Filho uma Mãe nobilíssima e ilibada da culpa original. Como então admitir que lhe tenha dado uma manchada pelo pecado? Como dar a Lúcifer o ensejo de exprobrar ao Filho de Deus a vergonha de ter nascido de uma Mãe que outrora fora escrava sua e inimiga de Deus? Não; o Senhor não lho permitiu. Proveu à honra de seu Filho, fazendo com que Maria fosse sempre imaculada. Assim a fez digna Mãe de tal Filho, como testemunha a Igreja Oriental.

Dom algum jamais concedido a alguma criatura, do qual não fosse enriquecida também a Virgem. É este um axioma comum entre os teólogos. Para confirmá-los eis as palavras de S. Bernardo: O que a poucos mortais foi concedido, não ficou sonegado À excelsa Virgem; nem sombra de dúvida pode haver nisso. S. Tomás de Vilanova assim depõe: Nenhuma graça foi concedida aos santos, sem que Maria a possuísse desde o começo em sua plenitude. Há, porém, entre a Mãe de Deus e os servos de Deus uma infinita distância, segundo a célebre sentença de S. João Damasceno. Logo, à sua Mãe terá Deus conferido privilégios de graças, em todo sentido maiores de quantos outorgou a seus servos. Forçosamente assim teremos de concluir com S. Tomás. Isto suposto, pergunta S. Anselmo – o grande defensor da Imaculada Conceição: - Faltaria poder à Sabedoria divina para preparar a seu Filho uma morada pura e para preservá-la da mancha do gênero humano? Pois, continua o Santo, Deus, que pôde eximir os anjos de céu da ruína de tantos outros, não teria podido preservar a Mãe de seu Filho, a Rainha dos anjos, da queda comum aos homens? E acrescento eu: Deus, que pôde conceder a Eva a graça de vir ao mundo imaculada, não teria podido concedê-la também a Maria?

Ah! certamente que sim! Deus podia fazê-lo, e assim o fez. Diz, por isso, S. Anselmo: A Virgem, a quem Deus resolveu dar seu Filho Único, tinha de brilhar numa pureza que ofuscasse a de todos os anjos e de todos os homens, e que fosse a maior imaginável possível, abaixo de Deus. Por todos os motivos, era isso conveniente S. João Damasceno exprime o mesmo pensamento com mais clareza: “O Senhor a conservou tão pura no corpo e na alma, como realmente convinha àquela que iria conceber a Deus em seu seio. Pois santo como ele é, procura morar só entre os santos. Portanto, o Eterno Pai podia dizer a esta filha: Como o lírio entre os espinhos, és tu, minha amiga, entre as filhas (Ct 2,2): Pois, enquanto as outras foram manchadas pelo pecado, tu fostes sempre imaculada e cheia de graça.
Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria
Fonte: Senzala da Imaculada

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